A Polícia Civil recebeu nesta semana mais um laudo referente ao desaparecimento de um casal em Cachoeirinha, na Região Metropolitana. Rubem Heger, 85 anos, e a esposa Marlene Heger Stafft, 53, sumiram no fim de fevereiro. Roupas que estavam sendo descartadas pela filha do idoso foram encaminhadas para análise, mas nenhum vestígio de sangue foi localizado. A investigação aguarda ainda resultados de outras perícias.
Segundo o delegado Anderson Spier, da 1ª Delegacia de Polícia de Cachoeirinha, o sumiço do casal atualmente é investigado como homicídio. Os principais elementos que corroboram para isso é o tempo transcorrido sem qualquer contato com familiares e o estado de saúde do idoso – que sofria com enfisema pulmonar, necessitando de medicamentos regulares e de uso de oxigênio. Além disso, não houve qualquer movimentação bancária por parte dos dois desde o desaparecimento.
Uma filha do idoso, última familiar a estar na moradia do casal antes do sumiço, segue sendo investigada, assim como o filho dela. Nesta semana, a polícia recebeu um novo laudo da perícia, em peças de roupas e num material que se suspeitava que fosse o carpete do veículo apreendidos com a mulher.
— Ela estava levando essas roupas num saco para descartar. Isso que chamou atenção. Não tinha como não remeter para a perícia para tentar apurar se tinha alguma coisa que pudesse comprovar a existência de sangue. Ela disse que eram roupas velhas que ela ia se desfazer, doar. Mas como havia um abrigo que, segundo outros familiares, parecia com um usado pelo pai (Rubem), mandei todas as roupas para a perícia — explica o delegado.
No entanto, a perícia não encontrou nenhum vestígio de sangue nos materiais analisados. O veículo da filha também já havia sido periciado. No porta-malas chegou a ser encontrado sangue, mas a análise do Instituto-Geral de Perícias (IGP) apontou que não era sangue humano. Ainda são aguardados novos laudos para os próximos dias.
A residência onde vive a filha de Rubem, em Canoas, também passou por análise da perícia. Segundo o delegado, não foi encontrado nenhum vestígio de que o casal tenha passado pelo local, conforme alega a mulher. Ela diz que buscou os dois em Cachoeirinha e levou para permanecerem na casa dela e que, nesse período, eles desapareceram.
— Não tem ninguém que tenha visto eles em Canoas, nem vizinho, nada. Não tem nenhuma informação, nada de prova que eles tenham saído da casa ela. Procuramos as empresas de transporte por aplicativo e nenhuma foi utilizada — afirma o delegado.
A polícia ouviu ainda o fornecedor do oxigênio utilizado pelo idoso, já que havia divergência entre o que relatava a filha e outros familiares de Rubem. A mulher alega que o pai fazia uso esporádico e, por isso, foi até a casa dela sem o tubo de oxigênio e sem os remédios. Os demais parentes ouvidos afirmam que o idoso fazia uso regular.
— Ele tinha uma deficiência de saúde bem grave. Conseguimos os laudos, os prontuários médicos dele, e tinha uma doença bem avançada. O vendedor de oxigênio relatou que ele gastava cerca de três tubos por semana. Não conseguiria ficar dois meses sem oxigênio. Pelo estado de saúde dele, raramente saía de casa — afirma o delegado.
A polícia chegou a traçar a rota feita pela filha depois de sair da casa do pai em direção a Canoas, mas não foi possível identificar todo o percurso, já que em alguns pontos não há câmeras de segurança. Buscas foram realizadas em áreas de mato próximas deste trajeto, mas nada foi localizado até o momento.
Corpos encontrados
A polícia aguarda ainda a resposta sobre dois corpos encontrados no fim de abril em Osório, no Litoral Norte. Como estavam em avançado estado de decomposição, não foi possível identificar as vítimas. Junto a um dos corpos foi encontrado um documento em nome de outra pessoa, o que diminui as suspeitas de que possa ser o casal. Ainda assim, a confirmação depende do resultado da perícia.
Os dois corpos foram encontrados em uma área cercada por mato no bairro Santa Luzia. A polícia chegou ao local após relatos de moradores. As vítimas tinham marcas de disparos.
— Já fizemos a coleta com familiares do Rubem e da Marlene, então todo corpo que for encontrado e houver essa suspeita pode ser feita a comparação — explica o delegado Spier.
Filha nega envolvimento em sumiço
Nas duas vezes em que foi ouvida pela polícia — uma delas como testemunha e na outra como suspeita — a filha de Rubem negou envolvimento no sumiço do pai e da madrasta. A mulher alega que buscou o casal em Cachoeirinha para ir até a casa dela, em Canoas. Afirma que alguns dias depois estava em um posto de saúde, sendo atendida, quando recebeu uma mensagem dos dois afirmando que iriam visitar um amigo. Depois disso, ao retornar para casa, não teria mais encontrado o casal. O neto do aposentado permaneceu em silêncio no momento do depoimento na polícia.
Responsável por representar a filha do idoso no caso, o advogado Rodrigo Schmitt da Silva afirma que a cliente e Rubem mantinham boa relação.
— Já era esperado que não iriam encontrar nada na residência dela porque ela não teria nenhum motivo para fazer mal ao pai dela. Ele era inclusive quem ajudava ela a cuidar do filho doente. Até hoje segue um mistério para todos nós. E para ela é uma dor imensa— afirma.
O sumiço
Em 27 de fevereiro, uma filha de Rubem esteve na residência. Imagens de câmeras de segurança registraram o momento em que a mulher chega à casa, acompanhada do filho. Marlene abre o portão para que eles ingressem. Depois disso, não há mais nenhum registro de imagem do casal.
Durante o período em que a filha e o neto estiveram na moradia do casal, em Cachoeirinha, o veículo deles foi estacionado dentro da garagem e colchões foram colocados em frente ao carro, formando uma barreira, que impede a visualização do que acontece ali dentro. À polícia, a mulher disse que o pai pediu para que ela colocasse os colchões ali para que arejassem. Segundo a família, os colchões eram novos, ainda embalados.
Ao longo das imagens, a cachorrinha do casal também não aparece no vídeo. Quando os familiares chegaram na casa, dias depois, estranhando o sumiço dos dois, depararam com o animal morto no pátio. A causa da morte não chegou a ser identificada. Por volta das 15h40min do dia 27 de fevereiro, o veículo da filha de Rubem deixa a residência, mas não é possível saber se o casal está no automóvel.
Colabore
Quem tiver informações sobre o caso, que possam auxiliar a polícia, deve entrar em contato pelo telefone da 1ª DP de Cachoeirinha (51) 3470-1122 ou por meio do Disque Denúncia da Polícia Civil, no 181.