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Responsável por defender a família acusada da morte de João Victor Friedrich de Oliveira, 31 anos, em Novo Hamburgo, no Vale do Sinos, o advogado Jean de Menezes Severo nega que o crime tenha acontecido de forma premeditada - como foi descrito na denúncia do Ministério Público. Segundo o criminalista, a morte se deu em legítima defesa, durante uma briga no apartamento. Ele argumenta que o rapaz agrediu a namorada, uma adolescente de 16 anos, ela reagiu e, para proteger a si mesma e aos familiares, atirou duas vezes nele.
O caso foi descoberto na madrugada de 6 de março, após a Brigada Militar ser chamada até o prédio no bairro Rio Branco por vizinhos. Os moradores ouviram sons de disparos vindo do imóvel da família da adolescente. Os policiais encontraram no apartamento a jovem, que acabou apreendida, e a mãe dela, que foi presa.
No local, foram localizados R$ 2,1 milhões em dólares e reais, além de seis armas. Havia marcas de sangue dentro do apartamento. O desaparecimento de João Victor começou a ser investigado a partir dali, até o corpo dele ser encontrado enterrado em São Sebastião do Caí. Cinco pessoas respondem como réus pelo crime atualmente, entre elas os pais da adolescente, que estão presos.
Conforme o advogado, o dinheiro que estava no apartamento foi obtido por meio de negociações do ramo imobiliário. Ele afirma que o pai da adolescente é empresário nesse setor há mais de duas décadas. Severo argumenta que João Victor tinha antecedentes criminais, por delitos como roubo e tráfico de drogas, e que ele agrediu a namorada em uma festa, horas antes de ser morto. A jovem teria tentado romper o relacionamento, o que teria motivado a violência.
— Ele veio a descobrir que essa família possuía dinheiro em casa. Na noite do fato, ele levou ela a uma festa, agrediu, espancou e forçou a dizer onde estava o dinheiro — relata.
O advogado argumenta que o homem que aparece nas imagens de câmeras de segurança com o pai da adolescente — um policial militar temporário que também está preso e é réu no processo — era amigo da vítima. Severo diz que foi ele quem levou a adolescente para casa após ela ser agredida pelo namorado. E que, ao saber que a filha havia sido espancada, o pai da jovem foi atrás do genro.
Ainda conforme o criminalista, enquanto os dois buscavam por ele, João Victor teria ido até o apartamento da namorada. Segundo o advogado, ele teria começado a destruir a porta a chutes e, por isso, a mãe da adolescente teria dado um tiro de advertência para que ele fosse embora. É nesse momento, conforme Severo, que o pai e o policial militar retornam, encontram João Victor no acesso ao prédio e voltam ao apartamento com ele.
— O Vitor passa a agredir todo mundo, destruir o apartamento. Parte para cima da mãe (da adolescente), entra em luta corporal até com o policial. Ele (João Victor) pega uma arma e chega a ter um disparo, não se sabe se foi ele ou o policial. Acerta a perna dele (João Victor). Mas ele não para. A (cita o nome da adolescente) pega uma arma e dá dois tiros nele. Mas nenhum momento pelas costas. A legítima defesa está mais do que comprovada — afirma.
Segundo o advogado, não havia relação de sociedade entre a vítima e a família da adolescente. Ele também nega que o crime tenha sido motivado por queima de arquivo.
— O valor estava dentro da residência. Esses valores eram deles. Eles nunca foram sócios. A gente vai conseguir comprovar isso com tranquilidade. No local dos fatos tinha um policial militar. Um policial militar que não iria agir de maneira injusta. O que aconteceu ali foi claramente uma legítima defesa própria e de terceiro. Ela atirou, senão o rapaz ia matar todo mundo — afirma.
Outros pontos:
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Qual a origem do dinheiro e por que estava guardado em casa?
Advogado afirma que o pai da adolescente é proprietário de uma construtora há 26 anos. Diz que trabalha com imóveis de alto padrão e havia recebido um pagamento recente, que estava guardado em casa.
Por que havia seis armas no apartamento que foram apreendidas pela BM?
Defesa argumenta que o pai da adolescente pratica tiro e é aficionado por armas.
Por que a Mercedes usada para descartar o corpo tinha placas clonadas?
Advogado diz que o pai da adolescente havia comprado o veículo e não sabia que ele tinha placas clonadas.
— Ele nem precisaria ter um carro clonado — disse Severo.
Se o crime aconteceu em legítima defesa, por que esconderam o corpo?
O advogado argumenta que, ao perceber que João Victor estava morto, a família ficou desorientada. Que o pai da adolescente e o policial saíram com o corpo no veículo. Afirma que o PM foi deixado em um posto de combustíveis e que o pai da jovem foi quem escondeu o cadáver em São Sebastião do Caí.
BM abriu sindicância
O policial militar temporário foi detido no dia 11 de março, em Canoas, na Região Metropolitana. Procurada sobre o envolvimento dele no caso, a Brigada Militar afirmou que a relação com o crime é de natureza civil porque aconteceu durante o período de folga do servidor. E que, portanto, compete à Polícia Civil a apuração do ocorrido (ele já foi indiciado, denunciado e se tornou réu pelo crime). Ainda assim, a BM informou que foi aberta sindicância por parte do comando do 15º Batalhão de Polícia Militar (BPM) para apurar as circunstâncias. Ele segue no Presídio Policial Militar à disposição da Justiça.
O que diz a acusação
Ao contrário do que alega a defesa, para a Polícia Civil e o Ministério Público se trata de um crime premeditado e a briga entre a adolescente e o namorado teria sido somente pretexto para cometer o assassinato. Cinco pessoas respondem como réus por envolvimento no caso. Os pais da adolescente e o policial militar temporário são acusados de homicídio, entre outros crimes. Os demais respondem por terem auxiliado, por exemplo, a ocultar provas, mas sem relação direta com o assassinato.
A acusação afirma que João Victor foi morto para garantir que ele não ficaria com o dinheiro que estava no apartamento e em uma queima de arquivo — porque ele teria conhecimento sobre a origem do dinheiro. Seis pessoas foram presas ao longo da investigação — uma delas está em prisão domiciliar no momento. A adolescente chegou a ser internada em uma unidade da Fundação de Atendimento Socioeducativo (Fase), mas atualmente está em liberdade. Por ser menor de 18 anos, ela responde pelo caso em procedimento separado dos demais.
Por que não publicamos os nomes dos réus?
GaúchaZH não identifica os réus por envolvimento no desaparecimento e morte de João Victor Friederich de Oliveira, 31 anos, em Novo Hamburgo, para preservar a identidade da adolescente de 16 anos. A preservação do nome de adolescentes infratores é determinada pelo Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA).
Entenda o caso
- Na madrugada de 6 de março, a Brigada Militar foi chamada até um prédio na Rua Marcílio Dias, em Novo Hamburgo, após moradores ouvirem disparos de arma de fogo. Em um apartamento, os policiais encontraram armas, reais e dólares (num total de R$ 2,1 milhões).
- Uma adolescente, de 16 anos, e a mãe dela, de 35 anos, foram detidas no local. Havia manchas de sangue no imóvel. À polícia, a garota alegou que brigou com o namorado, João Victor Friederich de Oliveira, 31 anos, e que acabou atirando na perna dele. Disse ainda que, depois disso, ele deixou o apartamento. Como o namorado não foi localizado, a polícia passou a investigar o desaparecimento.
- Pelas câmeras do prédio, a polícia descobriu que dois homens armados estiveram no imóvel. As imagens mostram alguém sendo transportado pelos dois até o porta-malas de uma Mercedes e a mulher tapando a câmera. Seria o corpo de Oliveira. Ela ainda limpa o chão da garagem após a saída do veículo. A adolescente foi internada e a mãe teve a prisão preventiva decretada. A mesma Mercedes foi encontrada carbonizada no interior de Portão.
- Em 9 de março, a equipe da Delegacia de Homicídios prendeu o pai da adolescente em um estacionamento de Novo Hamburgo. Segundo a polícia, ele se preparava para fugir. Foram apreendidas com ele mais armas e dinheiro. Um homem, que não seria o mesmo flagrado nas câmeras com ele, também foi preso. Por volta das 21h40min, o preso escapou da Delegacia de Homicídios. Ele estava algemado em uma cadeira no corredor e ainda não havia sido ouvido.
- Dez dias depois, o pai da adolescente foi recapturado pela equipe da Delegacia de Homicídios de Novo Hamburgo, em uma residência em São José, Santa Catarina. Com ele, foi apreendida uma Hilux e cerca de R$ 60 mil em dinheiro.