Ex-moradora de um condomínio em Esteio, na Região Metropolitana, uma mulher viu o sonho da casa própria se transformar em pesadelo. Há dois anos, passou a ser hostilizada por um grupo dentro do residencial.
Mãe de dois filhos, ela foi ameaçada de morte na janela de casa, por um homem armado, que chegou a estilhaçar sua vidraça (assista acima). Suspeitos de integrar esse grupo foram alvo de ofensiva da Polícia Civil na manhã desta terça-feira (3), na Operação Capo, na qual 10 pessoas foram presas.
A mulher conta que outros moradores tiveram casas invadidas e precisaram deixar o local. Alguns colocaram seus imóveis à venda, na tentativa de escapar.
A investigação da Polícia Civil apontou que esse grupo dominou o residencial e era responsável por administrar empresas de segurança e de reformas. Tudo seria uma fachada, segundo a apuração, para o tráfico de drogas.
Uma das formas de atuação do grupo era a intimidação de quem vivia ali. Os momentos de terror fazem parte das memórias que ainda atormentam a ex-moradora. Ela conversou com GZH por telefone, sem identificar o local onde reside atualmente, fora do Estado.
— Disseram que eu falava demais e que se eu não parasse iam acabar comigo e com minha família. Eu tinha duas possibilidades: me calar e ser morta ou falar. E isso me daria a chance de alguém chegar neles e impedir que fizessem algo comigo. Entre os moradores, a lei do silêncio prevalece, pelo medo — diz.
Após a tentativa de invasão ao apartamento, que ela havia adquirido por meio do programa Minha Casa, Minha Vida, a moradora decidiu que era hora de buscar ajuda. Mas, para isso, precisou deixar para trás o local onde morava. Atualmente, diz que não tem planos de regressar.
O grupo alvo da operação desta terça-feira é investigado pelos crimes de tráfico de drogas, associação para o tráfico, corrupção de menores e coação do curso do processo (justamente em razão desta testemunha).
— Estava cansada de ver todo dia criança sendo envolvida no tráfico. Criança que podia estar fazendo outras coisas. Não quero aquilo para os meus filhos. No dia que aconteceu, eu não estava com meus filhos em casa, graças a Deus, porque o trauma que ia ficar na cabeça deles. Se eu senti pavor, pânico, imagina se meus filhos estivessem ali. Eu temo pela minha família. Mas eu sabia que o silêncio não era uma opção — afirma.
Segundo a delegada Luciane Bertoletti, responsável pela investigação, além desta mulher, outras pessoas também relataram as ações do grupo dentro do residencial. Nesta manhã, a polícia prendeu suspeitos de integrar o grupo e chegou a encontrar uma central de monitoramento dentro da casa de um dos alvos da ofensiva.
— Encontramos muitos documentos relacionados às empresas de manutenção, segurança, limpeza. Isso tudo comprova a dominação desse grupo — diz a delegada.
Contraponto
A advogada Michele Bresolin, que representa o homem apontado pela investigação como líder do tráfico no local e sua esposa, a síndica do prédio, ressaltou que os clientes foram ouvidos e que a investigação se baseia em denúncias anônimas de outros moradores que querem o posto de síndico. Com esse objetivo, conforme a advogada, afirmaram que um de seus clientes comanda um ponto de tráfico dentro dos condomínios. Bresolin ressalta que se tratam de boatos sem comprovação e de intrigas.
— Não é verdade, não tem participação nenhuma no tráfico e isso vai ser comprovado durante a instrução do processo — afirmou.
A advogada espera agora a delegada concluir o inquérito para entrar com os pedidos de liberdade.