Todos os dias, Terezinha Alfredo, 51 anos, costumava mais de uma vez atravessar a Rua Atílio Supertti, no bairro Vila Nova, na zona sul de Porto Alegre, para ir e vir da casa da mãe, no condomínio em frente ao que ela morava. Deveria ter sido assim também na noite de 24 de março, mas a policial militar da reserva não conseguiu completar o trajeto. Enquanto caminhava, acabou sendo atacada por assaltantes. Foi baleada e não sobreviveu. Um mês depois, a Polícia Civil ainda tenta desvendar o latrocínio (roubo com morte) que tirou a vida da sargento.
Único filho de Terezinha, Dionatan Alfredo, 33 anos, herdou dela o apreço pelos esportes. A policial era apaixonada pela prática de atividades físicas. Na reserva da Brigada Militar (BM) há três anos, participava com frequência de corridas e dedicava as manhãs a manter o corpo em movimento em uma academia perto de casa. Acostumado a acompanhá-la nas competições desde criança, o rapaz seguiu os passos da mãe e acabou decidindo cursar faculdade de Educação Física. A um ano de ele concluir o curso, os dois tinham planos.
— (Ela queria) me ver formado. Abrir um espaço funcional ou uma academia, depois que eu me formasse. Carrego isso dela, esse vínculo com o esporte e essa positividade que ela tinha na vida — descreve o filho.
No verão, os dois participaram juntos de mais uma corrida em Capão da Canoa, no Litoral Norte. O filho guarda as imagens registradas durante a competição noturna realizada em fevereiro. Aos fins de semana, era comum eles seguirem juntos para a orla da Praia de Ipanema e se exercitarem. No dia a dia, Terezinha costumava se dedicar à família e ao trabalho voluntário em uma casa espírita.
— Ela cuidava da minha avó, que tem 83 anos. Estava sempre preocupada em ajudar os outros. Era a vida em pessoa. Bondosa, dedicada — recorda o filho.
Por volta do meio-dia do dia 24 de março, Dionatan se despediu da mãe na casa da avó. Terezinha pediu ao filho para que comprasse aveia para ela no Mercado Público. A policial da reserva era preocupada com a alimentação saudável. No fim da tarde, o filho falou, por mensagem de WhatsApp, que não dormiria na casa da avó naquela noite. Terezinha então ficou de passar a noite com ela. Quando foi atacada pelos assaltantes, estava a caminho do apartamento da mãe. Após ser baleada no abdômen, chegou a ser socorrida e encaminhada ao Hospital de Pronto Socorro, mas não resistiu.
Terezinha já havia sido assaltada pelo menos outras três vezes. Em uma delas, quando ainda estava na ativa da BM, chegou a render um dos criminosos dentro de uma lotação. O filho acredita que a mãe pode ter reagido novamente, embora ela não andasse armada, por opção.
— Penso que tenha sido da mesma forma. Que ela tenha tentado se defender e acabou alvejada. Nada vai trazer ela de volta, infelizmente. Isso não vai mudar — lamenta Dionatan.
Atividade policial
Natural de Liberato Salzano, no norte do RS, Terezinha ingressou na Brigada Militar (BM) ainda jovem, em 1990. Trabalhou em Porto Alegre, no atendimento do 190, passou pelo departamento administrativo, atuou na segurança durante os governos Olívio Dutra e Tarso Genro, e integrou a Escola de Educação Física. Lá, por cerca de oito anos, podia unir a paixão pelo esporte com a profissão que havia escolhido. Na BM também teve destaque participando de competições de corrida nas quais representava a corporação.
— Ela chegou a ser uma das melhores corredoras em Porto Alegre e do Estado. Representava a Brigada Militar, ganhou inúmeras provas — recorda o filho.
Após a morte da policial, a BM divulgou uma nota lamentando o episódio, onde relatou que Terezinha, além de atleta de corrida e outras modalidades, incentivou e apoiou inúmeros policiais a buscarem uma vida mais ativa e saudável.
Investigação
Segundo o titular da 13ª Delegacia de Polícia, delegado Luciano Coelho, foram ouvidas testemunhas e pessoas próximas da vítima. O caso continua sendo investigado, mas até o momento nenhum suspeito foi preso. A própria policial chegou a relatar que seriam três criminosos e que teriam escapado em um veículo. O celular dela desapareceu do local. O policial prefere não dar detalhes da apuração, para não atrapalhar o andamento.
— Ela relatou que eram três. Seriam no mínimo dois, já que um estava dirigindo o veículo. Seguimos trabalhando — disse.