A bordo de um Tiida prata, dois irmãos e a companheira de um deles se aproximaram de uma residência no bairro Niterói, em Canoas, no início da manhã da última quinta-feira (2). Quando se deram conta de que eram aguardados por policiais civis, fizeram última tentativa de fuga. A mulher saltou porta a fora, pulou um muro, e foi alcançada. O motorista acelerou o veículo, e avançou na direção das viaturas, mas teve o caminho bloqueado. Foi detido, assim como o carona. A prisão do trio se tornou fundamental para que no dia seguinte fosse localizado a 350 quilômetros dali o corpo de Amanda Albach, 21 anos, no litoral de Santa Catarina.
O caso, que levaria ao encontro do cadáver da jovem, iniciou com um desaparecimento. Amanda vivia na região metropolitana de Curitiba, no Paraná, em Fazenda Rio Grande. Saiu de lá para ir até Santa Catarina, onde passaria com um casal de amigos o feriado da Proclamação da República. Ficaria na casa deles, na praia de Itapirubá Norte, no limite entre Imbituba e Laguna. Em 15 de novembro, a família recebeu um áudio da jovem, no qual ela dizia que regressaria ao Paraná no dia seguinte, em uma corrida de aplicativo.
Amanda não cumpriu o prometido na mensagem, e o desaparecimento dela foi comunicado à polícia em 19 de novembro. A jovem costumava, quando viajava, manter contato diário com a família, o que tornou o caso mais suspeito.
Os policiais passaram a apurar com quem ela tinha estado até desaparecer. Vasculharam fotografias publicadas em redes sociais, em busca de locais onde ela tivesse passado e pessoas com quem manteve contato. O casal de amigos – que está entre os presos no RS – disse inicialmente que a última vez que tinham visto Amanda havia sido em uma festa na praia de Jurerê, Florianópolis.
A polícia conseguiu confirmar que Amanda realmente esteve em uma boate na capital catarinense, na noite do dia 14. No entanto, ela regressou para a moradia do casal e depois disso não foi mais vista. Algumas incongruências nos relatos dos três – do casal e do irmão – levaram a polícia a suspeitar que eles pudessem estar envolvidos no sumiço da jovem. Um dia após o desaparecimento de Amanda, os três deixaram Santa Catarina e seguiram para o RS – os dois irmãos são da Grande Porto Alegre e a jovem presa é natural de Curitiba, no Paraná. A fuga aumentou as desconfianças sobre os três. Os investigadores conseguiram descobrir um endereço onde o trio poderia estar.
Foi aí, na tarde de quarta-feira (1º), que os agentes da Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) de Canoas entraram na apuração. Os policiais foram até o endereço e perceberam que havia um veículo no local. Descobriram também que havia pessoas na residência, embora até aquele momento não fosse possível precisar que se tratava do trio investigado. Ainda assim, os policiais de Santa Catarina decidiram viajar até o RS durante a madrugada, para verificar se eram mesmo os suspeitos. Pediram apoio para a polícia gaúcha.
Três catarinenses se juntaram ao amanhecer a outros cinco da polícia do RS. Quando chegaram na casa, não havia movimentação. Minutos depois, o Tiida se aproximou da residência com os investigados a bordo. Após a prisão do trio, o veículo foi encaminhado para perícia, com uso de luminol, na tentativa de localizar algum vestígio do crime. Com os presos não foram encontradas arma e nem drogas. A casa também foi revistada, mas nada foi localizado.
Até onde a polícia conseguiu apurar, embora sejam gaúchos, os irmãos já viviam há algum tempo em SC e só teriam regressado ao RS agora. Esse apoio e troca de informações entre as polícias dos dois Estados é frequente, explica o delegado Robertho Peternelli, da DHPP de Canoas:
— Lamentamos a morte, mas em termos de trabalho destaco bem a integração entre as Polícias Civis. Não é a primeira vez que damos esse apoio, mas em muitos casos eles também nos deram apoio. Como foragidos, que são pegos em Santa Catarina. As polícias são bem integradas, e as trocas de informações são muito rápidas.
Além do veículo, os celulares dos presos também foram apreendidos pela polícia, na tentativa de encontrar mais pistas — até aquele momento Amanda ainda era considerada desaparecida, embora já houvesse suspeita de que ela pudesse ter sido assassinada. A confirmação aconteceu horas depois, quando os três foram levados para Santa Catarina ainda na quinta-feira e ouvidos. Um dos investigados acabou confessando o crime e apontou o local onde estava enterrado o corpo da jovem.
O vínculo
A polícia catarinense evita até o momento detalhar qual a participação de cada um no homicídio e os vínculos entre eles. Os nomes e idades dos detidos também não foram informados pela polícia. Os três tiveram prisão temporária decretada pela Justiça. Sabe-se, no entanto, que Amanda era amiga da jovem presa, que inclusive já havia residido na cidade natal da vítima. Amanda teria viajado para passar o feriado e também comemorar o aniversário dessa amiga. Um dos presos era companheiro da mulher presa e o outro cunhado dela.
— A Amanda desceu para passar o fim de semana com eles, porque ela estava trabalhando em Santa Catarina. Nesse fim de semana específico, ela foi em Imbituba. Elas (Amanda e a presa) já tinham uma relação de amizade bem anterior — detalha o advogado da família da vítima, Michael Pinheiro.
Amanda ficou na casa entre os dias 13 e 15 de novembro – o crime teria acontecido na noite de 15 novembro, por volta das 22 horas. Um dos homens presos confessou, segundo a polícia, que ele mesmo teria assassinado a jovem, após se irritar com ela por contar a outras pessoas que ele tinha envolvimento com tráfico de drogas.
O autor confesso teria apontado uma arma para Amanda e obrigado a jovem a entregar o celular. Dessa forma, teria confirmado que ela havia compartilhado as fotos de armas e drogas que estavam no interior da casa. Depois, teria obrigado a vítima a ingressar em um veículo e seguido até um ponto deserto da Praia de Itapirubá Norte, próximo da residência onde estava.
No local, Amanda chegou a enviar uma mensagem para a família onde afirmava que retornaria para casa no dia seguinte. No áudio, no entanto, era possível ouvir o som do vento e a voz da jovem causou estranhamento, pois aparentava nervosismo. Segundo a confissão do preso, Amanda foi obrigada a abrir a própria cova com uma pá. O autor confesso – que afirma ter agido sozinho durante o crime – disse que ele mesmo tapou o corpo após atirar contra a jovem.
Até o momento, a apuração aponta que o caso teria sido um fato isolado, a partir do desentendimento entre eles, sem a suspeita de participação de outras pessoas. Os investigados, segundo a Polícia Civil de Santa Catarina, devem ser indiciados pelo crime de homicídio qualificado, tortura e ocultação de cadáver.
O corpo de Amanda foi enterrado no último domingo (5) no Cemitério Municipal de Fazenda Rio Grande, no Paraná. A jovem era mãe de uma menina de dois anos.
— A família está muito abalada, chocada, pela forma como ocorreu o crime. Estamos trabalhando a parte psicológica deles. Da nossa parte, vamos a fundo nessa investigação, e buscar justiça para que sejam condenados pelo Judiciário de Santa Catarina — afirma o advogado da família de Amanda.