O nome do criminoso considerado mentor intelectual das grandes quadrilhas de assaltantes de bancos que aterrorizaram os gaúchos nas últimas duas décadas reapareceu nas escutas telefônicas feitas pela Polícia Civil.
O foragido Igor Machado, 40 anos, está condenado até 2023 e fugiu em abril de 2009 do Instituto Penal Escola Profissionalizante (Ipep), em Charqueadas, na Região Carbonífera.
O reaparecimento do nome de Igor em conversas monitoradas pelos investigadores acendeu a luz de alerta entre os agentes da Delegacia de Roubos, um dos braços do Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic). Segundo a polícia, ele foi um dos primeiros bandidos a usar arma de grosso calibre em assalto a banco. Foi em Nova Roma do Sul, na Serra, em 1991. Também está entre os pioneiros no uso de explosivos para abrir carros-fortes. Em 1993, ficou conhecido por assaltar o delegado Nelmo Bonnet, então diretor do Departamento de Polícia Metropolitana (DPM).
Em abril de 2004, foi preso por assalto a carro-forte em Antônio Prado. Na ocasião, um caminhão roubado foi jogado contra o blindado. Ele foi preso na fuga portando dois malotes do blindado e alguns milhares de reais em dinheiro.
Igor Machado
Igor não só figura na lista dos mais procurados pela polícia, como também integra a seleta galeria dos "monitorados" - são bandidos que, devido ao seu currículo, sempre estão envolvidos em grandes ações.
- Ele é importante porque domina as técnicas do uso de armas pesadas e dos explosivos, tem os contatos que lhe indicam os alvos a serem atacados e possui uma rede de pessoas que lhe dá abrigo - explica o delegado Joel Wagner, titular da Roubos.
Criminoso estaria envolvido com o tráfico de drogas
O conhecimento e os contatos de Igor o cacifam dentro da atual estrutura das quadrilhas que atacam bancos, conforme Wagner. Esses bandos não têm um contingente fixo. Formados para atacar um único objetivo, são integrados na sua maioria por jovens, e muitos deles não têm passagem pela polícia, o que significa que não têm prática na vida criminosa. Dentro desse contexto, eles usam o conhecimento e os contatos de criminosos experientes, como Igor, para planejar suas ações, conclui o delegado Wagner.
Há muito o foragido adotou uma tática de viver em cidades do norte do Rio Grande do Sul, litoral de Santa Catarina e oeste do Paraná e São Paulo. Em 2010, um motorista de táxi de São Paulo relatou à Polícia Civil paulista que havia ficado dois dias transportando Igor e uma outra pessoa para as boates da cidade. Ele o reconheceu porque ficou sem pagar uma corrida, e, navegando na internet, viu a foto dele em uma reportagem do jornal Diário Gaúcho. As últimas informações que chegaram ao delegado Wagner dão conta que o criminoso estaria circulando pela cidade de Foz do Iguaçu, no oeste paranaense, na Tríplice Fronteira entre o Brasil, a Argentina e o Paraguai.
A pista sobre o aparecimento dele em Foz faz sentido para os policiais. Na última vez que esteve preso, em Porto Alegre, em 2009, durante uma conversa com agentes do Departamento Estadual de Investigações do Narcotráfico (Denarc), teria dito que estava envolvido com o tráfico de drogas. O Paraguai é o maior fornecedor de maconha para o Brasil e importante no abastecimento de outras drogas, como a cocaína vinda da Bolívia. É possível que Igor esteja diversificando a sua atividade no submundo do crime.
De quadrilha em quadrilha
Humberto Trezzi
Foi há mais 20 anos que a imprensa começou a falar de Igor Machado, o Nenê, o filho de um PM que, para dissabor do pai, migrou para o crime. A estreia nas manchetes foi ousada: em 1993, assaltou o delegado Nelmo Bonnet, então diretor do Departamento de Polícia Metropolitana (DPM) da Polícia Civil gaúcha. Até então só tinha passagem criminal por furto.
Preso, foi solto e logo voltou ao noticiário de forma bombástica: após uma perseguição de horas que terminou num sangrento tiroteio em Curumim (Litoral Norte), ele teve a sorte de ser preso sem ferimentos graves. Três assaltantes que o acompanhavam morreram e dois policiais, que faziam o cerco, ficaram feridos. Isso foi em 13 de agosto de 1996. A quadrilha tinha assaltado uma agência do Banco do Brasil em Sombrio e tentava se refugiar no Rio Grande do Sul, quando foi interceptada por um bloqueio da Polícia Civil. Morreram na troca de tiros os assaltantes Adair Krüger (o Da Ivo), Osmar Galhardo e Adelar Galhardo - os dois últimos, irmãos, o que rendeu à quadrilha o apelido, dado por policiais, de Irmandade do Crime.
Igor e outros dois quadrilheiros foram presos. Com eles, fuzis russos e americanos, então uma novidade no Sul. Igor foi condenado, curtiu alguns anos de prisão e, após ser solto, nunca mais deixou de frequentar as notícias. Em abril de 2004, foi preso por assalto a carro-forte em Antônio Prado. Na ocasião, um caminhão roubado em São Vendelino foi jogado contra o blindado, que atingiu um barranco. Ele foi preso na fuga, já em Nova Roma do Sul, portando dois malotes do carro-forte e alguns milhares de reais em dinheiro.
Processado pelo roubo e por integrar a quadrilha de José Carlos dos Santos, o Seco, foi condenado. Foi preso em 2009 em Florianópolis e logo fugiu de novo. Em 2011 já acumulava indiciamento por seis roubos e um homicídio, quando foi colocado na lista dos foragidos mais notórios do Sul do Brasil. Continua, só que agora com nova função: acrescentado o tráfico aos seus negócios ilícitos.
Alerta na segurança
Assaltante pioneiro no uso de armas pesadas e explosivos no Rio Grande do Sul desafia a polícia
Conhecido por ações violentas contra bancos e carros-fortes, Igor Machado está foragido desde 2009
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