Além da violência que resultou na morte de João Alberto Silveira Freitas, 40 anos, uma tentativa de censura à captação das imagens do flagrante ocorreu, em paralelo às agressões. Enquanto o cliente era espancado, já caído no estacionamento do supermercado Carrefour, um entregador se aproximou e gravou o homem deitado, com um segurança ajoelhado sobre si, e outro imobilizando seus pés. Com 20 segundos de vídeo, o entregador foi interpelado por uma funcionária: “Não faz isso que vou te queimar na loja”, diz a mulher.
A reportagem de GZH localizou o autor das imagens, que comprovou ter o registro original, a partir do arquivo da câmera do telefone celular. A voz do entregador é a mesma das imagens compartilhadas, e o horário indica o momento do crime: 20h47min de 19 de novembro de 2020.
Com medo de sofrer alguma sanção dos envolvidos no crime, pediu para não ser identificado. Ele tem 41 anos, e a telentrega é um complemento de sua renda, profissão exercida no turno da noite. A testemunha do caso diz não ter visto a confusão dentro do mercado, somente no estacionamento. Relatou que a vítima não reagiu, e classificou a força utilizada como “desproporcional”.
— Eles deram um soco no senhor, e ele deu um tapa. Aí pegaram os pés dele, derrubaram no chão e começaram a bater. Bater, bater, bater, bater. E quando fui chegando com o celular, a moça viu e começou a me ameaçar, dizendo que ia me queimar no mercado — relembra.
Logo em seguida, o entregador disse ter sido cercado, e temeu também ser agredido. Os seguranças então exigiram que ele apagasse os registros do telefone, o que não ocorreu.
— Tive que guardar o celular. E eles queriam que eu apagasse o vídeo. Eu disse que não ia apagar. Eu pretendia usar o vídeo para defender o senhor, mas infelizmente aconteceu o que aconteceu – complementa.
O entregador afirma ter postado a gravação em suas redes sociais, na noite passada. Quando o fato tomou repercussão, decidiu apagar a publicação, aconselhado pela esposa. Ele também foi atacado por seguidores, questionado reiteradamente por que não ajudou a vítima.
— Tem um pessoal me xingando. Dizendo que não fiz nada. Com a ameaça que eu tive, eu poderia ser outro ali, deitado. Fiquei com medo — admite.
Caso seja procurado pelos investigadores, ele prometeu entregar as imagens.