Desde o incício do ano, mais de 1,2 milhão de golpes e tentativas de golpes virtuais foram identificados no Rio Grande do Sul, segundo levantamento inédito de uma empresa de segurança de dados obtido pela RBS TV. Mas não é só isso, os casos de estelionado, que é quando uma pessoa é enganada, aumentaram consideravelmente durante a pandemia do coronavírus.
De acordo com a empresa de segurança PSafe, dessas fraudes, 139 mil tinham como tema o coronavírus.
Com as medidas de isolamento, os bandidos apostam também em golpes virtuais. São falsos links que prometem, por exemplo, auxílio emergencial. Por trás dessas mensagens, estão tentativas de contaminar o celular ou o computador das vítimas.
João Pedro comprou um computador pela internet, só que o produto nunca chegou. Tudo parecia real. Fotos do computador, imagem do momento em que a suposta encomenda era postada nos Correios e até um vídeo da suposta filha da golpista, enviado para passar a ideia de que a vendedora era uma pessoa de família. O prejuízo foi considerável, mais de R$ 2 mil.
— Eu tentei me precaver, tomar todos os procedimentos necessários para garantir minha segurança e também a do então anunciante. Chegou a compartilhar, me mandar videos dela dando comida para as filhas bebês, fez todo um teatro que foi bastante convincente para mim. Eu pedi que ela mandasse uma foto do documento dela, eu mandei do meu também para ter um pouco mais de segurança de fazer a transação.
João Pedro diz que tudo levava a crer que o negócio era seguro. Ele tentou se precaver até o último momento.
— Como ela estava em outra cidade, combinei que só ia fazer o pagamento no momento em que ela postasse o computador nos Correios. Fiz o pagamento e uma pessoa me mandou fotos da agência, de um comprovante com o meu nome, que depois identifiquei que era uma imagem editada. O produto nunca chegou, e quando fui comentar, a pessoa já tinha me bloqueado no WhatsApp. Foi um prejuizo de R$ 2.380. É um dinheiro que eu tinha guardado, não é um dinheiro que eu tinha sobrando. Foi muito preocupante porque é um instrumento de trabalho, eu sou aluno de universidade, preciso de um computador para estudo. Não tive outra opção a não ser entrar na Justiça para correr atrás dos meus direitos. Como é que a plataforma me coloca em contato com uma pessoa golpista? Como eles não fazem nenhuma verificação dos dados dos usuários que se cadastram para vender produtos?
Segundo a Secretaria da Segurança Pública do RS (SSP), os casos de estelionato cresceram 25% durante a pandemia.
Silvana, de Tramandaí, decidiu ajudar o pai. Ele queria renegociar as parcelas do carro, mas acabou caindo em uma armadilha. Quando quis fazer contato com o banco, foi direcionada para um endereço de internet muito parecido com a página oficial da instituição e, de lá, para um aplicativo de mensagens. No final, eles ficaram com um prejuízo de R$ 744.
— Aí eu fui clicando o passo a passo. Fui indo até aparecer um WhatsApp. E veio as opções se eu quisesse prorrogar a parcela eu adiatanria com desconto. Eu adiantei a parcela e não apareceu o pagamento até hoje. Aí eles me bloquearam.
O especialista em tecnologia Ronaldo Prass examinou o celular que a Silvana usou para ligar paro banco.
— Ele (celular) foi infectado por um programa malicioso. Ela deve ter recebido um link através de mensagem de WhattsApp. Ela, achando que estava em comunicação com o canal oficial da instituição, acabou recebendo esse arquivo. Ele induz ela ao pagamento de um boleto falso e aí é que o golpe ocorre — explica.
A dica é: desconfie de tudo que recebe. De acordo com o Procon, nos classificados virtuais o consumidor deve redobrar todo o tipo de cautela. Ele deve desconfiar de imagens muito atrativas, que pareçam, realmente, imagens profissionais, e buscar sempre, antes de fechar qualquer negócio, manter contato mais direto, ter mais informações desse vendedor e, se possível, apenas efetuar o pagamento presencialmente ou depois de ter vistoriado as condições do produto que ele pretende adquirir.
Contraponto
Em nota, a Federação Brasileira de Bancos disse que as tentativas de golpes virtuais subiram 45% desde o início da pandemia.