Uma operação policial foi deflagrada nesta terça-feira (14), em quatro cidades gaúchas, para desarticular um esquema de telentrega de drogas realizado a partir da zona norte de Porto Alegre para todo o Rio Grande do Sul. E, mais uma vez, o tráfico estava sendo comandado de dentro da cadeia.
Segundo a Polícia Civil, um detento do Presídio Central usava o próprio celular para fazer videoconferências com os integrantes do grupo e até mesmo para monitorar em tempo real as imagens dos pontos de venda de drogas. A quadrilha ainda usava drones para encaminhar entorpecentes a presídios.
Participaram da chamada Operação Planalto cerca de cem agentes para cumprir 21 mandados de busca e seis de prisão preventiva na Capital e em Cachoeirinha, Viamão e Capão da Canoa. Até as 7h, a polícia já havia prendido quatro suspeitos.
Entre os investigados, há dois líderes do grupo criminoso que agia a partir do bairro Jardim Itú-Sabará, zona norte da Capital. Um deles é o apenado que está na primeira galeria do pavilhão B do Presídio Central, sendo o responsável pelas reuniões online e pelo monitoramento dos pontos de drogas por meio de câmeras de segurança, como na Rua Carlos Salzano Vieira da Cunha, no Jardim Itú-Sabará. Conforme inquérito, os criminosos reclamavam, em troca de mensagens, da presença de viaturas da Brigada Militar nesta via. O outro investigado estava no Litoral, conforme a investigação, após romper tornozeleira eletrônica em julho deste ano.
Em troca de mensagens interceptada pela polícia, o preso conversa com um integrante da facção sobre a videoconferência:
"Pega a grana e larga com qualquer viciado para vender, daí eu tenho que ir na videochamada com o viciado que treina eles. Daí tenho que mudar e evoluir".
INVESTIGADO
Troca de mensagens entre presidiário e integrante da facção
Outro investigado teria como função controlar o uso de drones para envio de drogas ao sistema prisional, principalmente em Charqueadas.
Investigação
Após a prisão de um traficante com 34 quilos de drogas em Cachoeirinha, em maio deste ano, os agentes da 1ª Delegacia do Departamento de Investigações do Narcotráfico (Denarc) conseguiram provas suficientes para descobrir todo o esquema de venda de entorpecentes. O delegado Thiago Bennemann, que instaurou inquérito sobre o caso, diz que os mandados de prisão desta terça-feira são somente para os líderes e gerentes da organização criminosa, que faz parte de uma grande facção.
— Descobrimos que eles tinham até uma lancheria na zona norte da Capital para disfarçar a telentrega de cocaína como se fosse de hambúrgueres — ressalta Bennemann.
Lavagem de dinheiro
A polícia descobriu que outro investigado é um gerente de finanças do grupo. O homem comprou até mesmo uma revenda de veículos e adquiria os carros com valores obtidos com o tráfico. Os agentes destacam que os veículos serviam para capitalizar a venda de drogas, já que também eram utilizados como moeda de troca, além de servirem ao uso particular dos criminosos ou para transporte de entorpecentes.
Outro investimento, além da lancheria, foi em um açougue. Bennemann diz que todas as provas obtidas confirmam ainda que o objetivo da facção foi migrar para a telentrega. Tanto é que a droga vendida por este sistema tinha um valor mais alto.
A quadrilha vendia basicamente cocaína, mas também havia crack, maconha e ecstasy. O diretor de Investigações do Denarc, delegado Carlos Wendt, destaca ainda que irá acionar a Superintendência dos Serviços Penitenciários (Susepe) durante as investigações para impedir o acesso de drogas em presídios por meio de drones.
— Vale destacar que eles se vangloriavam da droga vendida, dizendo que era a cocaína mais pura, com selo e tudo, informando que traficantes do Estado inteiro adquiriam com eles — diz Wendt.
Como a investigação continua, o diretor do Denarc, delegado Vladimir Urach, diz que não pode repassar nomes de presos e de estabelecimentos comerciais investigados, contudo ressalta que o foco tem sido cada vez mais atacar as lideranças de facções. GZH apurou que o detento do Presídio Central, suspeito de comandar o esquema, é Marcelo Burgmaer e tenta contato com a defesa dele para contraponto.