A perícia realizada no Voyage apreendido por suspeita de ter sido usado para perseguir ciclistas na orla do Guaíba, em Porto Alegre, reforçou esta hipótese, segundo a Polícia Civil. Conforme a Coordenaria de Recursos Especiais (Core), responsável pela investigação, a análise dos peritos encontrou danos em diversos pontos do veículo — o proprietário do carro, um condutor de 44 anos, é investigado.
Segundo o delegado Marco Antônio Duarte de Souza, da Core, o laudo do Instituto-Geral de Perícias (IGP) foi recebido e analisado. A polícia havia solicitado que os peritos verificassem a existência de alguma marca de colisão do carro em bicicleta, por exemplo, e também se o veículo estava impossibilitado de transitar por avaria no motor e, neste caso, em qual período. Durante a análise, foram encontrados danos em pontos como a porta do passageiro traseiro, o espelho retrovisor direito e o vidro do espelho retrovisor esquerdo.
Conforme o delegado, a análise aponta que esses danos são compatíveis de terem sido produzidos, por exemplo, pelo contato com motociclistas, pedestres ou ciclistas. Para Souza, isso vai ao encontro das provas já coletadas até o momento, que indicam que o veículo foi efetivamente usado nos ataques aos ciclistas e que o condutor seria o autor. A perícia no motor também descartou a alegação apresentada pelo proprietário, de que o veículo não estava funcionando.
Segundo o policial, embora nenhuma das vítimas que procurou a polícia tenha relatado ter sido atingida pelo carro, os danos reforçam as suspeitas sobre o condutor.
— O laudo vindo com essa conclusão, somado ao perfil dele, que já teve problemas com o Código de Trânsito, corrobora toda essa situação que as vítimas nos trouxeram — explica o delegado.
A polícia pretende agora analisar caso a caso, para determinar por quais fatos e crimes o motorista deverá responder efetivamente.
Na semana passada, a Core informou que um dos casos que era investigado, de um entregador que afirmava ter sido atropelado pelo veículo, era falso. O jovem admitiu aos policiais que criou a versão – ele agora é investigado por estelionato e denunciação caluniosa.
Com esse caso descartado, ainda são apurados outros 10 relatos de ciclistas que dizem ter sido perseguidos pelo mesmo veículo. A expectativa é de que o inquérito seja concluído até a próxima semana.
— Vamos analisar caso a caso, de forma apurada, para mandar para a Justiça aquilo que estiver comprovado — afirma o delegado.
O que diz o condutor
Quando ouvido pela Polícia Civil, o motorista, que teve a carteira nacional de habilitação cassada e o veículo apreendido, só confirmou ter participado de um dos fatos.
Em agosto, um jovem contou ter sido ameaçado na Avenida Beira-Rio. Neste caso, o investigado desceu do carro com uma chave inglesa na mão. O ciclista relatou que estava sozinho, mas o suspeito apresentou outra versão. Ele disse que foi tentar desviar de um ciclista e que, por conta disso, passou perto deste outro, e que isso gerou uma discussão. Ele afirmou que esse ciclista teria recebido apoio de outros, e que ele desceu com a chave para se defender.
Sobre os demais, disse que não se recordava. O motorista negou que tenha sido o autor do caso envolvendo o entregador no bairro Cidade Baixa — este caso foi descartado em 17 de novembro, após a suposta vítima admitir que não aconteceu.