Amigos e parentes fizeram um protesto na tarde desta terça-feira (15) para lembrar os quatro membros da mesma família mortos por um policial no fim de semana em Porto Alegre. O ato ocorreu no cruzamento das avenidas Manoel Elias e Protásio Alves, próximo a um posto da Brigada Militar. Ninguém quis falar com a imprensa.
O grupo, de cerca de 50 pessoas, carregava faixas e cartazes com mensagens de luto. Balões brancos e pretos eram agitados em meio a cânticos e gritos pedindo "justiça".
As vítimas foram os irmãos Cristiano Lucena Terra, 38 anos, e Christian Lucena Terra, 33, o sobrinho deles Alexsander Terra Moraes, 26, e o primo Alisson Corrêa Silva, 28. Os corpos foram enterrados na segunda-feira (14), em Porto Alegre.
O crime ocorreu no último domingo (13), e as circunstâncias ainda são apuradas pela Polícia Civil. O caso foi registrado como quádruplo homicídio e a principal linha de investigação, até o momento, é a de legítima defesa. Nesta terça-feira, duas familiares das vítimas prestaram depoimento.
Conforme o advogado da família, Ismael Schmitt, o PM, sem farda, invadiu uma casa onde ocorria uma festa de aniversário por volta das 5h, com arma em punho falando "polícia, polícia, desliga o som". Os quatro homens estavam dentro de casa, sentados em uma mesa, quando o PM chegou. Na saída, o policial teria dado um tapa em uma das mulheres.
Os homens da família foram atrás do PM, que se refugiou no banheiro de uma pizzaria da Avenida Manoel Elias. Imagens das câmeras de segurança mostram a cena. Pouco depois, o policial atirou e matou as quatro pessoas. Logo após o fato, o PM se apresentou às autoridades e entregou a arma do crime. Ele alegou legítima defesa.
Contraponto:
Os advogados David Leal e Raíza Hoffmeister, defendem o PM e divulgaram uma nota com a visão do policial sobre os fatos. Confira a íntegra:
"Meu cliente (PM) tentou dizer que estava atrás da amiga da ex-namorada na casa, que estava com um som alto e com os portões abertos, dando a entender que seria uma festa. Ao verem o PM dentro da residência, as pessoas que estavam na festa abordaram ele de forma muito hostil, todos embriagados e alterados. Ele não havia bebido. O PM tentou dizer que era policial e que morava perto, pedindo que não fizessem tanto barulho, mas logo começaram a intimida-lo e o cercaram. Ele disse que não fizessem tanto barulho. Vendo que todos estavam totalmente intransigentes e que iriam agir de forma violenta, o PM saiu correndo. Saiu da rua, correu pelo beco, atravessou a avenida e entrou na pizzaria, pedindo para o proprietário para se esconder no estabelecimento. Quando correu para dentro do banheiro, deixou a porta entreaberta para manter o campo de visão. Eles invadiram a pizzaria sem autorização do dono. O PM então avisa para irem embora e eles correm para matá-lo. Ele então avisa para se afastarem. Não se afastam. Quando vão com pontapés e socos para arrombar a porta o banheiro, o PM ainda avisa para se afastarem e que atiraria. Eles avançam ameaçando e em maior número. Então, empurra com o braço o primeiro. Não adianta. Eles partem para cima. Então, o PM dá o primeiro disparo, não havendo mais alternativas, pois ele estava encurralado no banheiro. Em vez de fugirem, todos partem mais agressivos para cima do PM encurralado. Ele então dispara contra os demais, não lhe restando qualquer alternativa.
Não houve qualquer excesso, pois ele não fez nada contra as mulheres e manteve o controle o tempo todo. As imagem explicam tudo e falam por si. O PM usou de todos meios necessários para evitar o mal maior, mas nada adiantou e se eles entrassem em luta corporal, pegariam a arma do PM e o matariam. A conduta foi justificada."