Encontrado morto em um matagal no interior de Encantado em 21 de setembro, o motorista de aplicativo Celso Antônio Gasparetto, 56 anos, pode ter sido assassinado por aceitar uma corrida sem saber que iria transportar criminosos armados ligados a uma facção com base no Vale do Sinos. A investigação da Polícia Civil aponta ainda que a disputa por pontos de tráfico de drogas em Guaporé, no Norte, foi o pano de fundo para a morte de Gasparetto, que não teria envolvimento com o crime organizado.
No começo da tarde de 20 de setembro, um domingo, Gasparetto foi acionado para fazer uma corrida de Guaporé, onde vivia com a esposa, até Encantado e não retornou mais. Na manhã do dia seguinte, o veículo do motorista, um Cobalt preto, foi localizado abandonado com as portas abertas próximo a Lagoa da Garibaldi, no município do Vale do Taquari. A nove quilômetros do local, na área rural, foi encontrado o corpo do motorista com pelo menos seis disparos de pistola calibre 9mm. Um homem de 29 anos, considerado o mentor do crime, foi preso preventivamente na tarde de terça-feira (27), em Alegrete, na Fronteira Oeste.
À frente da investigação, o delegado de Encantado Augusto Cavalheiro Neto, afirma que o suspeito determinou o assassinato e estava presente na execução do motorista. O investigado tem antecedentes criminais por furto, tráfico, roubo e duas tentativa de homicídio e teria fugido para a Fronteira Oeste após o assassinato de Gasparetto. No final da manha de quarta-feira (28), a polícia também deteve temporariamente, em Guaporé, um homem e uma mulher suspeitos de chamar a vítima para fazer a corrida em 20 de setembro. De acordo com o inquérito, são pessoas que não estão diretamente envolvidas na execução:
— Eles chamaram a corrida que levou o Celso para morte e prestaram auxílio aos criminosos. A prisão é de 30 dias para esclarecer os limites da ação de cada um, o que realmente eles fizeram e como participaram do fato. O que sabemos que é contrataram a viagem em Guaporé, foram até Encantado e desviaram a rota para a área rural onde executam o Celso. Então, rodaram nove quilômetros até o local onde abandonam o veículo. Ali pediram carona para um indivíduo e, no meio da carona, anunciaram com violência que obrigariam ele a levá-los até a rodoviária de Lajeado.
Além do caso ser chocante, por envolver um homem de boa reputação em Guaporé, há todo um contexto de guerra de facções por trás. O grande desafio do inquérito é esclarecer de vez a motivação e identificar os outros homens que ajudaram o principal suspeito desse crime, que já está preso.
AUGUSTO CAVALHEIRO NETO
Delegado de Encantado
Imagens de câmeras de segurança revelam que no veículo do motorista que foi rendido estavam pelo menos quatro homens além do motorista — a polícia trabalha para identificá-los. O executor do crime, junto com outros comparsas, saíram de Encantado assim que o homicídio ocorreu. O percurso feito pelo líder do grupo foi mapeado pelos investigadores: de Lajeado, o criminoso se deslocou para Porto Alegre e, em dois dias, para Bagé, na Campanha. De lá, viajou até Alegrete, de onde vinha sendo monitorado com o apoio da polícia local.
— Junto com o homicídio duplamente qualificado, há um crime de sequestro para garantir a fuga — diz o delegado.
Confronto entre organizações criminosas
O homem preso em Alegrete morava há três meses em Guaporé em uma casa vinculada por uma facção com base no Vale do Sinos. Na sexta-feira anterior ao crime, 18 de setembro, três homens armados com pistolas 9mm chegaram a cidade e se hospedaram nessa residência. Naquele final de semana planejavam atacar os pontos de venda da facção local e executar traficantes rivais.
Guaporé possui uma organização criminosa que domina o tráfico de drogas na cidade de 25 mil habitantes. O grupo, que já foi desarticulado mais de uma vez pela polícia e tem seu líder recolhido na Penitenciária de Alta Segurança de Charqueadas (Pasc), recebe o suporte de uma facção de Porto Alegre, com berço no bairro Bom Jesus, segundo o delegado de Parobé, Tiago Albuquerque.
Não se tem notícia se o ataque ao grupo realmente aconteceu. A polícia, no entanto, apurou que os criminosos que desejavam tomar as bocas de fumo teriam ficado assustados ao saberem que seu esconderijo em Guaporé fora descoberto pelos rivais.
— Foi então que eles decidiram sair às pressas da cidade. E ao sair, pediram para o indivíduo que morava na parte de baixo da residência, indicar um motorista e fazer o contato com ele. O homem lembrou do Celso e o chamou para fazer a corrida — explica o delegado de Encantado.
Um ponto ainda em aberto é o que aconteceu durante a corrida que levou os criminosos a executarem o motorista. Uma das hipóteses é que o assassinato se deu após divergências durante o trajeto Guaporé-Encantado:
— Podem ter forçado ele a ir para um destino não combinado. Ou pode ter havido discordâncias em relação ao pagamento. Não há nenhuma comprovação que Celso teria envolvimento com o tráfico.
A polícia vai ouvir os três presos nos próximos dias.
— Além do caso ser chocante, por envolver um homem de boa reputação em Guaporé, há todo um contexto de guerra de facções por trás. O grande desafio do inquérito é esclarecer de vez a motivação e identificar os outros homens que ajudaram o principal suspeito desse crime, que já está preso — afirma o delegado de Encantado, que atuou em parceria com a polícias de Guaporé e Alegrete.