A Delegacia Especializada no Atendimento à Mulher (Deam) de Porto Alegre ouviu, nos últimos dias, mais de 40 mulheres na investigação contra o médico Klaus Brodbeck, suspeito de abusar sexualmente de pacientes em consultas na Capital. A quantidade de vítimas que procuraram a unidade, no entanto, já passa de uma centena. Todas serão ouvidas pela polícia.
A Polícia Civil corre contra o tempo para concluir o inquérito até a próxima segunda-feira (26), prazo limite em que fecham os 10 dias desde a prisão do suspeito, ocorrida na última sexta, em Gramado, na Serra. Não está descartado o pedido de prorrogação do prazo à Justiça.
Devido ao alto número de relatos, a delegacia chegou a pedir reforço no número de agentes para dar conta da demanda. Mais três policiais do Departamento Estadual de Proteção a Grupos Vulneráveis se somarão, a partir da quarta-feira (21), à equipe na força-tarefa montada para o caso Klaus.
De acordo com a delegada Jeiselaure Souza, os depoimentos são longos e é necessário um atendimento humanizado, tendo em vista que as vítimas estão revisitando situações de violência. A unidade está encaminhando as mulheres para a perícia psíquica do Instituto-Geral de Perícias (IGP), com profissionais especializados em analisar a veracidade dos relatos.
— São crimes ocorridos em uma área privada e sequer deixam vestígios. Mas há aí um abalo em que as vítimas estão sofrendo e, por isso, é necessária essa perícia. Por isso, temos atendimento humanizado e com a equipe pronta para dar todo auxílio, até para encaminhar as vítimas para acompanhamento psicológico, se assim quiserem — explicou Jeiselaure.
Denúncias seguem chegando através dos canais de atendimento da polícia. Até mesmo as redes sociais da delegada estão sendo procuradas por mulheres. Há vítimas em outros Estados brasileiros que estão sendo orientadas a registrar os fatos nas delegacias próximas e prestando depoimento em outras cidades.
Muitos casos que chegaram ao conhecimento da polícia são recentes, mas parte dos relatos são antigos e, por isso, já prescreveram, segundo a policial.
— Muitos desses relatos estão chegando tardiamente para nós. Tem mulheres que foram vítimas há muitos anos e agora que criaram vontade de romper esse silêncio. Mesmo sabendo disso (de que alguns crimes prescreveram) elas estão vindo aqui na delegacia para dar o seu relato, que está servindo como peça informativa nessa investigação. Os relatos se somam para mostrar o padrão de conduta desse médico — complementou a delegada.
A polícia deve separar a investigação em vários inquéritos, com casos individualizados de vítimas ou em grupos de até três. O objetivo é facilitar o andamento futuro de eventuais processos na Justiça contra o cirurgião plástico.
Caso foi revelado há uma semana
A investigação policial iniciou após relato de 12 vítimas, culminando, na última terça-feira (13), em operação que cumpriu mandados de busca e apreensão na casa e na clínica do suspeito. Após a ação ser divulgada, o número de denúncias cresceu rapidamente.
Reportagem do Fantástico, da TV Globo, revelou que entre as vítimas está uma mulher que à época dos supostos abusos tinha apenas 14 anos.
— Ele botou a minha mão na virilha dele. Ele tava excitado. Eu era uma menina de 14 anos — contou.
Outra disse que foi sedada para uma cirurgia e que quando acordou notou que havia sêmen em seu corpo.
— Quando eu acordei eu estava numa sala de recuperação. E nisso eu fui no banheiro, eu notei que tinha uma secreção estranha em mim. Que não era da urina. O delegado me disse que ele já tinha outros tipos de ocorrência desse gênero, e que provavelmente ele tinha feito uma coisa mesmo — narrou.
Médico foi absolvido pelo Cremers
Documento obtido por GZH mostra que o cirurgião plástico foi absolvido ou teve arquivados ao menos 15 sindicâncias abertas no Conselho Regional de Medicina do Estado (Cremers). Os motivos que geraram as procedimentos não foram revelados pela entidade.
No total, conforme o documento, 23 sindicâncias ou processos ético-profissionais foram abertos contra o médico nos últimos 20 anos.
Em relação a processos arquivados ou em que o médico foi absolvido, o presidente do Cremers, Carlos Isaia Filho, nega que a entidade tenha cometido algum erro:
— Absolutamente não (errou). Nós temos um um departamento específico que é o judiciante. Toda denúncia que chega no conselho é instaurada e averiguada. O resultado final passa por um conselheiro sindicante, que faz sua colocação junto a uma câmara de sindicância formada por sete profissionais, conselheiros. Não é uma pessoa que decide se alguém é culpado ou não, é uma câmara — disse o presidente.
Posição da defesa
O advogado de Klaus, Gustavo Nagelstein, diz que o cliente se declara inocente dos fatos. Ele também diz estranhar o alto número de vítimas, uma vez que diz ter tido o conhecimento de somente "cinco ou seis inquéritos" quando seu cliente prestou depoimento.
Como fazer denúncias
A Delegacia de Polícia Especializada no Atendimento à Mulher da Capital pode ser contatada pelos telefones (51) 98402-2495/98682-9585 ou pelo WhatsApp da Polícia Civil: (51) 98444-0606.