Aos 82 anos, uma moradora da Restinga, no extremo-sul de Porto Alegre, era acostumada a fazer suas atividades sozinha. Uma delas era ir até a fruteira, no bairro onde vive há mais de três décadas. Após ser atacada na manhã da última segunda-feira (22) e ferida no pescoço por um desconhecido, a aposentada está receosa e diz que não pretende mais andar desacompanhada. A Polícia Civil apura quem é a o autor dos ataques em série contra idosas.
— Hoje estou melhor, mas estive ruim. Foi um susto — diz a moradora, que preferiu não ter a identidade publicada.
O caso dela é o mais recente dos quatro que a polícia teve acesso nas últimas semanas. Todas as vítimas são mulheres idosas, que caminhavam na rua sozinhas, durante o período da manhã, quando foram feridas. Três delas foram atingidas no pescoço e uma no peito.
Foi assim com a idosa que, pouco antes das 10h, andava pelo Acesso A, carregando sacolas de compras. Um homem, sem camisa, veio correndo no sentido contrário ao dela. A aposentada pensou que ele estava fazendo corrida e não suspeitou de nada. Ela ainda tentou se afastar um pouco para não atrapalhar o trajeto dele.
— Ele se aproximou, chegou do meu lado, virou a mão e fincou alguma coisa. Não tentou levar nada. Não falou nada. Não esperava. Levei um susto. Coloquei a mão no pescoço e estava ensanguentada. Não tinha ninguém na rua, tudo deserto. Ele saiu correndo e nem olhou para trás — detalha a aposentada.
Sem saber a quem recorrer, a idosa parou um veículo e pediu ajuda a uma motorista. A mulher deu carona para a vítima até a casa de uma sobrinha, de onde elas seguiram para o hospital. A idosa precisou de três pontos para cessar o sangramento.
— A médica disse que se fosse mais para o lado eu poderia ter morrido. Não pegou, graças a Deus. A primeira noite eu não consegui dormir. Fechava os olhos e enxergava ele. Ainda me dói um pouco, na hora de engolir, ou deitar, mas estou tomando remédio — conta.
Nos mais de 30 anos em que mora na Restinga, a idosa nunca havia sofrido qualquer tipo de violência. Após o episódio, conta que não pretende mais sair de casa sozinha.
— Não vou mais andar sozinha. Antes saía, pegava a lotação. Vou dar um tempo. Estou com bastante companhia em casa. Isso está me ajudando — diz a aposentada.
Investigação
O caso está sendo apurado pela equipe da 16ª Delegacia de Polícia, com apoio dos agentes do setor de inteligência do Departamento de Polícia Metropolitana. Segundo a delegada Adriana Regina da Costa, o caso é investigado com prioridade. Das quatro vítimas, três registraram ocorrência na Polícia Civil e uma decidiu não fazer o registro por estar traumatizada. Até o momento, ninguém foi preso.
A polícia busca imagens de câmeras de segurança que possam auxiliar na identificação do criminoso. Os casos aconteceram nas proximidades do 21º Batalhão de Polícia Militar (BPM), na Restinga. A Brigada Militar reforçou abordagens e rondas na região, para tentar evitar novos casos e identificar algum suspeito. Ainda não sabe por qual tipo de crime o autor deve responder. Isso dependerá da intenção dele com os ataques e o tipo de lesão provocada nas vítimas.
Denuncie
A orientação da Brigada Militar e da Polícia Civil é comunicar o fato imediatamente aos órgãos policiais para que possam ser localizadas pistas. É possível acionar a BM pelo 190. Caso tenha sido vítima e não tenha registrado, também deve-se comunicar o fato. O registro pode ser feito na 16ª Delegacia de Polícia, localizada na Avenida João Antônio Silveira, 2.145, na Restinga ou pela Delegacia Online (neste link). Informações que ajudem a identificar o autor também podem ser repassadas à polícia pelo 051-984440606.
Os ataques*
- 08/2 – Idosa de 69 anos estava no Acesso Seis, quando o criminoso se aproximou caminhando. Ele espetou no pescoço da vítima um objeto semelhante a uma agulha de seringa
- 13/2 – Aposentada chegava em casa após ir ao mercado, no Acesso Um, quando um homem se aproximou e atingiu seu pescoço com uma faca
- 20/2 – Mulher de 69 anos retornava para casa, na Rua Clara Nunes, com compras do mercado, quando o criminoso atingiu seu peito com uma faca ou outro objeto cortante
- 22/2 – Moradora de 82 anos voltava da fruteira, pelo Acesso A, quando o agressor se aproximou e cravou algo em seu pescoço, semelhante a um punhal ou estilete
*Casos que chegaram ao conhecimento da Polícia Civil