Clientes que afirmam terem sido lesados por uma fábrica de móveis em Igrejinha, no Vale do Paranhana, informam prejuízos que somados chegam a cerca de R$ 40 mil. O valor é o montante citado por 16 pessoas contatadas pela reportagem de GZH. Essa quantia pode aumentar, pois um grupo que reúne consumidores que alegam pendência com a empresa soma cerca de 30 participantes. A fábrica, identificada como Shabby Chic, é alvo de investigação da Polícia Civil.
Consumidores afirmam que a empresa ofereceu e negociou a confecção ou entrega de móveis, mas não repassou os produtos após pagamento. A Delegacia de Igrejinha concentra, até o momento, cerca de 20 ocorrências vinculadas ao inquérito policial.
A empresa alega problemas com matéria prima, mão de obra e de comunicação ao justificar as pendências em relação aos clientes.
A polícia apura se a conduta da empresa configura estelionato. Indícios que apontam a continuidade de negociações mesmo com a não entrega de móveis para clientes que já pagaram e o grande número de vítimas são elementos que serão levados em conta durante o inquérito, segundo o delegado Ivanir Caliari, titular na delegacia de Igrejinha.
A investigação encontrou um registro com o nome da empresa, que atua em Igrejinha, realizado em Campo Bom, sob o status de microempreendedor individual (MEI).
O gerente de camararia Alexander Engels, 42 anos, é uma das vítimas que afirma ter sido lesado pela empresa. O não cumprimento da entrega dos produtos atrasou a mudança dele e da família para a nova moradia no Brasil. Natural de Rio Grande, Engels morava na Nova Zelândia, mas decidiu retornar ao Brasil em maio por causa da pandemia de coronavírus. Em junho, na busca por móveis para o apartamento que estava montando para morar com a família em Florianópolis, o gerente deparou com a página da Shabby Chic no Facebook.
Ele foi até a fábrica em Igrejinha e acertou a encomenda de todo o mobiliário para o apartamento. Em seguida, efetuou o pagamento de R$ 8.800,00, o equivalente a 60% do total do pedido, e combinou a entrega e instalação das peças para setembro de 2020.
Em setembro, ao ir até o local, Engels recebeu um novo prazo, fixado no início de outubro. No entanto, a partir do esgotamento dessa segunda data de entrega, o gerente não conseguiu mais contato com a empresa por cerca de um mês. Após tentativas frustradas de localizar os proprietários no local, ele recebeu um retorno no sentido de que não poderia ser reembolsado. O suposto proprietário informou que entregaria os móveis até o dia 15 de dezembro e que reembolsaria o cliente em caso de não cumprimento desse prazo. Até agora, Engels aguarda um posicionamento da empresa.
— Vou tentar mobiliar minha casa do jeito que der. Hoje, passei o dia nas madeireiras o que eu consigo improvisar. A questão é, foi pago. Até o momento de pagar estava tudo ok. Depois que fiz os pagamentos, dei a entrada que ele queria, ele evaporou.
Moradora de Porto Alegre, a professora de confeitaria Milena Marin contava com os móveis comprados da empresa para iniciar 2021 gravando as aulas online. Ela realizou o pedido em setembro de 2020 após visitar a fábrica, com promessa de receber os móveis para a cozinha, onde fica o seu estúdio de gravação, em dezembro. A compra foi realizada por meio do CPF do marido dela, com o pagamento de R$ 2.770,00. No entanto, o prazo venceu e ela não consegue retorno em nenhum dos meios de comunicação da empresa.
— Tô sem o dinheiro para encomendar outra cozinha, sem o móvel e sem trabalhar — desabafa Milena.
Contraponto
Wander Luiz Moreira Souza, que se diz um dos sócios da empresa Shabby Chic, informa, por meio de comunicado, que os atrasos na entrega dos móveis “são pontuais em determinados produtos, mais especificamente, em cozinhas sob medida, nas quais se utiliza madeira Pinus Densa, com teor de umidade baixo”. Segundo o empresário, desde outubro a fábrica sofre com “escassez dessa matéria prima”. A baixa oferta de mão de obra qualificada também está entre os problemas citados por Souza.
“Porém, novamente, ressaltamos que é um problema pontual, que se estenderá até fevereiro, visto que estamos trabalhando diariamente na resolução desses problemas, com produção em capacidade máxima em nossa fábrica. Em outubro, entregamos 169 pedidos, em novembro, 121, e em dezembro, 104. No momento, contamos com aproximadamente 17 pedidos em atraso, o que representa menos de 10%, do total de vendas do período. Ressaltamos que estamos esclarecendo junto às autoridades o ocorrido e ficamos à disposição para mais esclarecimentos, reafirmando que todos os pedidos serão entregues”, diz trecho da nota.
Souza confirma que existiu uma falha de comunicação com os clientes, motivada pela implementação de uma central, via WhatsApp, para múltiplos atendimentos.
“Diariamente recebemos mais de 600 mensagens via WhatsApp, que gera uma grande demanda”, destaca em outra parte do comunicado.
Confira a nota da empresa Shabby Chic na íntegra
"A empresa vem a público esclarecer que, em Dezembro de 2020 implantamos uma Central de atendimento, via Whatsapp, para múltiplos atendimentos. Essa Central precisou de um número exclusivo, informação que foi adicionada a página do Facebook, Instagram, Site e outras mídias sociais, o que gerou falha na comunicação com os clientes. Os atendimentos são realizados por atendentes exclusivos, para centralizar o interesse de cada cliente em um único atendente, e não por ordem de mensagem recebida. Diariamente recebemos mais de 600 mensagens via whatsapp, que gera uma grande demanda.
Ressaltamos que os atrasos na entrega dos móveis são pontuais em determinados produtos, mais especificamente, em Cozinhas Sob Medida, nas quais se utiliza madeira Pinus Densa, com teor de umidade baixo e, desde outubro, estamos com escassez dessa matéria prima em específico. Associado a isso, contamos com escassez de mão de obra qualificada, além de que o setor moveleiro esta sofrendo com a falta de matéria prima conforme já noticiado pelos veículos de imprensa, impossibilitando e atrasando diversos pedidos, com agravante das medidas sanitárias adotadas pelo governo do estado por conta da pandemia de covid-19, a qual inclusive a informação foi adicionada a pagina principal de compra no site, informando que poderiam ocorrer estes atrasos. Porém, novamente, ressaltamos que é um problema pontual, que se estenderá até Fevereiro, visto que estamos trabalhando diariamente na resolução destes problemas, com produção em capacidade máxima em nossa fábrica.
Em outubro de 2020 entregamos 169 pedidos, em novembro 121 pedidos, e em dezembro 104 pedidos, e no momento contamos com aproximadamente 17 pedidos em atraso, o que representa menos de 10%, do total de vendas do período. Ressaltamos que estamos esclarecendo junto as autoridades o ocorrido e ficamos a disposição para maiores esclarecimentos, reafirmando que todos pedidos serão entregues."
Dicas para evitar golpes em compras
- Verificar a idoneidade da empresa que oferece o serviço. Uma pesquisa sobre comentários e avaliações do serviço prestado e sobre a regularidade da empresa pode evitar transtornos.
- Desconfiar de preços muito abaixo dos praticados no mercado. O cliente também precisa ligar o sinal de atenção ao deparar com facilidades fora da realidade em relação ao oferecimento de determinado produto ou prestação de serviços.
- No caso de compras online, o consumidor deve pesquisar se o site é o portal verdadeiro da empresa e se prestadora de serviço é confiável. A dica é desconfiar de sites com poucas informações e canais de comunicação limitados.
- Em caso de conversas pelas redes sociais ou aplicativos de troca de mensagens, desconfiar de interlocutores que se comunicam com excesso de erros de português. Isso é uma das características de golpes na internet.
- Mesmo em casos onde a empresa tem sede fixa, o cliente precisa verificar todas as informações sobre a empresa e avaliações de compradores.
- Ao efetuar pagamento via boleto, é importante verificar os dados do documento, se são os mesmos da prestadora de serviço. O ideal é realizar o pagamento apenas após verificar todas essas informações e a idoneidade da empresa.
- Evitar fazer pagamentos adiantados antes da entrega do produto. Em serviços a longo prazo, o ideal é pagar de acordo com o recebimento do que foi contratado.
Fonte: delegado Joel Wagner, titular da Delegacia de Polícia de Proteção ao Consumidor (Decon), do Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic)