No fim de dezembro, o que parecia oportunidade de concorrer a um jantar num restaurante que seguia nas redes sociais se tornou transtorno para uma moradora de Porto Alegre. A secretária executiva Gisele Gomes, 48 anos, foi vítima de golpe aplicado por perfil falso na internet. Assim como ela, milhares de pessoas foram ludibriadas nessa e em outras trapaças aplicadas em 2021 no Rio Grande do Sul. Mais uma vez, os números de estelionatos tiveram salto. Em média, um registro foi realizado a cada seis minutos. Com 85.417 casos de golpes comunicados à polícia, o aumento é de 28% em comparação com o ano anterior.
Gisele seguia nas redes sociais o perfil de um restaurante que esperava conhecer algum dia na Zona Norte. O que não sabia, até então, é que a conta era falsa, criada para enganar usuários. Em dezembro, pelo Instagram, recebeu mensagem em nome do estabelecimento, informando que estava concorrendo a um jantar. Os golpistas avisaram que encaminhariam mensagem por SMS e que ela deveria copiar e colar o texto de volta na mesma conversa.
— Foi o que eu fiz. No outro dia, vi que não tinha mais acesso no Instagram. Até porque eu recebi um e-mail, informando que outro celular tinha entrado na conta — recorda.
O que ela não imaginava é que o transtorno ficaria maior. Além de perder o acesso à conta, começou a ser procurada por pessoas que acreditavam que ela estava vendendo produtos na internet. Pelo menos duas delas chegaram a adquirir móveis e eletrodomésticos anunciados pelos golpistas. No início de janeiro, GZH mostrou como esse tipo de trapaça tem crescido no Estado e se tornou o “golpe do momento”.
Por meio de outra conta, ela passou a alertar seguidores para que não comprassem nada do perfil hackeado. Ao mesmo tempo, tentou fazer a recuperação da conta antiga, mas ainda não conseguiu. Pelo WhatsApp acredita ter respondido cerca de cem mensagens de pessoas questionando sobre as supostas vendas.
— Queria poder ajudar as pessoas a não caírem nesse golpe, como aconteceu comigo. Podem estar vendendo para outras pessoas que me seguiam, mas que não tenho contato —preocupa-se Gisele, que registrou o caso na Polícia Civil.
Também pelo Instagram, a conta verdadeira do restaurante fez alerta aos seguidores sobre o perfil fake, pedindo para que denunciem o perfil. Atualmente, os golpistas ainda têm mais de 8 mil seguidores na conta falsa. Conseguir descobrir quem está por trás desse tipo de crime é um dos desafios para a Polícia Civil, na tentativa de frear os estelionatos no Estado.
— É um crime sem violência e sem grave ameaça. A responsabilização criminal, quando acontece, não vai ser de forma tão severa, em comparação a um roubo, por exemplo. Alguém que lá atrás praticava o roubo hoje está migrando para o estelionato. A vantagem patrimonial vem de forma fácil e rápida, e nos crimes praticados pela internet temos essa dificuldade de identificar autoria. É um processo de investigação moroso, que depende de autorizações judiciais, quebra de sigilo, informação por parte de operadoras, e isso tudo demora — detalha o subchefe da Polícia Civil, delegado Fábio Motta Lopes.
Os números alarmantes apontam que nos oito primeiros meses do ano, de janeiro a agosto, houve elevação nos casos de estelionato no RS. Em setembro, aconteceu a primeira ligeira redução, de 1%, com 75 casos a menos. Essa redução se intensificou para 9% em outubro, 10% em novembro e chegou a 25% no último mês do ano. Ainda assim, dezembro encerrou com média de 155 registros por dia no Estado. Por outro lado, esse número é bem inferior à média de todo ano de 2021, que foi de 234 casos comunicados à polícia por dia.
Uma das apostas da polícia para tentar reduzir esse tipo de crime tem sido focar em organizações criminosas responsáveis pelos golpes. As investigações buscam identificar toda a cadeia de pessoas envolvidas nas trapaças, desde quem coordena o esquema, que muitas vezes já está no sistema prisional, inclusive fora do Estado, até quem executa ou participa, servindo de laranja, por exemplo, para a abertura de contas onde são depositados os valores obtidos com as fraudes.
— Não deixamos de investigar as questões individuais, na medida do possível, mas temos tentando focar nessas associações criminosas, que agem no estelionato. Ao responsabilizar o maior número de pessoas e até bloquear determinados valores que foram repassados, se têm uma resposta mais satisfatória — analisa o delegado Motta Lopes.
Nessa linha, uma medida adotada no fim de 2020 foi concentrar na Delegacia de Polícia de Repressão aos Crimes Informáticos e de Defraudações, do Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic), investigações de golpes nos quais se identifique a participação de grupos criminosos organizados. Segundo o subchefe da Polícia Civil, em 2022 uma das metas é ampliar o número de agentes em atuação na delegacia.
Outra estratégia é tentar deixar as pessoas mais alertas para esse tipo de crime. Por isso, segue em uso o aplicativo da Polícia Civil, chamado PC Alerta, onde é possível conhecer quais as principais trapaças aplicadas e como se prevenir delas. O app, que pode ser baixado no celular, foi lançado em novembro de 2020 e atualmente conta com 24 tipos de golpes sobre os quais é possível obter informações. A ferramenta traz ainda dicas do que fazer se for vítima e acesso à Delegacia Online.
— Não existe vantagem fácil. É preciso desconfiar de tudo. Alertar a população é uma forma de contribuir para a redução, para que as pessoas fiquem atentas e não caiam nos golpes — afirma o delegado.
Como se proteger de alguns golpes
- Golpistas, em geral, oferecem vantagens para atrair a vítima e têm pressa para obter lucro. Fique atento a isso
- Na hora de comprar algo pela internet, desconfie se o site só aceitar pagamento por boleto ou transferência, se tiver falhas ou erros na página e se o único contato for por WhatsApp.
- Desconfie de publicações na internet que ofereçam serviços e bens por um valor abaixo do preço de mercado
- Não adquira produtos pela internet sem antes se certificar de quem está vendendo. Mesmo que seja um perfil conhecido, só efetue o pagamento após conversar diretamente com a pessoa
- No momento do pagamento, seja por Pix ou transferência, confira se o nome do destinatário é o mesmo de quem está adquirindo o produto
- Não repasse códigos recebidos no celular, por exemplo. Essa é uma das principais estratégias usadas para hackear contas no WhatsApp e no Instagram
- Certifique-se de que a pessoa com quem você está conversando, por WhatsApp por exemplo, é ela mesma. Para isso, uma dica é telefonar para a pessoa
- Desconfie de ligações de desconhecidos e nunca repasse informações pessoais
- Durante a venda de item, só entregue o produto após o dinheiro entrar na conta ou receber o valor. Não confie em comprovantes de transferência porque eles podem ser falsificados
- Se tiver um familiar idoso, oriente a pessoa sobre os golpes mais comuns e como se prevenir deles
- Caso seja vítima, registre a ocorrência. É possível utilizar a Delegacia Online
Fonte: Polícia Civil do RS.
Procurado por GZH, o Instagram informou que "trabalha na implementação de recursos capazes de barrar o acesso de hackers a contas de terceiros, em campanhas educativas de identificação e prevenção a esse tipo de ataque, bem como em ferramentas e processos para a recuperação de contas da plataforma. Esse é um trabalho de aperfeiçoamento contínuo", disse a plataforma. O Instagram repassou algumas dicas. Confira:
- Caso precise divulgar seu telefone nas redes sociais, para trabalho, por exemplo, evite usar o mesmo número para habilitar a recuperação de senhas das contas
- Não clique em links desconhecidos, especialmente se não tiverem sido ativamente solicitados por você pelos caminhos oficiais de marcas ou estabelecimentos
- Não compartilhe links ou códigos de acesso recebidos por e-mail, SMS ou WhatsApp. Eles podem ser o código de acesso à sua conta
- Ative a autenticação de dois fatores: com essa etapa extra de segurança, além da sua senha, você também receberá um código de acesso novo, no dispositivo de sua preferência, que deverá ser informado todas as vezes que iniciar um login na sua conta. Para ativá-lo, vá em Configurações>Segurança>Autenticação de dois fatores
- É possível habilitar a verificação em duas etapas da sua conta no Instagram por meio de aplicativo de verificação. É possível fazer isso acessando as configurações de segurança da conta
- A plataforma também disponibiliza a visualização de e-mails enviados oficialmente pelo Instagram no próprio aplicativo, para os usuários saberem que receberam uma mensagem autêntica em seu e-mail cadastrado
- Para conferir se o Instagram tentou entrar em contato com você, acesse as Configurações, Segurança e E-mails do Instagram
- Não clique em links de e-mails que afirmam ser do Instagram se não for possível confirmar que o Instagram realmente os enviou por meio desse recurso
- Verifique se seu número de telefone e e-mail estão atualizados no aplicativo
- Jamais informe sua senha a terceiros
- A recuperação de conta deve ser feita pelos caminhos indicados na Central de Ajuda do Instagram