Os casos de mulheres que se dizem vítimas de Guilherme Selister, 27 anos, não param de aumentar após a divulgação de reportagem de GZH em 28 de março. Outras sete procuraram a reportagem para relatar suas rotinas de ameaças, pressão psicológica e prejuízos financeiros. O jovem conquista mulheres, principalmente na Serra gaúcha, para obter vantagens financeiras. Ele se passa por nutricionista, veterinário, engenheiro, cardiologista, bombeiro, militar do Exército e militar da Marinha para enganar as vítimas. Ele já foi indiciado em dois inquéritos - em Farroupilha e Caxias do Sul - por estelionato, cuja pena vai de um a cinco anos de prisão. Há um outro caso em que a vítima registrou ocorrência por estelionato contra ele em outra localidade no interior do Estado, mas decidiu não representar criminalmente contra Selister. Relata ter levado golpe de R$ 48 mil.
Em uma nova investigação, a delegada Thaís Norah Sartori Postiglione Peteffi, titular da 2ª Delegacia de Polícia Distrital de Caxias do Sul, adianta que ele será chamado para ser interrogado.
— É importante que as mulheres denunciem casos como esse. E que sempre desconfiem de situações como essa relatada na ocorrência. Ele será chamado para dar a sua versão dos fatos — ressalta a delegada.
A policial frisa, ainda, que além de registrar o boletim de ocorrência, é importante que a vítima decida representar criminalmente contra o suspeito.
— Primeiro porque vão ficando esses registros no boletim de antecedentes criminais dele. Dá um norte para investigações futuras. Se ele for condenado e venha a cometer um novo crime, sua situação na Justiça já é de um reincidente — esclarece a delegada.
Thaís explica que caso a vítima só queira registrar ocorrência, o caso fica arquivado. Mas isso pode ser retomado se a pessoa mudar de ideia e decidir representar criminalmente. A vítima tem seis meses para representar (contado a partir da data do fato).
— O delegado não pode, sob pena de abuso de autoridade, instaurar inquérito policial sem que haja essa manifestação da vítima de representar criminalmente — explica.
Neste caso, trata-se de uma mulher que conheceu Guilherme Selister numa academia da Serra gaúcha, mas os contatos iniciais para uma aproximação foram pelas redes sociais. Teve um prejuízo de cerca de R$ 70 mil. A vítima estava se separando quando o relacionamento começou. Para ela, disse que era médico e que fazia plantão em Porto Alegre. Conta que Selister ficou um tempo na casa dela. Que ficava mais tempo lá do que na residência dele. A vítima acabou revelando a ele que receberia uma quantia do ex-marido referente ao divórcio. Neste momento, passou a contar as mesmas mentiras sobre os problemas neurológicos e a necessidade de realizar procedimentos até a cirurgia. Também falava que receberia um dinheiro como indenização da Marinha.
— Sou uma pessoa bondosa e aí eu disse que iria ajudar ele. Foi então que fiz o primeiro Pix de R$ 10 mil.
Segundo ela, toda a semana ele dizia que iria para São Paulo fazer os procedimentos. Cada vez precisa de mais R$ 10 mil. Os primeiros R$ 30 mil foram despendidos em menos de dois meses. Depois, mentiu que tinha que tomar remédios caros. Mas ele nunca a deixava ir na farmácia ver os tais medicamentos. Ela conta que todas as manhãs injetava uma substância no braço dele que faria parte desses procedimentos anteriores à cirurgia. Ao final, após mandar analisar a substância, descobriu que se tratava de anabolizante. Tempos depois, numa conversa familiar, passou a desconfiar se Selister era mesmo médico. Acabou indo até uma delegacia, quando soube do histórico de registros de estelionato do então namorado. Após, marcou um café com o golpista para contar que sabia de tudo.
— Fui lá para dizer que eu sabia da verdade, que eu tinha sofrido um golpe e que eu queria meu dinheiro de volta. E ele me disse: eu não fiz crime nenhum, tu me deu porque tu quis, nunca te obriguei a me dar dinheiro. Se fosse crime, eu não estava solto — conta a vítima.
Investigações
A Polícia Civil investiga ou investigou Guilherme Selister em, pelo menos, quatro inquéritos:
Farroupilha
- Selister foi indiciado por estelionato por suspeita de aplicar golpe de R$ 70 mil em uma mulher. Inquérito está com o Ministério Público para análise.
Caxias do Sul
- Selister foi indicado por estelionato por suspeita de aplicar golpe de R$ 85 mil num casal sócio de uma academia. Ministério Público não pôde dar andamento, porque as vítimas decidiram não representar criminalmente contra ele.
- Selister é investigado por suspeita de aplicar golpe de R$ 70 mil em uma mulher. Ele será chamado para depor nos próximos dias.
Interior
- Um boletim de ocorrência foi registrado por uma mulher que diz ter sido vítima de um golpe de R$ 48 mil de Guilherme Selister. Conforme o relato, ele pediu o dinheiro para abrir uma clínica de Nutrição, o que nunca aconteceu, e o relacionamento terminou sem que ele pagasse o que havia pedido emprestado. Eles se conheceram por meio de um aplicativo de relacionamento. Neste caso, a vítima decidiu não representar criminalmente contra ele, o que impede a Polícia Civil de seguir com a investigação.
O que diz a defesa de Guilherme Selister
GZH entrou novamente em contato com o advogado de Guilherme Selister, Antonio Arbuggeri, que disse para manter a nota enviada para a primeira reportagem sobre o caso publicada em 28 de março:
"O cliente me passou que sempre esteve à disposição da Polícia Civil e da Justiça para esclarecer o ocorrido e que irá comprovar sua inocência na Justiça. Quanto aos fatos a ele imputados, disse que são descabidos e sem comprovação, e que não recebeu até o presente momento qualquer notificação judicial para dar sua versão dos fatos".