Após quase cinco horas, a reconstituição do assassinato do menino Miguel dos Santos Rodrigues, sete anos, foi finalizada na noite desta segunda-feira (8). O garoto desapareceu no fim de julho, em Imbé, no Litoral Norte, e a investigação apontou que ele foi assassinado.
A mãe Yasmin Vaz dos Santos Rodrigues, 26 anos, e a madrasta Bruna Nathiele Porto da Rosa, 23, estão presas pelo crime. As duas respondem na Justiça por homicídio, ocultação de cadáver e tortura.
— Elas mantinham a criança trancada por mais de um dia, em um roupeiro. Trancada num poço de luz. Ela foi morta dia após dia, não sendo alimentada, sendo dopada e agredida — disse o delegado Antônio Carlos Ractz Júnior.
A madrasta de Miguel, Bruna Nathiele Porto da Rosa, 23 anos, participou da reconstituição que foi feita conforme sua versão dos fatos. Ela prestou depoimento à polícia e, depois, acompanhou a perícia até a pousada onde ela, Yasmin e Miguel moravam.
O menino, de acordo com Bruna, foi morto na pousada e colocado em uma mala. Dali, os peritos começaram, por volta das 21h30min, o trajeto a pé que teria sido feito com a mala contendo o corpo de Miguel. Essa parte da perícia realizada na rua foi acompanhada de muitos populares, que gritavam palavras de ordem e contra as rés. Devido ao tumulto, Bruna seguiu esse caminho dentro da viatura.
Às 22h13min, a perícia chegou nas margens do rio Tramandaí, onde a madrasta demonstrou como criança foi arremessada nas águas. O corpo de Miguel não foi localizado até hoje.
Depois da reconstituição, a equipe seguiu para a Delegacia de Polícia, onde o delegado concedeu entrevista coletiva. Antônio Carlos Ractz Júnior disse que a madrasta manteve a mesma versão e não trouxe novidades ao caso. Ela alega que Yasmin matou o filho.
Bárbara Cavedon, uma das peritas envolvidas na reconstituição, relatou que Bruna disse não ter visto quando menino foi colocado na mala. Os advogados dela defendem que Bruna não participou do homicídio e que foi manipulada por Yasmin.
O laudo do IGP sobre perícia deve ser concluído em cerca de 30 a 60 dias.
Confira os passos da reconstituição:
Depoimento
A madrasta chegou à Delegacia de Polícia de Imbé às 17h27min, escoltada por agentes da Superintendência dos Serviços Penitenciários (Susepe). Bruna desembarcou em uma área aos fundos da DP, onde não pode ser vista pela imprensa. As advogadas de defesa, Helena von Wurmb e Fernanda Ferreira, já aguardavam no local. Foi com elas que a presa falou inicialmente, por cerca de meia hora.
Às 17h58min, foi a vez do Instituto-Geral de Perícias (IGP) desembarcar no local. Duas peritas foram as responsáveis por ouvir o depoimento de Bruna, que serviu de embasamento para a reconstituição realizada na sequência. A presa se manteve calma durante o depoimento. Além desta etapa da oitiva dela, outro perito foi responsável por fazer um levantamento aéreo, com uso de drone, do trajeto usado para transportar o corpo do menino.
Às 19h40min, quando a escolta deixou a DP para levar a madrasta até a pousada, onde teria acontecido o crime, conforme a versão de Bruna, moradores se aglomeravam no entorno do prédio, aguardando pela saída. O veículo da Susepe foi o último a deixar o local, atrás de uma fila de carros da Brigada Militar e Polícia Civil.
– Isso vai ser igual ao caso do menino Bruno, que nunca encontraram o corpo – opinou uma moradora, sobre outro episódio que marcou o município, com o desaparecimento do garoto há mais de 20 anos.
Local do crime
Após a escolta percorrer os 2,9 quilômetros até a pousada, Bruna desembarcou sob a proteção dos policiais. O perímetro no entorno do prédio foi isolado com auxílio da Guarda Municipal e Brigada Militar. Bruna, vestindo moletom branco, calça preta e chinelos, aguardou do lado de fora do apartamento, junto das advogadas, até ingressar no imóvel, onde demonstraria aos peritos como se deu o crime.
Ali dentro, Bruna narrou mais uma vez como teria acontecido a morte da criança. Em alguns momentos, disse não se recordar ou só ter ouvido parte das agressões, sem ter presenciado. Foi assim sobre o instante no qual Yasmin, segundo a versão da madrasta, teria quebrado os membros do filho para que ele coubesse na mala de viagem, onde seria transportado. Como Bruna disse não ter visto esse momento, o boneco não chegou a ser colocado na sacola.
No entorno da pousada, moradores empunhavam cartazes com pedidos de Justiça para o menino.
Caminho até o Rio Tramandaí
Às 21h17min, Bruna deixou a pousada, vestindo moletom de capuz cinza, cobrindo parte da cabeça. Ela caminhava ao lado de uma policial da DP de Imbé, que representava o papel de Yasmin e transportava a mala. Este foi o momento mais tensão da reconstituição. Assim que viram Bruna irromper pela Avenida Paraguassú, moradores esbravejaram, repetidas vezes: "assassina!"
Bruna chegou a parar no trajeto, em alguns momentos, enquanto os moradores seguiam gritando xingamentos. A situação levou o delegado Ractz Júnior a se aproximar da multidão e pedir que colaborassem com o trabalho da polícia e dos peritos. Na sequência, Bruna passou a alternar trajetos nos quais seguia dentro de uma viatura e outros, nos quais, andava pelas ruas, até chegar às margens do rio.
Nas proximidades do Rio Tramandaí, a madrasta indicou o local onde Yasmin teria aberto a mala e arremessado o corpo do filho. Como a mulher disse não ter certeza sobre o percurso realizado na volta, o trajeto de retorno não chegou a ser reconstituído.
Contrapontos
O que diz a defesa de Bruna
As advogadas Fernanda Ferreira e Helena von Wurmb também falaram à imprensa ao final da perícia. As duas reafirmaram que Bruna está colaborando com a investigação e que ela não contribuiu para o assassinato de Miguel.
— Ela não matou esse menino. Ela não participou. A própria Yasmin isenta a Bruna. A Bruna não participou — afirmou Fernanda. As advogadas alegaram ainda que Bruna era pressionada e manipulada por Yasmin.
— Ela nunca bateu no Miguel. Sempre cuidou dele — alegou Helena.
O que diz a defesa de Yasmin
O advogado Jean Severo, responsável por defender a mãe do garoto, afirma que ela não participará da perícia e que só falará à Justiça. O advogado afirma que poderia acompanhar a reconstituição, mas que a defesa optou por não ir a Imbé. Sustenta ainda que Yasmin é inocente e foi coagida a confessar o assassinato, quando ouvida na Polícia Civil. A polícia nega ter havido coação e afirma que ela teve depoimento acompanhada de advogado na época. Yasmin segue detida na Penitenciária Feminina de Guaíba.