Em Caxias do Sul, na Serra, a manhã deste sábado (21) foi marcada por protestos antirracistas e homenagens a João Alberto Silveira Freitas, o homem negro espancado até a morte na noite de quinta-feira (19) no hipermercado Carrefour, na zona norte de Porto Alegre.
Uma das manifestações começou por volta de 10h na Praça Dante Alighieri e reuniu dezenas de pessoas ligadas a movimentos sociais da cidade. Houve discursos de repúdio à forma violenta como João Alberto foi tratado pelos seguranças do mercado e ao desfecho trágico.
Outros episódios que terminaram na morte de pessoas negras foram lembrados, como a do jovem Aldair Inácio da Silva, então com 20 anos, em 7 de fevereiro de 2015. Ele foi baleado na saída de uma quadra de esportes na Rua Ludovico Cavinatto, no bairro Santa Catarina. Aldair era neto de Juçara Quadros, militante do movimento negro e que estava presente no ato deste sábado.
Os participantes também confeccionaram cartazes e faixas - em uma delas estava escrito "Parem de nos matar!" -, acenderam velas em homenagem a João Alberto e fizeram uma caminhada na área central. Seguiram pela Avenida Júlio de Castilhos até a Rua Garibaldi e retornaram à praça pela Sinimbu. A manifestação terminou por volta de 11h30min.
Enquanto o protesto ocorria na Praça Dante Alighieri, outra manifestação era realizada na unidade do Carrefour em Caxias do Sul. Cerca de 15 pessoas ficaram em uma das entradas que dá acesso ao estacionamento do mercado. O protesto pacífico, que começou por volta das 9h45min e se estendeu por três horas, reuniu integrantes de movimentos sociais e do movimento negro.
Os manifestantes portavam cartazes com mensagens como "vidas negras importam", "parem de nos matar" e "basta de racismo". Frases como "racistas não passarão" foram entoadas pelo grupo, que utilizava instrumentos de som para chamar a atenção de motoristas e passageiros de carros que entravam no estacionamento. A auxiliar de produção Sandra Varela, 42 anos, participou do ato junto com a família:
— Eu quero que ela (a filha criança que participou do ato) cresça sabendo que tem os mesmos deveres e os mesmo direitos que todo mundo — afirmou.
Conforme a motorista Tatiane Duarte, 34 anos, o grupo decidiu se organizar para o protesto em frente ao Carrefour devido à carga simbólica, já que a morte de Beto, como João Alberto era conhecido, ocorreu no supermercado em Porto Alegre:
— Nós somos mães de filhos negros e queremos que eles possam ir comprar uma água no mercado sem o risco de saírem de lá mortos.
Imagens gravadas pelos manifestantes, que pretendiam se aproximar do Carrefour em Caxias, mostram que eles foram orientados por seguranças a ficarem do lado de fora do estacionamento. O supermercado funcionou normalmente na manhã deste sábado (21).