Um homem de 32 anos denunciou dois policiais militares por supostas agressões sofridas na noite da última terça-feira (8), em Osório, no Litoral Norte. O rapaz foi levado em um carro do bairro no qual mora até uma região afastada onde teria sido agredido e ameaçado com uma arma de fogo. Ele relata que foi abandonado inconsciente e voltou para casa na tarde de quarta-feira (9).
O caso foi registrado como tortura junto à Polícia Civil. Conforme o delegado João Henrique Gomes, titular da DP de Osório, testemunhas já foram ouvidas e serão analisadas as imagens que registraram o momento em que o rapaz foi levado. Um dos objetivos é a identificação dos supostos agressores.
— Se houve o caso, será encaminhando à Corregedoria da Brigada Militar. Estamos recebendo as imagens, estamos ouvindo as vítimas. A perícia já foi encaminhada ao DML (Departamento Médico-Legal). Vamos verificar se houve essa tortura e se realmente foram policiais. Os responsáveis ainda não foram identificados. É tudo muito prematuro e preliminar — pontua o delegado.
Por meio de nota, o comando do 8° Batalhão de Polícia Militar de Osório afirmou que “não possui dados concretos relativos à imagem que circula em redes sociais”. Contudo, após “comentários populares de que dois PMs estariam envolvidos no caso, o 8° BPM está providenciando Inquérito Policial Militar (IPM) para apurar os fatos”.
A GZH, a mãe da vítima relatou que os homens, que seriam policiais militares de folga, teriam visitado a residência onde a família mora por volta de 20h30min de terça-feira, uma hora antes de o filho ser levado. Segundo seu relato, o filho estaria alcoolizado em um bar próximo à residência, no bairro Medianeira, na região conhecida como Mutirão. Preocupada com sua demora, a mãe diz que saiu para procurá-lo. Como não o encontrou, ela registrou um boletim de ocorrência do desaparecimento.
No dia seguinte, ao chegar do trabalho no fim da tarde, o filho já estava em casa. Ele relatou que teria sofrido agressões. A mãe o levou até a unidade de pronto-atendimento (UPA) e, posteriormente, foi à delegacia registrar um novo boletim de ocorrência, desta vez, por tortura.
— Ele conta que foram agredindo ele desde aqui. Enquanto um batia nele, outro apontava uma arma. Ele disse que dentro do carro falaram “se tu gosta de bater nos outros, agora nós vamos te bater”. Ele desmaiou e acordou ao meio-dia em um lugar conhecido como Terra de Areia, perto de um lixão. Tinha uns cachorros em volta. Ele ainda estava meio tonto e caminhou para o lado contrário da cidade. Ele seguiu por uma estrada que dava em uma avenida de asfalto, onde um homem deu carona e deixou aqui na porta de casa, por volta de 16h — conta a mãe.
A mãe pontua que o filho é dependente químico e que já teria sido abordado outras vezes pelos mesmos policiais. Segundo ela, há outros relatos — inclusive do seu filho mais jovem, menor de idade — de pessoas que também teriam sofrido agressões dos PMs.
Na tarde desta quinta-feira (10), os defensores da VGA Advogados, que representam a família, conduziram mãe e filho até a Promotoria de Justiça de Osório. O Ministério Público deve abrir um expediente para averiguação dos fatos.
Câmeras registraram a abordagem
Câmeras de segurança de um estabelecimento comercial registraram o momento da abordagem. No vídeo, um homem aparece conversando dentro de um bar. Às 21h30min, um automóvel Peugeot de cor vermelha estaciona em frente à porta.
Do banco do carona, desce um homem alto vestindo uma camiseta de cor verde, bermuda bege e tênis esportivo. Ele se aproxima do homem no bar, o pega pelo braço e o coage a sentar no banco traseiro do automóvel. Ele fecha a porta dianteira e senta no banco traseiro, ao lado do rapaz que conversava no estabelecimento. Ele olha para os lados, fala alguma coisa e fecha a porta.