A Polícia Civil vai inaugurar, em dezembro, a primeira delegacia especializada em crimes de intolerância no Rio Grande do Sul. A medida foi anunciada pela chefe da instituição, Nadine Anflor, em entrevista ao Gaúcha Atualidade desta sexta-feira (20) — data que marca o Dia Nacional da Consciência Negra e coincide com a repercussão de um homicídio contra um homem negro, espancado até a morte na noite de quinta-feira (19) no supermercado Carrefour, em Porto Alegre.
— A delegacia seria inaugurada no dia de hoje (20). Por um problema de reforma, atrasou, mas a delegacia está pronta aqui em Porto Alegre. Agora a data está marcada para 10 de dezembro, no Dia dos Direitos Humanos. (...) Essa delegacia foi construída ao longo dos meses mesmo durante a pandemia, porque já era uma meta nossa ter um espaço de acolhimento e principalmente uma investigação com olhar diferenciado — explica Nadine.
Conforme a delegada, que não quis adiantar o local da nova delegacia, a unidade "será responsável pela investigação exclusiva de toda e qualquer forma de crimes de intolerância" no âmbito exclusivamente de Porto Alegre, como injúria racial e homotransfobia. Esta será a primeira delegacia de intolerância no Estado, mas a capacitação para atender crimes do gênero já está sendo colocada em prática em outras unidades do RS.
— Há muito tempo exigiam e cobravam muito da nossa instituição neste sentido. Os crimes acontecem e muitas vezes não conseguimos ter sequer estatísticas criminais com relação a eles. (...) A gente vai conseguir pelo menos conversar um pouco mais sobre esses crimes e explicar para as pessoas que muitos atos que elas fazem no dia a dia são atos de intolerância — explica Nadine.
"Dia muito triste"
Ao longo da madrugada de sexta, policiais trabalharam na investigação do homicídio de João Alberto Silveira Freitas, 40 anos, homem negro que morreu após ter sido espancado no estacionamento do supermercado Carrefour no bairro Passo D'Areia, na zona norte de Porto Alegre. Indagada sobre o episódio, Nadine definiu o crime como "bárbaro":
— É um dia muito triste. Deixa uma lição para todos nós. É importante que se diga que as polícias trabalharam ao longo da noite e estão fazendo a investigação criminal, que apenas está iniciando. Temos dois presos em flagrante. (...) É uma respostas das polícias em conjunto. Uma resposta a um crime tão bárbaro, que não pode acontecer — avaliou.
— É uma vítima que se perde, mas precisamos aprender para que nunca mais aconteça. As polícias estão agindo e estão agindo rapidamente — completou.