Nova Prata, na Serra, vive um momento de apreensão provocado pelo linchamento de Arlindo Elias Pagnoncelli, o Zinho, 39 anos. Tudo parece diferente na rotina do pequeno município desde que o crime ganhou repercussão após a morte do homem. O sentimento ainda é de incredulidade e de busca por explicações. As cenas da selvageria que se arrastaram por 200 metros da Avenida Fernando Luzato e culminaram na morte de Zinho ainda indignam moradores do município com pouco mais de 25 mil habitantes.
No local onde Zinho foi agredido, naquela noite de 8 de de novembro, restam sinais do protesto realizada no último domingo, dia 22. As marcas das inúmeras velas também ainda estão na escadaria da prefeitura. Zinho morreu em 18 de novembro, após 10 dias internado em um leito de UTI em Vacaria. Só que a indignação ainda não cessou.
— Uma barbaridade dessas, acho que nem um troglodita faria — opina Claudete Maria de Oliveira, de 58 anos, que complementa:
— Ainda mais uma cidade calma que nem essa.
Por ser uma cidade de pequeno porte, Nova Prata é daqueles município que quase todos se conhecem. As ruas que ficam próximas da Praça da Bandeira costumam lotar aos domingos. Jovens e adultos consomem bebidas alcoólicas e se concentram numa área inferior a 1 quilômetro quadrado. Um detalhe nesse contexto causa ainda mais revolta: jovens que teriam participado do linchamento tiveram, pouco antes, bebidas pagas pela própria vítima. Cenas e imagens que circulam em redes sociais e são usadas na investigação.
— É inadmissível um negócio desses — protesta Ivan Schmit, de 56 anos.
Ele conhecia Zinho desde pequeno. Seu filho foi colega de escola da vítima desde os primeiros anos. Schmit ressalta que o lixador era trabalhador e uma pessoa divertida. Ele se mostrou indignado da forma como as coisas aconteceram:
— É uma cidade pequena, todo mundo se conhece. Não tem motivo para uma coisa dessas.
O que já se sabe
Inicialmente, as informações eram de que 40 pessoas estavam envolvidas diretamente nas agressões contra Arlindo Elias Pagnoncelli. Conforme a investigação foi avançando, os agentes estimam que esse número gire em torno de 15 pessoas. A Polícia Civil identificou que, a princípio, sete adolescentes, além de oito adultos, participaram do ataque.
Além disso, segundo a investigação, outras pessoas fizeram parte da cena de violência de forma omissa. A delegada responsável pelo caso, Liliane Pasternak Kramm, afirmou, em entrevista ao programa Gaúcha Atualidade desta quarta-feira (25), que o inquérito prevê, aos envolvidos, pena de homicídio doloso qualificado e lesão corporal, além de incitação ao crime.
De acordo com a delegada, os depoimentos coletados até agora foram contraditórios e, por isso, não é possível entender com clareza as circunstâncias e a motivação para o linchamento.