O Ministério Público de Goiás (MP-GO) investiga um padre por suspeita de desvio de recursos e lavagem de dinheiro em verbas doadas por fiéis à Associação Filhos do Pai Eterno (Afipe), entidade católica daquele Estado. Segundo a Revista Época, Robson de Oliveira Pereira, 46 anos, teria movimentado R$ 1,7 bilhão desde o início da construção de uma basílica. O religioso se afastou das funções na instituição e se colocou à disposição para esclarecimento, dizendo-se "confiante de que tudo será esclarecido o mais breve possível".
Robson se tornou alvo na última sexta-feira (21) de investigação que o aponta como líder de organização que desviava valores para comprar imóveis e fazendas para fins pessoais. A entidade recebia R$ 20 milhões por mês em doações vindas de várias partes do país, aponta o G1. O padre pediu afastamento após o início da investigação.
Figura religiosa importante em Goiás, ele é criador e gestor da Afipe. A entidade é responsável pela construção de uma basílica capaz de receber 13 mil pessoas em Trindade, cidade localizada a 20 quilômetros de Goiânia. Anualmente, milhares de pessoas visitam a paróquia de Trindade, administrada pelo religioso.
Segundo o Ministério Público, o padre teria "realizado pagamentos a terceiros, utilizando-se, para tanto, de dinheiro e bens da Afipe".
A entidade, criada em 2004, usava o dinheiro das doações para financiar a construção da basílica, para obras sociais e para evangelização pela TV. A Afipe também é responsável por organizar a Romaria do Divino Pai Eterno, principal festa religiosa de Goiás e uma das maiores do mundo – em 2019, recebeu 3 milhões de fiéis.
Padre Robson tem um programa de televisão, onde dá conselhos com base em trechos da Bíblia.
— As contas bancárias da Afipe foram usadas para comprar fazendas, residências em condomínio fechado, apartamentos em São Paulo e Goiânia, fazendas em todo o Brasil. A Afipe tem o argumento religioso, mas se converteu em grande empresa no Estado de Goiás que explora inúmeras atividades, como agropecuária e mineração. Compra e vende inúmeros imóveis — declarou o promotor Sebastião Martins à TV Globo.
"Tudo é utilizado para levarmos nossa obra de evangelização ao mundo", diz padre
Os advogados do padre Robson disseram que todos os imóveis da Afipe são declarados e que ainda não tiveram tempo de analisar os documentos do Ministério Público.
Acrescentaram que a Afipe sempre investiu em outros negócios para aumentar os rendimentos. Um dos defensores afirmou que, para evangelizar mais pessoas, a entidade precisava de mais investimentos, e que tais aplicações nunca foram exclusivamente bancárias – muitas foram em negócios, com todo o rendimento sendo aplicado nas atividades fins da associação.
Em vídeo divulgado em suas redes sociais neste sábado (22), padre Robson afirma que se afastou da presidência da Afipe e da reitoria da Basílica e pontuou que está à disposição do Ministério Público. Ainda salientou que todas as doações feitas foram empregadas na própria Afipe e em favor da evangelização.
— Tudo é utilizado para levarmos nossa obra de evangelização ao mundo. Meu coração está sereno e confiante de que tudo será esclarecido o mais breve possível. A vida é feita de alegria, mas também de provações — afirmou.