Após seis dias da morte de uma família dentro de um apartamento na Avenida Bento Gonçalves, na zona leste de Porto Alegre, a Polícia Civil busca esclarecer o que pode ter motivado um policial militar da reserva a cometer o crime. A 1ª Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), responsável pelo caso, segue aguardando o laudo pericial das mortes e da carta escrita pelo PM, além de ouvir novamente o único sobrevivente, filho do sargento. O caso ocorreu na casa em que a família morava, no bairro Agronomia, na última quinta-feira (28).
Conforme a investigação, o sargento aposentado da Brigada Militar (BM) Gilson Rogerio dos Santos Balbueno, 58, teria disparado contra a esposa, Silvia Rocha Balbueno, 50, e o neto dela, João Victor Rocha Castro, 14, que morreram no local. Depois, o policial teria cometido suicídio. O filho do casal, Filipi Balbueno, 27, também foi baleado pelo pai, mas conseguiu sair do apartamento e pedir socorro. Ele recebeu alta do Hospital de Pronto Socorro (HPS) da Capital na segunda-feira (2) e não corre risco.
Responsável pelo caso, a delegada Isadora Galian, titular da 1ª Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) da Capital, afirma que, conforme o relato de parentes, a família enfrentava problemas financeiros, mas não tinha histórico de violência ou desavenças dentro de casa. Ela afirma que familiares não observaram nenhuma mudança de comportamento por parte do policial, que pudesse indicar que ele enfrentava depressão, por exemplo.
— Os parentes ouvidos declararam que a família estava muito abalada por ter recebido uma ordem de despejo recentemente, que eles teriam também alguma dívida. Há o relato de uma crise financeira, mas nada que pudesse indicar, no comportamento dele, o cometimento de um crime. Segundo os relatos, tinham uma rotina normal, o casal tinha uma relação duradoura, sem histórico de violência nem nada do tipo. Inclusive ele tratava o menino, que é neto da esposa, como filho dele. O garoto o chamava de pai, era a referência dele — explica a delegada.
Até o momento, ao menos quatro familiares já foram ouvidos pelas equipes. O filho do casal, que sobreviveu, foi ouvido em três momentos diferentes, ainda no hospital, e deve prestar novo depoimento na delegacia.
A delegada disse que aguarda o resultado da perícia no local e nos corpos para confirmar mais informações sobre o crime.
— Nós iremos investigar, por exemplo, se as vítimas estavam sob efeito de alguma substância, se estavam acordadas ou dormindo, se reagiram ou não, se há indicativo de que alguma outra pessoa participou da ação, se foi mesmo o PM que efetuou os disparos. Até o momento, tudo indica que de fato se trata de dois homicídios e um posterior suicídio, mas os laudos são primordiais para que a gente conclua esse caso.
A polícia afirma que também não há indicativo, até agora, de que o homem tenha buscado atendimento psicológico. Uma carta localizada no apartamento, que teria sido escrita pelo sargento, foi enviada para a perícia para análise, assim como a arma utilizada no crime.
Sargento fazia bico
Na reserva da Brigada Militar desde dezembro de 2010, Balbueno se aposentou como 2º sargento. Ele ingressou na corporação em janeiro de 1984 e atuou, na maior parte do tempo, no 19º BPM, que atende a zona leste da Capital. Atualmente, para complementar a renda, ele fazia bico como segurança noturno em uma agropecuária perto de casa.
Conforme relato de familiares à polícia, Balbueno era apegado ao neto da esposa, João Victor.
Segundo o comerciante Douglas Abreu, responsável por uma padaria logo abaixo do apartamento onde ocorreu o crime, a família morava no local há cerca de cinco anos. Funcionários da loja afirmam que os quatro eram tranquilos e que nunca observaram algum tipo de briga ou discussão na família.
— Eles não eram de sair muito, eram bem discretos. Às vezes, o PM comentava sobre pescar, dizia que gostava, mas nunca foram de falar muito. A gente via direto o casal passeando com o neto e a cachorrinha, ali pela rua. É muito estranho, a gente nunca imagina que uma coisa dessas vai acontecer. Mas nunca se sabe o que as pessoas estão enfrentando, o que se passa na cabeça de cada um — comenta Abreu.
Foram os funcionários do local que ajudaram Filipi a pedir ajuda no dia do crime. Segundo Abreu, ninguém no comércio ouviu os tiros efetuados dentro do apartamento. Naquela tarde, segundo o relato, Filipi desceu as escadas do prédio cambaleando e pediu ajuda na padaria.
— Ele disse que o pai tinha disparado contra a família e que ele estava com um ferimento na cabeça. Ficamos assustados, ele estava sangrando muito, até pensamos que podia ter sido um assalto. Os funcionários ajudaram a acionar a polícia — lembra.
O jovem foi encaminhado ao HPS naquela tarde, onde ficou internado até a manhã de segunda-feira (2). Segundo o hospital, ele foi ferido superficialmente na região próxima ao ouvido.