Os cinco policiais militares que aparecem nas imagens que mostram ação da Brigada Militar que resultou na morte do policial federal rodoviário aposentado Fábio Zortea, 59 anos, em Torres, na madrugada de segunda-feira (23), são investigados pela Polícia Civil. Dois deles por homicídio doloso — quando há intenção matar. Os irmãos Fábio Augusto Zortea e Luca Zortea também são considerados investigados.
O vigia que nas imagens aparece auxiliando a atuação da BM, por enquanto, figura como testemunha. O profissional já prestou depoimento e terá sua conduta avaliada.
— A partir da análise do fato vamos estabelecer as responsabilidades de cada pessoa. Se tem ou não participação na morte — afirmou a delegada regional Sabrina Deffente em coletiva de imprensa no começo da tarde desta terça-feira (24).
O subchefe de Polícia Fabio Motta, que se deslocou de Porto Alegre até o Litoral Norte, prometeu isenção e imparcialidade na apuração. Parte da cúpula do Ministério Público (MP) também está em Torres acompanhando a apuração do crime, entre eles o subprocurador geral de Justiça para Assuntos Institucionais, Júlio César de Melo, o coordenador do Núcleo de Inteligência do MP, Reginaldo Freitas da Silva, e o coordenador do Centro de Apoio Operacional Criminal, Rodrigo Brandalise.
O desafio do trabalho da Polícia Civil será mostrar o que aconteceu até o momento da abordagem da BM, detalhando a dinâmica dos fatos que não está coberta por imagens.
— Tem uma situação inicial que gera a abordagem feita pela BM. E um segundo momento, que está interligado, que é o pós-abordagem. Muitas imagens já foram divulgadas, mas não são imagens completas. Não nos dão o início da abordagem até o instante final que aquelas pessoas acabaram sendo retiradas do local e levadas ao hospital de Torres — afirmou Motta.
Os agentes trabalham para tentar identificar novas imagens, que tenham registrado o início da ação policial. Na Rua Borges de Medeiros, onde o crime ocorreu, há câmeras de seguranças do estabelecimento em frente ao local do fato. A polícia tenta acessar essas imagens. Os vídeos serão confrontados com os depoimentos já colhidos.
— Há uma certa contradição se comparados um depoimento com o outro das pessoas já ouvidas — disse Motta.
A partir do final da tarde desta terça-feira (24), o delegado titular da Delegacia de Polícia de Torres, Juliano Aguiar, que estava em férias, retorna ao município para assumir a coordenação do inquérito. Junto com o delegado Adriano Koehler, responsável pelo caso por atender a DP em caráter de substituição, Aguiar deve avaliar a necessidade de pedido de prisão dos policiais investigados.
— Pela experiência policial, se percebe erros técnicos durante a abordagem. Sabemos do trabalho da BM, que tem seus policiais muito bem preparados, mas nesse caso pontual se percebe, sim, alguns erros técnicos e falhas que não seguem as recomendação que os policiais têm nos processos de capacitação e treinamento — avaliou Motta.
O chamado no 190 envolvia confusão na compra de bebidas alcoólicas em uma padaria com dois homens em um Gol branco. A polícia não confirma que os irmãos Zortea estavam nesse estabelecimento, embora também estivessem em um Gol branco naquela noite.
— Neste momento não podemos afirmar que os irmãos estavam na padaria. O que tem de similitude é a presença de um Gol branco e de dois homens. O que não quer dizer que antes da abordagem não houvesse justificativa para abordagem acontecer. Há confirmação de que os irmãos estavam em via pública fazendo certa algazarra, danificando árvores. Há dois momentos distintos, momento inicial da abordagem e o que estamos apurando, se, após, não houve excesso — descreveu Motta.
Na coletiva, a Polícia Civil esclareceu que pediu a prisão dos irmãos Zortea na madrugada de segunda-feira com base em imagens de agressão a um dos policiais militares.
— O delegado de plantão tinha à disposição uma imagem do policial sendo agredido, eram elementos iniciais. Posteriormente, tivemos a acesso a novas imagens. No momento da autuação, não tínhamos todas essas informações — disse Motta.
Na manhã desta terça-feira (24), a 1ª Vara Criminal da Comarca de Torres concedeu liberdade provisória aos irmãos.