A Polícia Federal (PF) e a Receita Federal deflagraram ontem uma operação em dois extremos do país para sufocar uma rede internacional de doleiros para lavagem de dinheiro e evasão de divisas no Brasil, Uruguai e Paraguai.
Denominada Harpia, a operação com 80 agentes cumpriu 16 mandados de busca e prendeu 10 pessoas — nove temporariamente e uma preventivamente. Entre os detidos estão doleiros e empresários de Santana do Livramento (cinco), Ariquemes, em Rondônia (dois), e Porto Alegre (três). Os detidos na Capital são ligados a casas de câmbio e de turismo — duas na cidade e uma em Novo Hamburgo — que funcionam em shoppings.
Quebras de sigilo bancário revelam que o grupo teria movimentado mais de R$ 1 bilhão entre 2015 e 2019. A sequência da investigação deverá apontar quanto é fruto de sonegação fiscal. Os nomes dos suspeitos e detalhes das investigações não foram revelados.
A investigação revelou que um dos cérebros da rede é um doleiro paraguaio dono de casa de câmbio em Ciudad del Este. Ele era investigado pela PF, pois teria relações com Dario Messer, conhecido como "doleiros dos doleiros", preso em julho, em São Paulo, sob suspeita de movimentar R$ 5 bilhões.
A organização criminosa desarticulada ontem pela PF estaria divididas em três núcleos espalhados pelo Brasil, Uruguai e Paraguai. Dois seriam responsáveis pelo principal esquema: a exportação fraudulenta de madeira para América Central, Canadá e Estados Unidos.
A partir de uma beneficiadora em Ariquemes, de um empresário que vive em Santana do Livramento (um dos 10 presos), as cargas seguiam para o Exterior via porto de Paranaguá (Paraná). A transação ocorria por meio de uma offshore em Rivera (Uruguai), pertencente ao mesmo dono da madeireira que contava com ajuda de doleiros no Uruguai e no Paraguai (veja abaixo).
A investigação
Fisco é chamado de "dólar-cabo", esquema de câmbio paralelo ao oficial no qual doleiros em diferentes países movimentam moedas sem conhecimento das autoridades e sem pagamento de impostos.
— Além da lavagem de dinheiro, estamos apurando se o grupo cometeu crimes ambientais como extração ilegal de madeira na região da Amazônia, descaminho e contrabando — observou o delegado Daniel Mostardeiro Cola, chefe da Delegacia de Repressão à Corrupção e Crimes Financeiros, da PF gaúcha, responsável pela Operação Harpia (assim chamada em alusão a uma das maiores aves de rapina do mundo e que tem o principal hábitat brasileiro na Amazônia).
O delegado explicou que o terceiro núcleo do grupo tinha como sedes Porto Alegre e Novo Hamburgo, integrado por casas de câmbio e de turismo. Empresários e doleiros vinculados a esses estabelecimentos teriam conexões com o núcleo baseado na fronteira com o Uruguai e em Ciudad del Este (Paraguai). As lojas gaúchas se aproveitariam do esquema "dólar-cabo" para transações financeiras irregulares.