Estudante do curso de Políticas Públicas da Universidade Federal do Estado (UFRGS), Jota Júnior, 24 anos, acusa o aluno Álvaro Hauschild, que cursa doutorado em Filosofia na mesma instituição, de racismo. Em uma publicação nas redes sociais, que registrava quase 35 mil curtidas até as 18h15min desta sexta-feira (1º), Júnior expôs o que seriam conversas que teve com o bolsista. Para ele, o caso se trata de racismo, além de indicar ideais nazistas.
No Instagram, Hauschild divulgou uma nota após a repercussão do caso: "Fizeram uma postagem me caluniando. Os autores inclusive me bloquearam. Tudo será resolvido de maneira limpa segundo a lei." GZH tenta contato com o doutorando para contraponto.
Conforme Júnior, as ofensas começaram quando sua namorada recebeu mensagens de Hauschild, no que seria uma tentativa de flerte, afirmando que ela estaria "passando vergonha" e fazendo "caridade" por se relacionar com o estudante. Júnior conta que percebeu que o nível das mensagens indicava racismo, e pediu para a namorada que seguisse trocando mensagens com o doutorando. Júnior afirma que ele e a companheira não conheciam Hauschild antes do episódio.
— No começo, achei que seria só mais uma mensagem, como tantas que recebemos, com comentários negativos sobre mim. Mas percebi que era diferente, porque ele passou a falar sobre pureza, inocência, termos que muitas vezes são usados para defender ideais racistas e nazistas. Ele não ofendeu só a mim, o que poderia ser considerado injúria, ele se refere a pessoas negras de forma geral, o que é racismo. E eu segui falando com ele (pelo Instagram da namorada) para provar isso — conta.
Júnior relata ainda que, após ter feito a publicação denunciando o suposto caso de racismo, recebeu mensagens de outras pessoas que dizem também terem sido abordadas por Hauschild:
— Ele sempre traz a questão racial, com abordagens muito parecidas. Como que tentando recrutar as pessoas para manter uma ideia de sangue puro, superior. É algo asqueroso. Não há nada que eu me orgulhe mais na vida do que ser negro. Acredito que isso me oferece uma base histórica e força espiritual para seguir em busca dos meus ideais.
Nas supostas mensagens entre os dois, postadas nas redes, Hauschild teria questionado a namorada de Júnior sobre como seriam os filhos dos dois e afirmado que a jovem seria "descendente de vikings"
"Se a mistura influencia? Mas é óbvio. Isso significa que teus filhos vão perder uma enorme carga genética prussiana. Tu como médica deve saber ainda que europeus têm gens recessivos e negros gens dominantes em boa parte do código genético. Isso significa que o povo europeu é o que é porque foi guerreiro e se purificou, se defendendo contra invasores".
Hauschild também teria dito que a pessoa negra "exala um cheiro típico, libera substâncias no ambiente e na troca com parceiros". Mas que isso poderia ser resolvido se a jovem "ficar alguns anos sem se relacionar com negros" e "então pode ter a certeza de que não haverá influência".
Além da postagem nas redes, Júnior afirma que também registrou ocorrência na polícia, fez denúncia junto à UFRGS e irá entrar com ação na Justiça pelo crime de racismo:
— Eu espero que ele perca a bolsa de doutorado e qualquer tipo de vínculo com a universidade. Além disso, que seja responsabilizado criminalmente por esse ato. Essa conduta não pode ser aceita. A forma como ele argumenta é muito robusta, ele tem uma oratória muito forte, e usa isso para defender ideias absurdas.
O que diz a UFRGS
A universidade afirmou que avalia a denúncia recebida do aluno de graduação para decidir se abrirá processo disciplinar para investigar o caso. A instituição também afirmou que já havia recebido outras denúncias referentes a conteúdos que Hauschild postou em suas redes.
"Em razão de mensagens que circulam nas redes sociais envolvendo relatos de que um estudante de curso da UFRGS haveria feito manifestações ofensivas, a Secretaria de Comunicação Social esclarece que a Instituição repudia qualquer forma de discriminação. Ressalve-se que, no caso em questão e em toda situação congênere, esta tipificação somente poderá ser caracterizada após a avaliação pelas instâncias competentes, condicionada inicialmente à decisão da direção do curso ao qual o estudante esteja vinculado pela abertura ou não de procedimento investigatório", disse a universidade em nota.
O que diz a Polícia Civil
De acordo com a titular da Delegacia de Polícia de Combate à Intolerância, Andrea Mattos, após o registro de Júnior junto a polícia, feito na quinta, ele e a namorada já foram ouvidos.
A polícia pretende ouvir Hauschild na próxima semana. Conforme a delegada, ele também registrou uma ocorrência contra Júnior, por calúnia, nesta sexta.