Servidores da Polícia Civil só serão convocados pela chefia da corporação uma vez por semana para participar de grandes operações. A chefe da Polícia Civil, Nadine Anflor, classifica como "novo planejamento" as mudanças anunciadas. Negou suspensão ou cortes em ações do gênero.
Atualmente, até mesmo agentes de outros cidades são chamados para atuar em ofensivas. A garantia de que as operações só acontecerão uma vez por semana foi dada em reunião em 30 de julho, com a presença de entidades de classe.
— É um novo planejamento. As operações policiais têm de continuar sendo feitas. A gente quer qualidade, cada vez mais qualidade, não interessa se vão ser grandes ou pequenas. Quero efetividade, quero réu preso e máxima possibilidade de condenação lá na frente. Não adianta a gente prender e no outro dia o criminoso estar na rua, tem de trabalhar para qualificar as nossas investigações — salientou a delegada.
A nova medida já está em vigor e não há prazo para deixar de valer. Conforme o subchefe da Polícia Civil, Fabio Motta Lopes, "uma série de fatores" provocaram o anúncio. O primeiro deles decorre do desgaste físico e emocional no servidor provocado pela participação em grandes operações:
— Quando convoca o policial, normalmente tem de acordar às 3h. A largada da operação acontece muito cedo e aquele policial vai ficar envolvido na operação até 10h, 11h. Se tiver flagrante vai ficar o dia todo.
Segundo o subchefe, a intenção é encontrar um "ponto de equilíbrio" para evitar trabalho excessivo e comprometimento das ações da delegacia de origem daquele agente.
— Repito: a gente não vai deixar de fazer operações. A nossa preocupação é não banalizar demais. Uma operação que acaba sendo desnecessária tem prejuízos para o trabalho rotineiro, que é desenvolvido nas delegacias.
O atraso no pagamento dos salários dos servidores e o custo desse tipo de operação foram outros dois fatores levados em consideração. Segundo Lopes, cada nova operação será avaliada.
— Se tem condições de espaçar cumprimento de mandados de prisão, não precisando ser cumpridos no mesmo dia, tem custo menor que convocar 200 policiais, que às vezes vem do interior do Estado.
Conforme o diretor jurídico do Sindicato dos Servidores da Polícia Civil (Sinpol), Mário Flanir, a convocação seguida de agentes vem ocorrendo devido ao déficit de servidores.
— Não adianta ter quantidade enorme de operações e não ter qualidade. Ter 50 operações e meia dúzia de inquéritos. Tira combustível para fazer atividades diárias para suprir operações — entende Flanir.
Polícia Civil começa capacitações com servidores
Segundo Nadine, a morte do escrivão Edler Gomes dos Santos, em julho deste ano, veio como uma alerta para a corporação. O agente dava apoio em uma operação em Montenegro, no Vale do Caí, quando foi baleado por um tiro de espingarda, desferido de dentro de uma casa.
Devido às circunstâncias da morte de Edler, a Polícia Civil começou nesta semana uma capacitação com os agentes. De acordo com Nadine, a intenção é melhorar a "entrada de local" — quando os servidores se aproximam da área onde vão cumprir mandado.
— A morte do Edler mudou alguma coisa? Sim, deu um sinal de alerta ainda maior. Tínhamos que construir esse curso, não podíamos mais esperar. Com a morte, a gente vai ficar fazendo a mesma coisa ou mudar? — explicou.
A cada dia, 30 agentes vão participar da capacitação, realizada na Academia de Polícia (Acadepol). Inicialmente, o treinamento será oferecido para agentes de Porto Alegre e, na próxima etapa, será levado para o Interior. Conforme o subchefe da Polícia Civil, foram escolhidos os servidores que mais participam de operações.
A ideia do treinamento, segundo Nadine, já era discutida internamente desde o começo do ano:
— A gente está procurando alinhar conhecimentos. Temos muitos policiais que têm 10, 15 anos de corporação e outros que têm um mês. Claro que há uma doutrina na academia, que é passado para todos, mas evidentemente que para alguns isso aconteceu há 15 anos.
Segundo o vice-diretor do Sindicato dos Agentes da Polícia Civil (Ugeirm), Fábio Castro, a realização das capacitações foi um pedido da entidade.
— A gente vê esse movimento com bons olhos — observa.
O diretor jurídico do Sinpol critica como alguns levantamentos de local estavam sendo feitos ultimamente, com uso de imagens de satélite do Google Maps, que são atualizados a cada dois anos. Segundo Flanir, a análise da área ajuda a projetar quantos policiais devem ser empregados e evita riscos.