Para ampliar a disponibilidade de itens primordiais nos hospitais e proteger os agentes de segurança, o setor carcerário gaúcho decidiu utilizar uma mão de obra muitas vezes ignorada: a dos detentos do regime fechado.
Em meio a pandemia do coronavírus, profissionais de instituições hospitalares têm reclamado da falta dos equipamentos de proteção individual (EPI). O mesmo ocorre com policiais penitenciários, que serão os primeiros a receber máscaras cirúrgicas fabricadas por detentas do Presídio Estadual Feminino de Torres, no Litoral Norte.
— Os presos ficam satisfeitos em ajudar, eles demonstram esse sentimento. Todos sabem que fizeram algo errado e, além de pagar a pena, podem contribuir — avalia o delegado regional penitenciário Benhur Calderon.
Duas religiosas, integrantes da Pastoral Carcerária e da Igreja Universal, atuam de forma voluntária com lições sobre costura, além de realizar uma espécie de controle de qualidade dos itens fabricados. A previsão é entregar 350 máscaras nesta sexta-feira (3) para os policiais que atuam nas cadeias e também aos demais servidores da Superintendência dos Serviços Penitenciários (Susepe). Bombeiros militares também podem ser beneficiados pela ação caso seja ampliada a oferta de materiais, o que depende de investimentos.
Em Torres, 10 detentas operam máquinas de costura na fabricação das máscaras faciais. O número só não é maior, segundo Calderon, devido a falta de equipamentos e de matéria-prima. Uma compra em grande escala dos suprimentos está sendo negociada, segundo o delegado, para ampliar os municípios gaúchos atendidos. Entre os materiais, são necessários os tecidos estilo TNT branco, elásticos e clipes nasais, além de linha para as amarras.
É estudada ainda a inclusão da estrutura da Penitenciária Modulada de Montenegro, no Vale do Caí.
Hospitais também ganham materiais
Montados para atender a demanda exponencial esperada para as próximas semanas, três hospitais de campanha de Canoas, na Região Metropolitana, deverão receber roupa de cama da iniciativa. Em tratativa com a prefeitura do município, a intenção é confeccionar lençóis de vinil para serem usados sobre os colchões, item de fácil higienização na constante troca de pacientes em cada leito. O secretário municipal de Segurança Pública e Cidadania, Alberto Rocha, afirma que o maior desafio é adquirir o plástico e demais componentes, material em falta na indústria.
— Gostamos muito da ideia da parceira, e ano passado mesmo já recebemos roupa de cama fabricada por detentos, no hospital universitário — relembra.
Os centros de emergência de Canoas estão sendo construídos ao lado das unidades de pronto atendimento (UPA) Boqueirão e Rio Branco, e no estacionamento do Hospital Nossa Senhora das Graças.
Em Osório, também no Litoral Norte, já foram entregues 134 lençóis ao Hospital São Vicente de Paulo. A roupa de cama foi fabricada por cinco presos da penitenciária estadual localizada no município. O material foi doado pelo hospital.
Do Presídio de Cruz Alta, no noroeste gaúcho, saíram 17 jogos de lençóis, com destino ao Hospital São Vicente de Paulo. Em Lajeado, no Vale do Taquari, a confecção de máscaras é realizada por mulheres que já frequentavam as aulas de artesanato na unidade.
A cada três dias de trabalho, o preso reduz um na pena que ainda tem a cumprir.