Morador de Gramado, na Serra, Bruno Michaelsen da Silva, 15 anos, era o mais velho de uma família de quatro irmãos. Filho de pai motoboy e mãe dona de casa, vivia com a família em uma casa humilde no bairro Jardim. Na noite de sábado (18), disse à mãe e ao pai que não sairia de casa, mas não cumpriu a promessa.
Na manhã seguinte, foi encontrado morto em uma cena brutal na localidade de Pinheirinhos, no interior de Santo Antônio da Patrulha, no Litoral Norte, a 70 quilômetros de onde residia. Segundo a polícia, o adolescente foi executado com 120 tiros.
Um dia após sepultar o primogênito, Vera Cristina Michaelsen, 39 anos, conta que ainda não acredita que o filho está morto. Ao mesmo tempo, tenta compreender o que pode estar por trás de tamanha brutalidade. Acredita que se o garoto tivesse obedecido o apelo deles, o desfecho poderia ter sido evitado. Na noite de sábado, ela já estava dormindo quando o adolescente foi até a cama dela e disse que a amava. A mãe pediu que ele ficasse olhando filme, e depois fosse dormir.
— Pedi para ele não sair de casa. Mas ele saiu e não voltou mais — diz a mãe.
Assim como a esposa, Jorge Correia da Silva, 59 anos, também pediu mais de uma vez para que Bruno não saísse. O adolescente costumava ir até a casa de amigos próximos, usar a internet e jogar videogame. O pai preparou a janta e depois a família ficou assistindo televisão. Perto da meia-noite, o motoboy decidiu ir se deitar e o filho ficou acordado. Antes, tentou se certificar que o adolescente não sairia. Combinou que os dois iriam pescar pela manhã.
— Não vou sair, pai — respondeu Bruno.
Por volta da 1h30min, o pai ouviu a movimentação dentro de casa e o adolescente saiu pela porta. Jorge gritou para saber onde ele ia, mas o filho já havia saído e não respondeu. Bruno havia levado somente o celular, e os pais acreditaram que ele havia ido para a casa de um amigo, vizinho da família.
Quando o dia amanheceu, não encontraram o filho em casa e o telefone não chamava. Como o adolescente não voltava, começaram a procurar na casa de amigos. Descobriram que ele não havia dormido no vizinho, como tinham cogitado.
— Ele sempre voltava para casa, às vezes dormia nesse amigo, aqui pertinho, mas logo cedo estava de volta. Caminhei por todo o bairro, fui na casa do amigo dele duas vezes, pedi para olhar dentro, para ter certeza que ele não estava lá, procurei nos matos. E nada. Ninguém sabia do meu filho — relata Vera.
Foi por uma fotografia no celular que os pais reconheceram o corpo do filho. A notícia de que uma pessoa havia sido encontrada morta no interior de Santo Antônio da Patrulha havia se espalhado. Quando viram as imagens que estavam sendo compartilhadas, reconheceram a tatuagem em uma das mãos. Bruno namorava uma adolescente há cerca de um ano _ era o nome dela que estava tatuado, junto de três estrelas. Ao ver a foto, a mãe entrou em desespero. O corpo de Bruno foi sepultado na manhã desta segunda-feira (20), no Cemitério Municipal de Canela.
— Hoje de manhã eu levantei e fui na cama dele, como fazia todos os dias, para ver se ele estava dormindo. É como se ele ainda fosse voltar. É muito difícil. Meu Deus. Foi meu primeiro nenê. Meu xodó. Virei noites embalando carrinho, dormia sentada com ele no colo. E agora? Espero que descubram quem fez isso e que pague muito caro — desabafa a mãe.
"É uma derrota", diz pai
Segundo a família, o garoto iniciou os estudos na Escola Estadual de Ensino Fundamental David Canabarro. Como estava atrasado no ensino, no início deste ano foi matriculado para frequentar o equivalente ao 6º ano da Educação de Jovens e Adultos (EJA) na Escola Municipal de Ensino Fundamental Mosés Bezzi. Mas, por conta da pandemia, só frequentou três semanas de aula presencial no turno da noite.
Em casa, Bruno era quieto e passava a maior parte do tempo no celular. Costumava sair na companhia de amigos e da namorada, para acampar e pescar. O pai queria que o filho começasse a trabalhar ou arranjasse algum estágio. O adolescente chegou a passar duas semanas no interior de Nova Petrópolis com a namorada, em uma propriedade rural. Mas os dois haviam retornado de lá há cerca de 15 dias. Ele dizia que ao completar 18 anos iria se alistar no Exército. Bruno também adorava fazer desenhos coloridos.
Na noite em que desapareceu, o adolescente foi visto na rua, próximo de casa, onde disse que estava aguardando por amigos. Depois disso, teria embarcado em um veículo branco. Segundo a família, Bruno nunca tinha ido até Santo Antônio da Patrulha. O pai conta que orientava para que o filho não se envolvesse com drogas, mas acredita que, pela brutalidade do crime, haja envolvimento de alguma facção criminosa.
— O mais longe foi até Nova Petrópolis. Tenho certeza que levaram ele para lá para despistar. Ele não era de ficar fora de casa. Sempre vinha, de qualquer maneira. Cento e vinte tiros, isso é um absurdo, uma barbaridade. Não tem explicação. É uma derrota para um pai. Um guri, com a vida toda pela frente. Quem fez isso, deveria ter muita raiva do meu filho —lamenta o pai.
Segundo a Polícia Civil, que apura o caso, foram usados três calibres diferentes de armas na execução do adolescente. O caso é apurado pela equipe da Delegacia de Polícia de Santo Antônio da Patrulha, com apoio da polícia de Gramado.
Investigação
O delegado Valdernei Tonete, da DP de Santo Antônio da Patrulha, informou que as circunstâncias ainda estão sendo esclarecidas. Afirmou que não conseguiu ouvir os familiares e amigos da vítima até o momento, por conta da distância entre as cidades e que pretende colher estes depoimentos nos próximos dias.
— O que poderia ser feito até agora, foi. Mas precisamos ouvir os pais dele, a namorada, os amigos. Ele não possui vínculos com Santo Antônio da Patrulha, é tudo em Gramado. Os criminosos usam isso como estratégia para dificultar a investigação. Infelizmente, não temos somente esse caso para resolver — afirmou.
Para o delegado, os autores tentaram dificultar a identificação da vítima, já que parte dos disparos atingiram o rosto. Sobre o crime, Tonete afirma que o número de disparos e o tipo de armamento empregado chama atenção — foram usados na execução pistolas, de calibres 9 milímetros e .40, além de fuzil calibre 556. O celular do adolescente não foi localizado no local do assassinato.
— Não tenha dúvidas de que os inimigos dele deveriam estar com muita raiva, tamanha a atrocidade para cometer um crime desses. Mas vamos chegar aos autores — disse.