Vítima do assalto ocorrido na noite de sexta-feira (28) no restaurante mexicano Pueblo, no bairro Petrópolis, em Porto Alegre, o vereador Valter Nagelstein (MDB) desabafou em suas redes sociais sobre o sentimento de ver a família ameaçada — ele estava com a mulher e os três filhos — por criminosos. Nesta conversa com GaúchaZH contou sobre o caçula ter ficado com as mãos levantadas e, apesar de defensor do porte de armas, afirmou que uma reação naquele local teria causado uma tragédia. Confira trechos da entrevista:
O senhor escreveu estar grato por ninguém ter ficado ferido no assalto.
Muito ruim. A gente está num país em que tu é assaltado e vive dando graças a Deus porque não houve repercussão, ninguém saiu machucado. Isso é errado, né.
Como foi o momento do ataque?
É difícil a gente reunir os filhos — tenho uma filha de 24 anos, uma de 17 anos e o pequeno de oito anos. Na sexta-feira, a Andréa (sua mulher) me passa um Whats: "as crianças estão em casa, vamos no mexicano?". É perto de casa e não é muito caro. Estava há uma meia hora dentro do restaurante. Eu estava de costas e ouvi o anúncio do assalto. Disseram: "isso é um assalto, todo mundo fica tranquilo, a gente não quer machucar ninguém, coloquem as mãos em cima da mesa e baixem a cabeça". Eu olhei para o meu pequeno, ele sentiu o que estava acontecendo e levantou as mãos para cima, Eu disse para baixarem a cabeça e ficarem calmos. Coloquei a carteira e o celular na mesa.
Como sua família reagiu, ficou calma?
Ficou todo mundo rezando, fazendo uma oração baixinho.
Os assaltantes eram agressivos?
Nas mesas em que as pessoas não tinham entendido (que era assalto), eles agrediram as pessoas. Uma menina eu ouvi o estrondo do tapa nas costas dela. Na mesa ao lado da minha começaram a perguntar para um rapaz se ele era policial porque estava com camisa preta com bandeira do Brasil atrás. Era uma camiseta do Black Sabbath, da turnê no Brasil.
O senhor viu arma?
Não, estava de costas e preocupado com as crianças, se não iam se mexer. Também não queria correr o risco de ser agredido na frente da minha família. Quando ele passou na nossa mesa já estava na parte final, já tinha enchido um saco. Pegou só o celular e a carteira e não perguntou por mais nada.
Como foi a reação das pessoas depois que eles saíram do restaurante?
Foram uns dois minutos de tensão porque ninguém sabia se já dava para se movimentar. Eles pediram a chave gritando, queriam fechar o restaurante por fora. Começou um tumulto, as pessoas descontroladas. O cara da camiseta do Black Sabbat começou a gritar. Eu levantei, fui até a porta, dei uma levantada de voz para pedir calma e dizer que já tinha passado. Eu estava sem meu celular, onde tenho o telefone da Nadine (chefe da Polícia Civil, delegada Nadine Anflor) e do coronel Mohr (comandante da BM, Rodrigo Mohr Picon). Eles levaram relógios, celulares, bolsas. Em seguida, muitos já tinham a localização dos bandidos no rastreador, estavam no bairro Rubem Berta.
Minha sensação é de guerra perdida da sociedade contra isso. A gente vive numa guerra. Tu sabe que vai ser assaltado, não sabe o dia nem a hora.
VALTER NAGELSTEIN
Vereador
Nas redes sociais o senhor colocou estar sentindo raiva. Qual seu sentimento?
Minha sensação é de guerra perdida da sociedade contra isso. A gente vive numa guerra. Tu sabe que vai ser assaltado, não sabe o dia nem a hora. Eu sou favorável ao porte de armas, ao direito do cidadão a sua defesa. Eu vi muito no meu Facebook comentários de que se alguém estivesse armado, não seria assim. Mas naquele local, se alguém estivesse armado e tivesse reagido, teria sido uma tragédia enorme. Local inapropriado para uma reação armada.
Isso faz o senhor repensar o apoio ao porte de armas?
Eu continuo achando que é direito do cidadão se quiser poder se defender, mas tem de ter treinamento e técnica. Se eu estivesse armado e reagisse, todas as pessoas na minha volta ficariam na linha de tiro.
Se tivesse arma, reagiria?
De jeito nenhum. Nem recomendo que tivessem saído atrás deles. Quem saísse na porta, ficaria vulnerável a ser atingido. Quando entraram, perguntaram se tinha alguém armado, mas não revistaram ninguém.
O senhor tem porte de arma?
Não tenho. Tive há bastante tempo. Desde que houve alteração para o porte, não tive mais.
Pensa em ter arma e porte?
Não nesse momento.
Como foi depois para sua família, o que conversaram?
A Andréa diz que tem um branco, não lembra. O Mathias lembra bem. Ainda ontem a gente dava risada para tentar distensionar. E ele disse: Mãe, quando saíram eles disseram "obrigada a todo mundo pela colaboração". Mas lá ele chorou bastante quando esse homem da camiseta preta começou a gritar. Agora a gente conversou de não querer mais sair para jantar em restaurante de rua.
Qual foi o pior momento?
Quando olhei e meu filho estava com mãos para cima, as mãos espalmadas na altura da cabeça. Ele ficou todo tempo assim.