A Polícia Civil vai verificar que medidas podem ser adotadas em relação ao caso de um padre que é alvo de acusações de abuso sexual que teriam ocorrido há mais de 40 anos no bairro Restinga, em Porto Alegre. Um processo canônico aceitou como verdadeiras as alegações de abuso de uma mulher de 53 anos e aplicou uma penitência ao padre Antônio Gasparini, de 86 anos, que vive na Itália desde 2016.
A apuração das suspeitas foi intermediada pela Comissão Arquidiocesana Especial de Tutela de Criança, Adolescente e Pessoa Vulnerável da Arquidiocese de Porto Alegre, que foi instalada em fevereiro. Representante da corporação na comissão, o delegado Thiago Solon Albeche disse que vai solicitar à congregação a que pertence Gasparini todo o histórico de trabalho dele no Brasil.
Com isso, será possível contatar as polícias de outros locais e analisar se há alguma denúncia de casos mais recentes. A prescrição para casos de estupro de vulnerável — contra menores de 14 anos — é de 20 anos, segundo o delegado. Então, em relação à situação ocorrida com a vítima que hoje tem 53 anos, não teria como ocorrer responsabilização criminal.
Ainda que surjam denúncias mais recentes, dificilmente eventual condenação judicial repercutiria de forma a levar Gasparini para a prisão, já que ele é idoso e vive em uma casa de repouso em Negrar, Verona. O caso que foi apurado pela Congregação Pobres Servos da Divina Providência teria ocorrido quando Gasparini trabalhou na Paróquia Nossa Senhora da Misericórdia, no bairro Restinga. A vítima contou ter sofrido abusos entre os seis e os 13 anos.
— Ele abria um livro com imagens de partes íntimas e começava a conversar. Quando aparecia a parte íntima feminina, ele me tocava no local. Por várias vezes. Acontecia no escritório dele, com a porta fechada — contou a mulher.
O processo canônico foi concluído em junho. Quanto à penitência aplicada, a congregação informou: "Pe. Antônio Gasparini, como repetidamente foi expresso por ele, oferece seus próprios sofrimentos internos e físicos para as vítimas. Que ele trabalhe com oração e com obras de piedade (orações, oferecimento do próprio sofrimento da doença) em nome da vítima. "
GaúchaZH apurou que Gasparini, que é italiano, trabalhou no Brasil a partir de 1965, começando no Seminário Apostólico Nossa Senhora do Caravaggio, em Farroupilha. De 1973 a 1983, atuou na Restinga. Depois, até 1994, trabalhou na Bahia, em Feira de Santana, na Casa Mãe de Deus e na Paróquia Nossa Senhora das Graças. Em Campo Grande, Gasparini foi pároco da Paróquia São João Calábria entre 1994 e 2006. Na paróquia Santo Antônio, de Batayporã, também em Mato Grosso do Sul, atuou até 2008, sendo que em 2007 esteve na Itália para fazer uma cirurgia do coração.
Entre 2008 e 2016, esteve novamente na Paróquia Nossa Senhora das Graças, em Feira de Santana. Nesta segunda passagem pela Bahia, o padre foi homenageado com a criação de instituto que leva seu nome. Desde agosto de 2016, mora na Itália.
Além do caso de Gasparini, a polícia também vai analisar detalhes de outra situação que foi denunciada à comissão: a de um jovem que relatou ter sido abusado por padres em Belém do Pará.
Como denunciar:
E-mail: tutela@arquipoa.com
Telefone: (51) 99733-4957 (ligações ou mensagens de WhatsApp). Funciona entre 7h e 19h.
Denúncias também podem ser feitas em outros órgãos, como diretamente na Polícia Civil ou no Ministério Público.