O mês de março teve o menor número de vítimas de latrocínio — roubo com morte — no Rio Grande do Sul em 18 anos. Desde que começou a contagem feita pela Secretaria da Segurança Pública (SSP), em 2002, o número de pessoas mortas em roubos nunca havia sido tão baixo. Os indicadores criminais foram divulgados nesta quarta-feira (8).
No último mês, uma pessoa foi morta em um roubo, em Bagé, na Região da Campanha. No ano passado, oito pessoas foram assassinadas nessas circunstâncias em igual período. A queda é significativa: 87,5 %.
A redução dos índices coincide com a menor circulação de pessoas nos últimos dias do mês em razão do isolamento social como medida preventiva para o contágio do coronavírus. Em 19 de março, o governador Eduardo Leite decretou situação de calamidade pública.
Nos roubos a veículos, a queda foi de 10% em março em comparação com igual período do ano passado. Foram 858 carros, motos ou caminhões levados por criminosos no último mês contra 957 no ano passado. Em Porto Alegre, a redução é ainda maior, de 18%.
Os assaltos a pedestres caíram 20% em comparação com março do ano passado. Foram registradas 3.294 ocorrências, contra 4.115 do outro ano. Na Capital, a queda nesse tipo de crime foi de 18%.
Também caíram roubos a transporte coletivo (43%), a bancos (42,9%), roubos e furto a estabelecimentos comerciais (16,6%) e furtos em geral (37%).
Um dos poucos crimes a aumentar foi o estelionato. Criminosos aplicaram 2.165 golpes em março, crescimento de 6%.
Homicídios e feminicídios
Os casos de homicídios e feminicídios, no entanto, seguem estáveis no Rio Grande do Sul. Após alta de 10,6% em fevereiro, os casos de homicídio ficaram estáveis no terceiro mês do ano. Foram mortas 146 pessoas no Estado, contra 147 em igual período do ano passado. Em Porto Alegre, março registrou 30 assassinatos, dois a mais do que no em 2019. O aumento é de 7% na Capital.
O Estado não vem conseguindo reduzir o número de vítimas de feminicídio. Onze mulheres foram mortas no último mês, mesma quantidade de março do ano passado. Fevereiro e janeiro deste ano tiveram alta desse tipo de crime.
Já são 26 mulheres mortas em feminicídios em 2020, alta de 73% em relação aos 15 casos dos três primeiros meses do ano passado.
Na tentativa de frear a violência contra a mulher, a Brigada Militar anunciou nesta semana que aumentou o número de cidades atendidas pela Patrulha Maria da Penha. Foram incluídas 38 cidades a partir de de abril. O atendimento passou a ser feito em 84 municípios.
Isolamento contribuiu para o índice
Responsáveis pelas polícias do Estado, o comandante-geral da Brigada Militar (BM), coronel Rodrigo Mohr Picon, e a chefe da Polícia Civil, delegada Nadine Anflor, concordam que a diminuição no movimento devido ao isolamento social contribuiu para a queda nos indicadores. Pontuaram ainda que as forças de segurança têm conseguido manter a ordem e o número de agentes diante da pandemia.
— Já tínhamos índices em queda, mas a questão do confinamento das pessoas obviamente favoreceu a diminuição de praticamente todos os números. São menos carros e pedestres circulando e está mais fácil até para achar veículos e criminosos — comentou Mohr.
— Há redução lógica dos crimes com a queda na circulação de pessoas. Mas a diminuição é, também, porque as polícias não pararam. Nos últimos 15 ou 20 dias, orientamos as equipes em viaturas a atuar de maneira mais ostensiva, justamente para evitar saques e arrombamentos. Além de investigar, fomos às ruas— explicou Nadine.
Sobre os homicídios — fevereiro teve alta e março manteve o indicador estável —, Mohr disse que a BM está reforçando o serviço de inteligência para evitar conflitos ligados ao tráfico, principal motivo apontado pelo oficial para índices altos de assassinatos.
A chefe da Polícia Civil afirmou que já esperava, após período de queda em 2019, acréscimo no número de homicídios neste ano. Segundo ela, o recrudescimento nos assassinatos não acontece nos 18 municípios do programa RS Seguro que receberam reforço policial, mas em pequenas cidades.
Sobre os feminicídios, que também se mantiveram estáveis, Mohr informou que houve aumento nos municípios com Patrulha Maria da Penha, passando de 46 para 84. Além disso, afirmou que prepara treinamento para os PMs receberem denúncias contra as mulheres.
Nadine alega que a elucidação de casos de feminicídio é de cerca de 90%. Havia temor de que casos de violência doméstica aumentassem em função do isolamento, o que não se confirmou. A Polícia Civil criou conta no Whatsapp para receber denúncias, por meio do número (51) 98444-0606.