O disfarce de um veterano criminoso gaúcho, que vinha sendo procurado há mais de uma década pelas autoridades de segurança, terminou nesta quarta-feira (30) em Montevidéu, capital do Uruguai. Igor Machado, 47 anos, foi preso pela Polícia Nacional daquele país por meio de uma cooperação internacional chefiada pela Organização Internacional de Polícia Criminal (Interpol).
Machado foi encontrado próximo de uma casa na capital uruguaia, onde, segundo a investigação, estava morando desde março deste ano. Segundo comunicado à imprensa da Interpol, ele tinha consigo documentos falsos do Paraguai e do Brasil.
No Rio Grande do Sul, Machado ganhou notoriedade nos anos 1990 e nos 2000 por roubos a bancos e carros forte violentos, marcados pelo uso de explosivos. O criminoso é considerado um dos pioneiros em assaltos do tipo. A última vez em que havia sido preso foi em 2009, em Florianópolis, quando passou apenas dez dias na cadeia, já que a Justiça o autorizou a progredir para o regime semiaberto e, logo depois, fugiu no Instituto Penal de Charqueadas. O criminoso tem ainda 17 anos de condenação.
Depois de ser preso em 2009, Machado - que já detinha extensa lista de crimes - mudou de área de atuação. Segundo as investigações, passou do roubo a banco passou para o tráfico de drogas e se aliou à facção paulista Primeiro Comando da Capital (PCC). Para fugir do radar das autoridades, estabeleceu-se no Paraguai.
De acordo com o apurado pelas autoridades brasileiras e paraguaias, o criminoso gaúcho se associou a um dos barões do tráfico de drogas na América do Sul, Jarvis Pavão, preso e extraditado ao Brasil em 2017. Pavão era apontado como o principal fornecedor de cocaína do Paraguai para um consórcio de facções brasileiras e responsável, entre outros, pela onda de violência nos presídios brasileiros, com mais de 130 mortos naquele ano.
Em 2018, a Polícia Civil gaúcha esteve perto de prendê-lo e chegou a enviar equipes até o Paraguai, em ações em Ciudad de Leste e Assunção. O delegado Arthur Raldi, da Delegacia de Capturas, chefiou a missão. Ele recorda que os investigadores gaúchos conseguiram descobrir o documento de identidade falso que era usado por ele, mas ele não foi localizado.
— Pelo fato de ser um notório assaltante de banco e que estava há algum tempo foragido, mobilizamos a delegacia de capturas para um possível paradeiro. Logo no início, focamos na possibilidade de não estar no Brasil e, sim, no Paraguai. Levantamos o nome falso que estava, o que foi confirmado pelas autoridades policiais paraguaias, e ficamos alguns dias atrás das pistas. Mas naquela oportunidade, ele não estava — recordou.
O delegado afirma que, depois da incursão da polícia gaúcha, repassou as informações para a polícia paraguaia sobre a identidade falsa. Machado se apresentava como Wanderley Ferreira da Rosa e afirmava ser sul-mato-grossense. Foi por meio da descoberta do documento falso que as autoridades identificaram que ele era um dos visitantes frequentes de Jarvis Pavão na cadeia onde estava, o que indicou os laços com um dos barões do crime no continente.
Após voltar ao Brasil, a polícia gaúcha solicitou a inclusão do nome do criminoso na lista da Interpol e manteve em contato com a polícia paraguaia. Em março deste ano, a Interpol identificou que Machado ingressou no Uruguai em um barco. Ele era monitorado desde então e era visto em Montevidéu e em uma casa no Departamento de Canelones.
Na mesma ação em que foi preso, os policiais uruguaios também estiveram na outra casa, em Ciudad de La Costa, onde encontraram quartos que preparados para a produção de maconha de forma ilegal. Também foram apreendidos um revólver, réplicas de pistolas e foi preso um outro brasileiro que trabalhava no lugar.
A reportagem tenta confirmar se as autoridades pretendem manter o homem preso no uruguaio ou trazê-lo ao Brasil.
O passado de Machado
Segundo a polícia, ele foi um dos primeiros bandidos a usar arma de grosso calibre em assalto a banco, como ocorreu em Nova Roma do Sul, na Serra, em 1991. Também está entre os pioneiros no uso de explosivos para abrir carros-fortes. Em 1993, ficou conhecido por assaltar o delegado Nelmo Bonnet, então diretor do Departamento de Polícia Metropolitana (DPM).
Em 1996, após uma perseguição de horas que terminou num tiroteio em Curumim, no Litoral Norte, foi preso. Três assaltantes que o acompanhavam morreram e dois policiais, que faziam o cerco, ficaram feridos. A quadrilha tinha assaltado uma agência do Banco do Brasil em Sombrio (SC) e tentava se refugiar no Rio Grande do Sul, quando foi interceptada por um bloqueio da Polícia Civil.
Em abril de 2004, foi preso por assalto a carro-forte em Antônio Prado. Na ocasião, um caminhão roubado foi jogado contra o blindado. Ele foi preso na fuga portando dois malotes do blindado e alguns milhares de reais em dinheiro.
Até 2011 já acumulava indiciamento por seis roubos e um homicídio, quando foi colocado na lista dos foragidos mais notórios do Sul do Brasil.