Um aluno e um professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) foram ouvidos no inquérito que apura um caso de racismo que teria sido cometido pelo doutorando em Filosofia Álvaro Hauschild na institução. Jota Júnior, que fez a denúncia à polícia, a namorada dele e um docente, que não teve o nome divulgado, prestaram depoimento nesta sexta-feira (8).
De acordo com a Polícia Civil, os relatos indicam que não é a primeira vez que Hauschild teria feito comentários racistas e também machistas. Segundo denúncias recebidas, há casos que teriam ocorrido tanto em sala de aula quanto em conversas em redes sociais, incluindo um episódio de 2018.
— Não são, necessariamente, ofensas. Parece que o investigado tem determinado padrão, procurando e abordando mulheres com perfil específico, normalmente de forma mais reservada, como fez com a namorada de Jota. Mas, em outras oportunidades, ele também já externalizou essas ideias de forma pública. Ele traz, no discurso, a questão da raça como um todo, além de ter posicionamentos antifeministas, misóginos. É contra a miscigenação, a favor da pureza das raças — explica a titular da delegacia de Combate à Intolerância, Andrea Mattos.
Segundo Andrea, alguns colegas, principalmente, mulheres, relataram que se sentem intimidadas pelo comportamento do bolsista.
Além da suspeita da prática do crime de racismo, a delegada afirma que investiga também se Hauschild teria incitado o preconceito, ao tentar "convencer" outras pessoas sobre suas posições:
— Na lei, nós temos os termos praticar, induzir ou incitar à discriminação. E acredito que ele tenha instigado a namorada da vítima também, pois tenta convencê-la de que a relação entre pessoas brancas e negras seria algo errado. Entendo que ele tenta induzir, incitar essa ideia, inclusive em materiais que teria publicado na internet — explica a delegada.
Júnior e a namorada já haviam sido ouvidos inicialmente, no momento do registro da ocorrência. Mais testemunhas devem prestar depoimento na investigação, que deve ser concluída nas próximas semanas. Hauschild também deve ser chamado para prestar novo testemunho.
Além do registro na polícia, Júnior também fez denúncia junto à UFRGS. A universidade afirma que deve encaminhar um processo disciplinar para investigar o caso.
O caso ficou conhecido depois que Júnior expôs, na semana passada, conversas que teve com o bolsista. Hauschild fez contato, pelo Instagram, com a namorada do estudante e passou a afirmar que ela estaria "passando vergonha" e fazendo "caridade" por se relacionar com o estudante. Júnior relata que percebeu que o nível das mensagens indicava racismo, e pediu para a namorada que seguisse conversando com o doutorando. O graduando diz que ele e a companheira não conheciam Hauschild antes do episódio.
Na conversa, o doutorando questionou a namorada de Júnior sobre como seriam os filhos dos dois e afirmado que a jovem seria "descendente de vikings". Além disso, afirmou que a pessoa negra "exala um cheiro típico, libera substâncias no ambiente e na troca com parceiros". Mas que isso poderia ser resolvido se a jovem "ficar alguns anos sem se relacionar com negros" e "então pode ter a certeza de que não haverá influência".
O que diz Álvaro Hauschild
GZH tenta contato com o doutorando para contraponto. Na última semana, no Instagram, ele divulgou nota após a repercussão do caso: "Fizeram uma postagem me caluniando. Os autores inclusive me bloquearam. Tudo será resolvido de maneira limpa segundo a lei."
Em nota, em postagem na quinta-feira (7), o bolsista fez um pedido de desculpas.
"Peço desculpas a todos aqueles a quem ofendi e também ao meu acusador (...) por tê-lo feito se ofender por questões raciais e palavras que lhe tenham causado mal estar. De fato, ofendi meu acusador com expressões de desprezo e gostaria de me retratar. (...) A muitos parece que a mensagem desrespeita pessoas negras e, mais uma vez, peço desculpas se assim, de fato, lhes ocorreu. Não houve esta intenção."