O juiz Alexandre Abrahão, da 3ª Vara Criminal do Rio, recebeu a denúncia oferecida pelo Ministério Público do Estado contra Eduardo Fauzi, acusado de integrar o grupo que arremessou coquetéis molotov contra a produtora do Porta dos Fundos, no Humaitá, Zona Sul do Rio, em dezembro de 2019. Na mesma decisão em que colocou o economista no banco dos réus, Abrahão ainda decretou sua prisão preventiva - até o momento o decreto prisional era temporário. O magistrado viu indícios mínimos de autoria do investigado por tentativa de homicídio e crime de explosão e ainda apontou risco à garantia da ordem pública caso ele fosse mantido em liberdade.
Fauzi foi detido no início do mês pela Interpol no Aeroporto Internacional de Koltsovo, em Ekaterinburgo, a 1.786 quilômetros de Moscou. Ele foi identificado pela 10ª Delegacia de Polícia Civil do Rio como um dos cinco autores do atentado ao Porta dos Fundos após ser flagrado por câmeras de segurança deixando o veículo usado na fuga. O grupo lançou bombas na fachada do imóvel na madrugada de 24 de dezembro, mas o fogo foi contido por um dos seguranças e ninguém ficou ferido.
Na denúncia apresentada à Justiça, o Ministério Público do Rio alegou que assumiu risco de matar o vigilante, uma vez que ele poderia ser visto pelo lado externo do prédio atacado, tendo em vista que a porta de acesso ao mesmo era de vidro. Os promotores defendem que a vítima só não morreu porque teve pronta reação, conseguindo controlar o incêndio e fugir do imóvel, mesmo a portaria sendo pequena, com apenas uma saída.
A decisão que recebeu a denúncia registrou ainda que o crime foi praticado por motivo fútil, 'por ter ocorrido discordância em relação ao material artístico' produzido pelo Porta dos Fundos.
Na época do atentado, o Porta dos Fundos era alvo de críticas em razão do lançamento do especial de Natal A Primeira Tentação de Cristo, na Netflix. A produção mostra um Cristo gay, interpretado por Gregório Duvivier, com um namorado. Um abaixo-assinado online chegou a pedir a retirada do programa da plataforma de streaming, sem sucesso. Ações judiciais também foram ajuizadas, mas decisões da Justiça do Rio e de São Paulo arquivaram os pedidos.
Dias após o ataque, Fauzi chegou a gravar um vídeo, divulgado nas redes sociais, em que chamou os humoristas de 'intolerantes'. Na gravação, ele diz que 'quem fala mal do nome de Cristo prega contra o povo brasileiro'. "Esse é um crime de lesa-pátria. Eles são criminosos, são marginais, são bandidos", afirmou. Um grupo autodenominado 'integralista' também divulgou um vídeo reivindicando o ataque à produtora.
Fauzi deixou o País cinco dias depois do ataque, em 29 de dezembro, um dia antes de ter a prisão decretada pela Justiça a pedido da Polícia Civil. Seu nome foi inserido na Difusão Vermelha da Interpol e no último dia 4 ele foi detido. A defesa recorreu ao Superior Tribunal de Justiça para tentar revogar a prisão temporária do economista e também suspender seu processo de extradição, mas o pedido foi negado pelo ministro Rogerio Schietti.
Até a publicação desta matéria, a reportagem do Estadão Conteúdo buscou entrar em contato com a defesa de Fauzi, mas sem sucesso. O espaço permanece aberto a manifestações.