O que poderia ser um massacre sem precedentes na crônica policial gaúcha começou por volta das 13h30min, no Instituto Estadual de Educação Assis Chateaubriand, em Charqueadas, e foi minuciosamente planejado pelo jovem, que foi apreendido horas após o ataque. Conforme contou em depoimento à Polícia Civil, ele se inspirou no ataque ocorrido em Suzano (SP), em março, quando oito pessoas foram mortas e outras 16 feridas por uma dupla de ex-alunos.
— Ele disse que apanhava de um ex-colega e pretendia matá-lo. Ele então estudou o ataque de Suzano, tanto que usou um instrumento idêntico (uma machadinha) — disse o delegado Marcos Schalmes.
O agressor havia deixado o colégio em 2015, mas todos os dias levava e buscava uma irmã menor para a aula. Foi nessa rotina diária que ele aproveitou para acompanhar o desafeto, monitorando os horários e os deslocamentos dentro do colégio.
Não foi diferente nesta quarta-feira (21). Portando uma mochila com garrafas e combustível suficiente para fabricar cinco coquetéis molotov, ele chegou ao Instituto Estadual de Educação Assis Chateaubriand por volta das 13h. Sentou em um banco e ficou esperando aquela que seria sua vítima. O adolescente viu o ex-colega chegar, mas acabou o perdendo de vista. Irritado, decidiu invadir uma sala de aula fortuita.
Vestindo calça jeans e moletom com um capuz cobrindo a cabeça e um pano no rosto, ele se agachou em frente a porta da turma 171, preparou um coquetel, acendeu e jogou dentro da sala. O artefato explodiu, provocando pânico geral. Assustados, os alunos tentaram sair quebrando as janelas. Outros correram em direção à porta. Foi quando o invasor puxou a machadinha da cintura e passou a distribuir golpes a esmo.
Um adolescente de 12 anos viu que ele avançava em direção a um grupo de meninas e se colocou na frente.
— Ele me acertou nas costas — conta o menino, mostrando o corte profundo na região das costelas, suturado com seis pontos no hospital.
Foi nesse momento que o professor de educação física Juliano Mantovani entrou no corredor e ouviu os gritos. Na porta da sala, deparou com o adolescente segurando a machadinha numa mão e outro coquetel molotov na outra. Aos gritos de “para”, ele conseguiu desarmar o jovem, mas se desequilibrou e ambos caíram.
— Ele não parecia em fúria. Parecia assustado. Tanto que eu tirei a machadinha e ele não reagiu — lembra o professor.
Quando eles estavam se levantando, outro aluno chegou ao local e acertou um soco no adolescente. Mesmo golpeado, ele se desvencilhou e fugiu, pulando um portão interno e saindo pela entrada principal do colégio.
Mantovani também tentou perseguir o rapaz, mas logo foi chamado pelos alunos. Apavorados, eles diziam que os colegas atacados estavam sangrando.
Os feridos foram logo levados ao hospital do município e a Brigada Militar, acionada. Bombeiros da cidade vizinha de São Jerônimo se dirigiram ao colégio.
O agressor foi detido duas horas e meia depois. Em um carro discreto do serviço de inteligência da BM, o adolescente foi levado até a delegacia de Charqueadas. A identificação do suspeito foi possível graças a um casal que passava pela frente da escola e testemunhou a fuga do rapaz. Eles conheciam o adolescente e informaram seu nome aos policiais.
Na delegacia, diante do delegado e um casal de promotores públicos, ele confessou o ataque. O objetivo, afirmou, era matar o desafeto e depois se suicidar. O MP requereu à Justiça a internação provisória do adolescente, cujo destino deve ser a Fundação de Atendimento Sócio-Educativo (Fase).