Cerca de 80 policiais civis cumpriram, na manhã desta quinta-feira (3), 16 mandados de prisão e outros 16 de busca contra uma quadrilha de Canoas que rouba carros no Centro Histórico e na zona norte de Porto Alegre. O grupo tem integrantes que são detentos do regime semiaberto e outros do regime fechado, que atuam nas negociações dos veículos.
Depoimentos e áudios obtidos pela polícia confirmam que os criminosos ameaçavam e agrediam com coronhadas as vítimas. Até 13h, 12 suspeitos haviam sido detidos.
As ordens judiciais foram cumpridas em Canoas, Porto Alegre, Alvorada, Nova Santa Rita e Charqueadas. Além dos agentes terem indo na casa de nove suspeitos, também prenderam três detentos do regime semiaberto que integram o grupo. Outros quatro apenados já se encontram no regime fechado, no complexo prisional de Charqueadas, mas tiveram nova ordem de prisão contra eles por mais estes crimes.
Os 16 integrantes da quadrilha vão responder por organização criminosa, roubo, receptação e clonagem de veículos. A investigação de um ano é dos delegados Rafael Liedtke e Marco Guns, que respondem pela Delegacia de Roubo de Veículos do Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic).
Violência
Liedtke destaca que ainda contabiliza o número de vítimas, mas revela que todas as pessoas que tiveram carros roubados por esta quadrilha confirmaram que os criminosos agiam com violência. Em todos os casos, sempre à luz do dia e geralmente em semáforos ou no momento em que os carros eram estacionados, os ladrões faziam ameaças e até agrediam os motoristas com coronhadas.
— Para se ter uma ideia da periculosidade do grupo, em um dos áudios obtidos pela investigação, eles dizem que vão dar coronhadas e até encher de tiros algum motorista que reagir — revela Liedtke.
Em tom de deboche, um dos integrantes envia uma mensagem para outro momentos antes do assalto — após identificar uma vítima — e diz que não vai hesitar em atirar se o motorista esboçar qualquer tipo de impedimento ao roubo do veículo.
Em outro áudio, os suspeitos falam que o carro roubado deve ter a placa trocada para depois ser levado no "brique", para ser vendido.
Roubos
De acordo com a investigação, os criminosos roubaram até dois carros em um só dia, mas o Deic informa que está aguardando que outras pessoas procurem a polícia após a divulgação da operação para ter um número exato de assaltos, bem como de vítimas. Em outra gravação, os ladrões destacam que devem separar um carro roubado para usar nos ataques, mas ressaltando que não pode ser por muito tempo para não chamar a atenção das autoridades da área de segurança.
O carro roubado e usado por um ou dois dias em assaltos era depois clonado para ser revendido por até R$ 2 mil. Os compradores eram de outras quadrilhas, principalmente de roubo de cargas e de estabelecimentos comerciais.
Liedtke diz que sempre dois integrantes do grupo agiam juntos e usavam um carro para as abordagens. O Centro e a zona norte da Capital eram os locais escolhidos porque facilitavam a fuga - após os roubos - para Canoas.
Entre os integrantes da quadrilha há ainda dois irmãos, sendo que um deles foi detido em clínica para dependentes químicos em Taquara, no Vale do Paranhana. Além disso, um dos 12 presos tem sete veículos em seu nome e a polícia vai apurar se são roubados e clonados, já que as documentações, em princípio, estão em dia. Todos integrantes do grupo têm antecedentes criminais, como por exemplo, homicídios, tráfico de drogas, roubos de carros, coletivos, comércio, entre outros. Pelo delito de organização criminosa, os suspeitos podem pegar uma pena de até oito anos de prisão. Por roubo de veículos, a pena chega a 10 anos, por receptação a cinco anos e por clonagem a seis anos.
Os ladrões devem também responder por porte ilegal de arma de fogo, cuja pena é de até seis anos de detenção. Mas Liedtke revela que o roubo de carros mediante violência com o emprego de arma de fogo, considerado um crime hediondo, pode propiciar uma pena de 16 anos de reclusão.