O assassinato de João Victor Friedrich de Oliveira, 31 anos, foi planejado pela família da namorada da vítima antes da data da morte, em 6 de março, em um apartamento em Novo Hamburgo, no Vale do Sinos, segundo a Polícia Civil. À frente do caso, o titular da Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) da cidade, delegado Marcio Niederauer afirma que a motivação do crime foi patrimonial. Dentro do imóvel, foram encontrados R$ 2,1 milhões e uma série de armas.
Segundo a investigação, João Victor foi morto no local e teve o corpo ocultado em uma chácara, no interior de São Sebastião do Caí. A polícia aponta sete envolvidos na ação, dos quais cinco já foram denunciados pelo Ministério Público. Entre eles, cinco seguem presos, uma mulher está em detenção domiciliar e a adolescente de 16 anos, namorada da vitima, responde em liberdade.
Com as mãos cortadas e em avançado estado de decomposição, a identificação do cadáver foi confirmada a partir de dois exames de DNA, realizados pelo Instituto-Geral de Perícias (IGP). Segundo o delegado, o dinheiro encontrado no apartamento foi obtido por meio de atividades criminosas e aplicação de golpes.
— O sogro do João Victor é um estelionatário, que aplica golpes de milhões (de reais). A maioria das vítimas eram empresários, e o João Victor estava dentro dessa cadeia criminosa: era um dos braços responsáveis pela intimidação das vítimas e pela proteção da família — explica o delegado.
A investigação aponta que os sete envolvidos no crime faziam parte de uma associação criminosa que praticava golpes no Rio Grande do Sul e em outros Estados. Segundo a polícia, esse era o meio de vida da família. De acordo com Niederauer, o pai da jovem já queria o término da relação da filha com a vítima pois se incomodava com a diferença de idade entre os dois e por receio de que o genro viesse pegar o dinheiro que faturavam com os estelionatos:
— Antes do crime, o pai já havia efetuado disparo de arma de fogo para intimidar João Victor, mas eles se acertaram (fizeram as pazes). Temos elementos que provam que eles estavam planejando essa morte, tem diálogo com imagens em que adolescente comprou uma arma com silenciador e mandou mensagem para o pai, dizendo que havia conseguido comprar. Havia um planejamento para a morte e a coisa fugiu do controle naquela madrugada.
Na noite do dia 6 de março, João Victor agrediu a namorada em uma festa. Após a briga, ela voltou sozinha e quando retornou ao apartamento, já estava acompanhada de um policial militar amigo da família. Naquele momento, de acordo com o delegado, ela disse ao pai que havia sido agredida. Momentos depois, imagens mostram o pai da adolescente e o PM saindo do prédio, ambos armados, atrás do João Victor na festa para, segundo Niederauer, antecipar o plano da execução.
Temos elementos que provam que eles estavam planejando essa morte, tem diálogo com imagens em que adolescente comprou uma arma com silenciador e mandou mensagem para o pai, dizendo que havia conseguido comprar. Havia um planejamento para a morte e a coisa fugiu do controle naquela madrugada.
MARCIO NIEDERAUER
Titular da Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) de Novo Hamburgo
— Eles pensavam que iriam pegá-lo em via pública, mas o João Victor retorna para a residência, onde estava somente a adolescente e a mãe dela. Aí ocorre um desencontro. Então o pai e o PM retornam, e a vítima os recebe tranquilamente dentro da casa, diferente do que a defesa diz, que ele estava descontrolado. É quando ocorre o crime. Temos isso tudo documentado. O crime vinha sendo premeditado, no entanto, eles não planejavam fazer da forma que foi feita, para não chamar atenção das autoridades — detalha o delegado.
Responsável pela defesa da família, o advogado Jean de Menezes Severo nega que o crime tenha acontecido de forma premeditada. Segundo ele, a ação foi legitima defesa da adolescente:
— Estamos convictos que ela defendeu a si e sua família. Vamos comprovar isso com tranquilidade. Chegou em nossas mãos um celular, que ele escondia da própria namorada, onde há um plano de que ele pretendia fazer mal para a família.
Na avaliação do delegado, a tese de defesa não fecha com a cena do crime:
— O corpo foi ocultado não por acaso, se ela tivesse agido em legítima defesa, eles teriam deixado o corpo lá. Se houvesse agressão, teriam chamado a polícia. Não estivesse um PM envolvido na trama criminosa, ele teria dado voz de prisão para todos eles. Então, eles somem com o corpo, que mostraria melhor a dinâmica do crime.
A polícia ainda aguarda laudo pericial para averiguar quantos disparos João Victor sofreu. De acordo com o delegado, o próprio pai da adolescente, em depoimento e, por um descuido, confessou que no momento do disparo, a vítima estava desarmada, e que o tiro foi pelas costas, na região da cabeça. A investigação também aponta que todas as armas que estavam no apartamento não tinham registro e eram usadas para intimidar as vítimas dos golpes.
O PM envolvido no crime, conforme a polícia, além de ser conhecido dos pais da adolescente e do João Victor, vinha recebendo dinheiro da família, segundo comprovantes de depósito obtidos pela investigação:
— Acreditamos que estes pagamentos já pudessem ser parte do plano para dar cabo da vida da vítima. É um servidor público, PM, que estava recebendo dinheiro de um estelionatário, envolvido em diversos crimes e com um arsenal de armas em casa, acreditamos que era uma ajuda da família para ele se livrar do João Victor.
Os envolvidos no crime, conforme a investigação
- Pais da adolescente: teriam planejado e participado do assassinato do genro, além da ocultação do cadáver, entre outros crimes. O homem chegou a fugir da Delegacia de Homicídios, mas foi recapturado pela equipe de Novo Hamburgo em São José (SC). Estão presos.
- Policial militar: teria participado do assassinato e da ocultação do cadáver. Recebeu dinheiro da família. Está preso.
- Homem: preso junto do pai da adolescente, de quem é primo, quando se preparava para fugir. Teria auxiliado o pai da adolescente a se desfazer de provas do crime. Está preso.
- Mulher 1: teria auxiliado no crime, transportando o pai da adolescente, e ajudando a se desfazer de provas. Presa preventivamente, mas obteve prisão domiciliar por problemas de saúde.
- Mulher 2: irmã da Mulher 1, teria ajudado a se desfazer de provas. Está presa. Foi indiciada por último e ainda é investigada pelo MP.
- Adolescente: responde em procedimento separado por participação na morte do namorado. Foi internada, mas está em liberdade.