Morto com pelo menos seis tiros em Encantado, no Vale do Taquari, Celso Antônio Gasparetto, 56 anos, não tinha antecedentes criminais e era um motorista experiente. Natural de Guaporé, começou a fazer pequenos fretes na cidade do norte do Estado, comprou o primeiro caminhão e trabalhou a maior parte da vida para transportadoras. Depois de viajar pelo país, em trajetos que iam até o Nordeste, se aposentou e passou a atuar como motorista de aplicativo. Com o Cobalt preto também fazia corridas particulares e trabalhava inclusive aos domingos.
— Era muito prestativo. Se precisava levar ao hospital, ao médico, ele não se preocupava com horário. Se tivesse almoçando e alguém ligava pedindo para ir ao hospital, deixava de almoçar e ia. A paixão dele era dirigir. Tirava o sustento da família dali — conta a esposa, Mari Carmen Moser, 57 anos.
Gasparetto era casado com a comerciante há 30 anos. No domingo (20), almoçaram juntos. À tarde, ele fez uma corrida até Encantado. A polícia tenta descobrir se o motorista trouxe alguém de Guaporé a Encantado ou se percorreu os 57 quilômetros sozinho e foi até o Vale do Taquari buscar alguém.
Na manhã de segunda-feira (21), o corpo do motorista foi encontrado com tiros na nuca e na cabeça em um matagal em Linha Cedro, interior de Encantado, horas depois do Cobalt ser localizado abandonado a nove quilômetros, próximo à Lagoa Garibaldi. A 300 metros do ponto onde estavam o corpo, foram achados o celular e a carteira da vítima. Os colegas de aplicativo auxiliaram nas buscas.
À frente do caso, o delegado Augusto Cavalheiro Neto descarta a hipótese de latrocínio (roubo com morte) e afirma que Gasparetto foi vítima de uma execução:
— As investigações seguem pra tentar conseguir a autoria e a motivação. Ele não tinha vinculação aparente com o mundo do crime que pudesse levar ele a esse final trágico.
Sonho de ver o filho formado
Há dois anos, Gasparetto havia realizado o sonho da graduação do filho único, de 27 anos, na faculdade de Biomedicina na Univates, em Lajeado. Nas redes sociais, o motorista aparece orgulhoso em fotos ao lado do jovem, usando o chapéu da toga do filho no dia da colação de grau.
— Com o trabalho dele, pagou cada uma das parcelas do curso do filho. O maior sonho dele era ver o filho se formar e estudar — lembra a esposa.
Nos 10 anos que viajou pelo país, chegava a passar um mês na estrada. Apesar de ter rodado o Brasil, o marido, segundo a esposa, nunca pensou em deixar Guaporé. Nos últimos trajetos, o trabalho à noite passou a trazer desgastes físicos e emocionais por não conseguir descansar durante o dia. Foi então que deixou o caminhão e se aposentou. Ficou pouco tempo parado até começar a atuar com aplicativo de corrida.
Na descrição da esposa, "era vidrado em trabalho" e não negava nenhuma corrida. No domingo, depois do almoço, Gasparetto ligou para Mari e o filho dizendo que estava com outros trabalhos e que passaria a tarde fora. Não chegou a avisar que iria para Encantado.
— Ele tinha o hábito de ficar mais pelo centro da cidade, se tivesse corrida, estaria mais próximo do acesso às pessoas. Depois da última vez que conversamos, eu saí para um compromisso e fiquei sem sinal — diz.
A esposa retornou às 19h, estranhou ele não estar em casa, mas não se preocupou de imediato. Era comum o marido retornar entre 20h e 21h. Percebeu que poderia ter acontecido algo quando enviou mensagem, ligou e Gasparetto não respondeu nem atendeu.
— Ele era um homem trabalhador, só pensava em trabalhar. Era o prazer dele. Se a gente não quer o mal de ninguém, não acha que algo ruim vai acontecer conosco — diz ela.
Gremista, Gasparetto gostava de estar entre os amigos, fazer churrasco e lidar na horta. Era muito próximo da mãe e do irmão e especialmente apegado a sobrinha, que tratava como neta. Junto com a esposa, sonhava em reformar em casa e estava empenhado em ajudar o filho a mudar de cidade para trabalhar. Segundo Mari, não tinham parentes nem amigos em Encantado. Neste terça-feira, foi sepultado no Cemitério Municipal de Guaporé.