O golpe dos nudes não é novo e a Polícia Civil investiga mais um caso que tem praticamente a mesma forma de atuação: contatos pelas redes sociais entre uma mulher e geralmente homens de meia idade e com posses, envio de fotos e vídeos pelo WhatsApp, alerta de que se trata de uma adolescente e, depois, ameaças ou extorsões de golpistas que dizem ser o pai da jovem ou um delegado. A diferença desta vez é que os criminosos chegam ao ponto de gravar um vídeo simulando o registro de uma ocorrência policial em delegacia sobre abuso sexual. Eles usam roupas, distintivo, armas e até um banner como se fossem de fato da instituição.
Após o registro de ocorrência por parte de três vítimas, a polícia apurou como funcionava o esquema criminoso e identificou pelo menos dois dos integrantes da quadrilha. A investigação resultou na Operação Insígnia, deflagrada nesta sexta-feira (20) no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina. Cerca de 50 agentes do Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic) cumprem mandados de busca e dois de prisão preventiva.
As ordens judiciais de prisão são de um homem em Itapema, litoral catarinense, no local que servia de estúdio usado para gravar as imagens fakes, e de uma mulher em Caxias do Sul, na serra gaúcha. Também há mandados de buscas em Bento Gonçalves, na Serra, e em Novo Hamburgo, no Vale do Sinos, locais onde houve saques bancários de dinheiro das vítimas.
Imagens fakes
A ação é coordenada pelo delegado André Anicet, titular da Delegacia de Repressão aos Crimes Informáticos (DRCI). Segundo ele, o vídeo enviado para as vítimas mostra três pessoas que ainda não foram identificadas. Enquanto uma integrante do grupo se passa pela mãe de uma suposta adolescente — que repassou imagens do corpo para um homem — fazendo uma ocorrência em delegacia, outros dois homens usam roupas da Polícia Civil para se passarem por delegado e escrivão. Anicet diz que ainda não foi possível obter a identidade dos três porque a mulher está de máscara e os homens aparecem de costas.
— Depois da troca de nudes, a vítima passa a receber ligações dos supostos pais da menina ou de falsos policiais civis. Ela é acusada de pedofilia sob a alegação de que as fotos são de uma criança ou adolescente. Na extorsão, os ditos "familiares" exigem valores para não denunciarem a vítima à polícia ou identificando-se como delegados, mas daí, neste caso, seria para arquivar os supostos inquéritos — explica Anicet.
Mas tudo é fake, desde as imagens de nudes, passando pelo vídeo da falsa ocorrência policial, até os contatos com ameaças ou extorsões. O vídeo enviado para as vítimas tem como objetivo reforçar depósitos bancários para que o suposto caso policial não seja levado adiante.
Em algumas ocorrências, havia também ameaças de encaminhar para familiares da vítima para que ela fosse constrangida.
Os crimes apurados são os de extorsão e organização criminosa. Pelo menos três homens, todos do Estado, registraram ocorrência. Anicet acredita que são dezenas de vítimas, mas a maioria tem vergonha de informar sobre o caso. Além de perderem ente R$ 1,5 mil e R$ 2 mil, em média, temem ficar expostas à sociedade.
Denúncias sobre esse tipo de crime podem ser feitas pelo telefone 0800 510 2828 ou pelo (51) 98444-0606 (com WhatsApp e Telegram).
O diretor do Deic, delegado Sander Cajal, diz que as pessoas devem ficar alerta sempre, principalmente porque este tem sido o golpe da moda.
— Avisamos que esse é o crime da moda, aos moldes que foram antigamente o falso sequestro e falsa premiação em sorteios. Se você for extorquido por falsos policiais em WhatsApp e outros meios de “redes sociais”, denuncie e jamais realize pagamento — alerta Cajal.