Foi deflagrada na manhã desta terça-feira (26) uma operação no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina, Paraná e São Paulo com mais de 120 agentes da Polícia Civil, com apoio da Polícia Rodoviária Federal (PRF), contra uma quadrilha especializada em roubar cargas milionárias. Os criminosos tinham preferência por salmão e carnes nobres, além de queijos e chocolates importados.
O grupo tinha informações privilegiadas e, antes mesmo dos ataques, já possuía receptadores. São cerca de 40 integrantes que, entre 2016 e 2020, realizaram 15 roubos no Estado, com um prejuízo superior a R$ 10 milhões.
Foram cumpridas 42 ordens judiciais, sendo 20 de prisão. Até as 7h30min, 15 pessoas já haviam sido presas, sendo uma delas em flagrante.
A organização criminosa tem dois líderes, ambos já detidos. Um deles está em presídio catarinense, e o outro foi preso na Argentina. Os núcleos têm base na Fronteira Oeste gaúcha e no litoral norte catarinense.
Todas as informações foram obtidas e investigadas desde 2018 pelo titular da Delegacia de Roubo de Cargas do Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic), Alexandre Fleck. Segundo ele, a partir de dois ajudantes aduaneiros em Uruguaiana, os criminosos obtinham informações sobre produtos de alto valor que ingressavam no país.
— Eles conseguiam o tipo e a quantidade, além do valor total da carga. Basicamente era salmão. Só para ter uma ideia, cargas de 20 toneladas com valores de até R$ 1 milhão, em alguns casos — explica Fleck.
A polícia gaúcha confirmou os roubos no Estado, mas informa que são apurados vários outros ataques em Santa Catarina, Paraná e São Paulo.
Áudios revelam que quadrilha era violenta, movimentava grandes quantias em dinheiro e tinha receptadores específicos para cargas de salmão:
Ataques
De posse das informações repassadas por dois ajudantes de fiscal aduaneiro na Fronteira Oeste, ladrões gaúchos e catarinenses eram acionados. Eles se reuniam em menos de um dia e combinavam os locais dos assaltos. A maioria dos 15 roubos no Rio Grande do Sul ocorreu em estradas federais em Uruguaiana, São Borja e Ijuí.
O grupo armado usava dois veículos para abordar caminhões nestas estradas. Depois disso, um dos integrantes desligava o sistema de segurança do veículo, além de usar bloqueadores de sinal de GPS. A carga era levada até um local isolado, com o objetivo de fazer o transbordo dos produtos para outro caminhão. Fleck diz que a carga roubada geralmente era conduzida para Santa Catarina.
Os receptadores já eram previamente alinhados com a quadrilha e sabiam que receberiam os produtos antes mesmo de o roubo ocorrer, havendo inclusive a falsificação de notas fiscais para dar lastro à mercadoria. Os lucros eram distribuídos de forma organizada, já que um dos investigados tinha a função de ser o "tesoureiro" da quadrilha.
Investigação
Desde 2018 apurando o caso, Fleck contabilizou roubos entre 2016 e 2020. Segundo ele, em um dos casos, um dos líderes ganhou o benefício de duas saídas temporárias da prisão, ocasiões que aproveitou para participar de dois roubos de cargas de salmão, em março e maio de 2018. O homem chegou a fugir do sistema prisional, mas foi detido novamente por tráfico de drogas na Argentina.
No ano passado, o Deic fez a representação judicial de cerca de 40 prisões, mas, em virtude da decisão sobre o foro competente para o deferimento dos mandados, a polícia só obteve as ordens judiciais nos últimos dias. Mesmo assim, metade das prisões foi indeferida, mas Fleck destaca que, ao final do inquérito, todos os integrantes do grupo serão indiciados por roubo de cargas, entre outros delitos. Os nomes dos investigados não foram divulgados, o que deve ocorrer somente após a conclusão do trabalho policial.
Operação policial
De posse da autorização judicial, os 120 agentes cumpriram 22 mandados de busca e apreensão e 20 de prisão preventiva. No Rio Grande do Sul, as ações ocorreram em Porto Alegre, Canoas, Uruguaiana e Santana do Livramento. Em Santa Catarina, foram cumpridas ordens judiciais em Tijucas, Itapema, Itajaí, Porto Belo e Penha, além de Foz do Iguaçu, no Paraná, e em Presidente Prudente, em São Paulo. Em todas estas localidades havia suspeitos de participarem de ataques ou de receptação de cargas roubadas em rodovias gaúchas.