Cinco bairros concentram 37% dos furtos de celular na Capital. A cada 10 ocorrências, quatro são registradas no Centro Histórico, Praia de Belas, Cidade Baixa, Floresta e Farroupilha. Juntas, as regiões somam 1.436 das 3.791 ações de ladrões registradas entre janeiro e novembro de 2019 em Porto Alegre. Os dados da Secretaria da Segurança Pública obtidos via Lei de Acesso à Informação (LAI) revelam que, no período, em média, 17 ocorrências de furto e roubo de celulares foram registradas em Porto Alegre.
O levantamento mostra também que o número de furtos de celulares cresceu 20% – de 3.160 em 2018, contra 3.791 em 2019 – nos primeiros 11 meses deste ano em comparação com o mesmo período do ano passado. Na contramão, os roubos baixaram 10%: foram 2.046 registros neste ano, frente 2.273 no período em 2018.
O Centro Histórico é a área mais visada pelos ladrões, tendo 16% de todas as ocorrências de furto e roubo registradas até 30 de novembro. A explicação dada por especialistas para o indicador passa por motivo simples: é o bairro que recebe o maior fluxo de pessoas da Grande Porto Alegre, abrigando terminais rodoviários e metroviários importantes. Essa soma de fatores acaba se tornando o cenário mais propício à ação de ladrões. Na região, nada menos do que 733 ocorrências de furto foram registradas.
— Normalmente, o furto é cometido onde tem grande aglomeração de pessoas: paradas de ônibus, terminal de trem. A vítima nem se dá conta e não consegue identificar o indivíduo que a furtou. Caminhando no meio de outras 50 pessoas, é mais difícil se dar conta. E esta época do ano também é um prato cheio para os criminosos porque as vítimas estão distraídas olhando vitrines — afirma o delegado Cleber Lima.
O policial alerta que na região há pontos ainda mais sensíveis para os crimes, como Terminal Parobé, Travessa Uruguai, Mercado Público e Voluntários da Pátria.
— Algumas quadrilhas especializadas em furto se juntam para observar as vítimas, que são pessoas desavisadas, que estão com o celular à mostra ou que com muita facilidade podem ter seus aparelhos subtraídos das bolsas.
Para o delegado, por não ser ação violenta, em muitos casos, o Judiciário avalia não haver necessidade de prisão.
— Muitos crimes não são um simples furto, mas fomentam uma rede criminosa — pontua.
Em queda, o roubo de celular concentra os esforços da polícia. Segundo o delegado Cleber Lima, titular da 17ª DP, que atende a área central da Capital, em caso de reação da vítima ou agressão do criminoso, a ocorrência pode resultar em morte.
— Nessas ocorrências, temos violência ou grave ameaça à pessoa. É o que nos preocupa mais. Um roubo de celular pode virar latrocínio — afirma.
Segundo a Brigada Militar, 50% dos latrocínios de 2019 em Porto Alegre aconteceram em roubo a pedestre, que tem como principal objetivo levar o celular da vítima. Os cinco bairros que mais registraram assaltos com celular levado até 30 de novembro são, além do Centro Histórico, Partenon, Sarandi, Rubem Berta e Floresta.
Em junho, a assistente administrativa Francine Goulart, 19 anos, teve o celular roubado enquanto voltava para casa do trabalho de ônibus, na linha Cruzeiro, fazendo o trajeto do Centro ao bairro Partenon:
— Um homem entrou no ônibus e anunciou o assalto. Colocou uma arma na minha cabeça e pediu o celular. Fiquei sem reação e entreguei. Só caiu a ficha quando cheguei em casa — lembra a jovem, que tinha comprado o aparelho havia dois meses.
Agora, com novo smartphone, fez seguro para caso de roubo e furto e diz que toma cuidado, especialmente ao circular pelo Centro:
— Há poucos dias, enquanto estava na Travessa Uruguai, vi um homem passar e arrancar o celular da mão de uma menina. Acontece a toda hora.
Receptadores na mira da BM
Na tentativa de coibir os furtos no ponto de maior fluxo de pessoas na Capital, o 9º Batalhão de Polícia Militar (BPM) fez, ao longo do ano, 13 edições integradas de combate a furto, roubo e receptação de celulares em lojas do Centro. Segundo o tenente-coronel Luciano Moritz Bueno, 52% das lojas vistoriadas foram interditadas e 31% das pessoas abordadas foram conduzidas à delegacia por suspeita de receptação.
— Nenhum outro bairro tem a quantidade de pessoas circulando que o Centro Histórico tem. Um celular furtado ou roubado na Restinga ou no Sarandi vai parar no Centro. Identificamos diversas lojas que fazem conserto de celular e, também, receptação.
De olho nos receptadores que atuam dentro do próprio Centro Histórico, o delegado Cleber Lima, da 17ª DP, faz um alerta também à população em geral:
— Várias pessoas vão ao Centro de Porto Alegre, compram celular por preço mais baixo sem se importar com a procedência. Se não houvesse mercado grande, não haveria tanto furto.
Como se proteger
Da ação de bandidos:
- Criminosos procuram vítimas que pareçam vulneráveis. Segundo a polícia, pessoas circulando sozinhas, mulheres, adolescentes e idosos estão entre os principais alvos. O alerta vale para todos, mas quem estiver nesses grupos deve redobrar os cuidados.
- Evite ficar distraído ao celular em locais abertos com grande circulação ou em paradas de ônibus. É nesse momento de distração que os ladrões costumam agir.
- Caso precise atender uma ligação urgente, procure entrar em prédios como comércios ou órgãos públicos.
- Nunca deixe o aparelho em lugares acessíveis, como o bolso traseiro da calça ou bolsos externos de mochilas.
- Mesmo em locais fechados, como shoppings e restaurantes, os aparelhos devem permanecer guardados.
- Mantenha bolsas e mochilas próximas e em locais visíveis.
- Em caso de assalto, não reaja, entregue o celular e informe a polícia assim que possível.
Atenção ao comprar:
- Desconfie de valores abaixo do mercado. Celulares furtados ou roubados que custam R$ 3 mil podem ser encontrados no mercado ilegal por R$ 300 a R$ 500.
- Caso o vendedor diga que o produto é usado, exija a nota fiscal do aparelho.
- Compras pela internet devem ser feitas em sites conhecidos.
- Habilite o telefone na loja. É nessa hora que muitos compradores descobrem que o aparelho está bloqueado por roubo ou furto.
- Quem compra aparelhos roubados, se for descoberto, no mínimo perderá o valor pago, já que terá o celular apreendido. O comprador ainda pode responder criminalmente.
Fontes: Brigada Militar e Polícia Civil