A Justiça determinou o ingresso na lista vermelha da Organização Internacional de Polícia Criminal (Interpol) do nome do traficante gaúcho Fabrício Santos da Silva, o Nenê, 37 anos. Líder de uma das maiores facções do Estado, ele sumiu do radar das autoridades após ser beneficiado com uma tornozeleira eletrônica por integrar o grupo de risco da covid-19. O criminoso acumula mais de 71 anos de condenação por crimes como tráfico de drogas, roubos e homicídios.
Com o nome na lista vermelha, o mandado de prisão de Nenê passa a ser válido em outros países. Policiais contam que é comum líderes do tráfico deixarem o país e rumarem para vizinhos da América do Sul para dificultar a recaptura.
A decisão de incluir Nenê na lista da Interpol é da juíza Sonáli da Cruz Zluhan, da Vara de Execuções Criminais (VEC) de Porto Alegre. Foi a própria magistrada que autorizou que ele usasse a tornozeleira eletrônica e deixasse o presídio. Procurada por GaúchaZH, ela preferiu não comentar a nova decisão.
A Polícia Civil é responsável por encontrar, novamente, Nenê. A missão fica a cargo da Delegacia de Capturas do Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic).
Quem é Nenê
Nenê é apontado como líder de uma facção criminosa que tem base no Vale do Sinos e se expandiu pelo Rio Grande do Sul, ganhando força e comando até dentro dos presídios. A facção é a mesma que tem líderes que lavaram dinheiro adquirindo uma fazenda no Mato Grosso com área quase três vezes o tamanho de Porto Alegre.
Ele foi preso em flagrante em Santa Maria do Herval, em setembro de 2005, após assalto a banco que resultou em confronto com PMs, com terminou com três pessoas mortas (dois comparsas de Nenê e um aposentado de 70 anos, vítima de um infarto). Também foi acusado da morte de um PM à paisana, em tiroteio em frente a uma boate, em Sapiranga, em fevereiro de 2012.
Em novembro de 2013, quando estava foragido, foi preso por policiais federais no aeroporto de Foz do Iguaçu, tentando embarcar para Florianópolis com documentos falsos. Em 2014, a esposa do criminoso foi sequestrada. Investigação apontou que um outro detento da Penitenciária de Alta Segurança de Charqueadas (Pasc) ordenou o crime e que Nenê pagou R$ 400 mil pela sua libertação.
Já no sistema prisional, ele foi um dos detentos que comandou a escavação de um túnel para fuga em massa do Presídio Central, em 2017. No mesmo ano, foi um dos 27 transferidos para presídios federais na Operação Pulso Firme. O preso havia sido encaminhado para Mossoró, no Rio Grande do Norte, mas retornou ao Rio Grande do Sul três meses depois.
Na decisão judicial que determinou o benefício da prisão humanitária ao apenado, constava o fato de que ele possui doença grave. Segundo exames e laudos médicos, o detento tem uma doença neurológica que provoca dor aguda e desmaios. Por isso e pelo fato de ser hipertenso, a Justiça decidiu pela prisão domiciliar em Estância Velha.
Colega de facção com benefício
Outro criminoso apontado em investigação por pertencer ao mesmo grupo recebeu a tornozeleira eletrônica pelo mesmo motivo na última semana. Fábio Roberto Souza Nunes, 49 anos, conhecido como Kapa, tem condenação até 2055, mas integra o grupo de risco da covid-19 e, por isso, saiu da cadeia.
Assim como Nenê, ele foi denunciado na investigação sobre o túnel que possibilitaria a fuga do Presídio Central, como um dos financiadores. Segundo o Núcleo de Inteligência do MP, Kapa já fugiu quatro vezes do cárcere desde que foi preso, em 1997, e já foi condenado pelos crimes de tráfico de drogas, roubo e furto, além de ser réu no processo sobre o túnel. Há tês anos, a Polícia Civil chegou a solicitar que ele fosse removido para um presídio federal, o que não foi aceito.