A terça-feira (15) marcou um mês do assassinato, em plena luz do dia, de um dos maiores banqueiros do bicho do Rio Grande do Sul, João Carlos Franco Cunha. Conhecido como Jonca, aos 72 anos, era o mais notório dentre os que exploram a jogatina.
Foi morto com dois tiros de revólver quando parou sua Pajero por segundos no sinal fechado de uma sinaleira, na Avenida Princesa Isabel, a poucos metros de um bingo que foi de sua propriedade.
O crime foi cometido por volta das 15h30min numa avenida de grande movimento, num sábado. Jonca estava de volta à clandestinidade, após anos em que ele e a mulher investiram em atividades legais, como sorteios de títulos de capitalização, lotéricas e até uma livraria com o nome do seu antigo bingo, o Roma.
Após se separar, Jonca voltou as suas raízes: exploração do jogo do bicho e de bingo. Recomeçou com uma casa clandestina no mesmo bairro onde concentrava sua jogatina, o Azenha. É nessa atividade que a Polícia Civil concentra seu foco para tentar elucidar o crime, embora outras hipóteses não sejam descartadas.
Há probabilidade que o retorno de Jonca à jogatina clandestina tenha incomodado seus concorrentes. Uma segunda possibilidade é de que facções do tráfico, que cada vez mais extorquem os banqueiros do bicho, tenham encomendado o assassinato dele. E, menos provável, uma simples inimizade – sem a ver com dinheiro – seja resolvida à bala. A possibilidade de assalto frustrado está praticamente descartada.
Na tentativa de elucidar o quebra-cabeças, a 2ª Delegacia de Homicídios já tomou mais de 20 depoimentos e vai chamar várias testemunhas para depor novamente. São familiares e amigos da vítima, gente que passava no local do crime no momento, jogadores de bicho e bingo, carnavalescos (dois meios nos quais Jonca transitava). Todos negam saber de inimizades da vítima.
— Compreensível, porque a vítima tinha atividade clandestina e ninguém quer se comprometer. É um caso bem sensível — pondera a delegada Roberta Bertoldo.
O assassinato foi documentado por câmeras de videomonitoramento, o que possibilita boas pistas à Polícia Civil. O atirador chegou a pé, esperou a vítima parar na sinaleira e encostou o revólver no vidro do motorista, disparando duas vezes. O matador usava boné e um colete similar ao dos guardadores de carro. Correu e ingressou num veículo que o esperava para a fuga. São dois homens procurados pelos policiais. Alguns suspeitos já foram investigados e descartados, mas os policiais continuam na busca.
Além das câmeras, o celular de Jonca pode fornecer pistas. A Justiça permitiu acesso dos policiais ao telefone do bicheiro. A ideia é de que os dados revelem, a partir das últimas ligações para a vítima, seus desafetos.
A delegada acredita que surjam novos testemunhos e fatos, mas adverte que não há prazo para conclusão das investigações. Isso porque, só na delegacia dela, tramitam mais de 200 investigações de homicídios.
— Ainda mais que a vítima transitava num meio nebuloso — conclui Roberta.