Com duas armas apontadas em sua direção, uma professora e um carpinteiro tiveram o veículo levado por um trio de criminosos às 19h30min de terça-feira (9) no bairro Tristeza, na zona sul de Porto Alegre. O assalto ao casal fez parte de uma sequência de crimes, que resultaria no assassinato de um policial militar, cerca de oito horas depois. Gustavo de Azevedo Barbosa Júnior, 26 anos, foi morto com um tiro no rosto durante confronto na madrugada desta quarta-feira (10), no bairro Teresópolis.
A professora, de 43 anos, e o marido, de 42, retornavam para casa depois de fazerem compras em um shopping. Com eles, estava a filha, de 23 anos, que voltava do trabalho. Assim que o pai parou o Fiesta, na Rua Alvaro Guterres, a jovem desceu e caminhou na direção do portão. O motorista desceu e passou a retirar as sacolas do banco de trás. Com metade do corpo dentro do veículo, alcançava as compras para a mulher, na calçada. Três homens passaram caminhando e, em seguida, retornaram. O trio usava casacos com capuz.
— Dá a chave! — gritou o primeiro, com a arma apontada para a cabeça da professora, que levantou as mãos e disse que não estava com ela.
Um segundo assaltante apontava outra arma para a cabeça do carpinteiro, enquanto um terceiro já ingressava no carro pelo lado do motorista. O marido da professora entregou a chave em seguida para um dos criminosos.
— Eles gritavam: rápido, rápido. Para sairmos de perto do veículo. Entraram no carro e saíram cantando pneus — relatou a professora.
No veículo, ficaram documentos e um celular. O casal correu para dentro de casa e telefonou para a Brigada Militar. Na mesma noite, registraram o roubo na Polícia Civil. Durante a madrugada, pelo noticiário, a família soube que o veículo havia sido usado pelos ladrões no confronto com a BM, que resultou na morte do soldado.
— Nunca tínhamos sido assaltados assim, com arma no rosto. Foi muito chocante. Uma amiga telefonou porque havia ouvido na Rádio Gaúcha. Ficamos sabendo que era o nosso carro. É muito triste saber que uma vida se foi assim — contou a mulher.
O veículo havia sido adquirido há três semanas pelo casal para que o genro pudesse trabalhar como motorista de aplicativo.
— Graças a Deus, está todo mundo bem na família. Infelizmente perdemos um guerreiro, um jovem — afirmou o carpinteiro, que foi ouvido pela polícia na manhã desta quarta-feira para esclarecer as circunstâncias do roubo.
"Foi muito tiro"
Caseiro de um estabelecimento próximo de onde aconteceu o confronto, um homem de 44 anos acordou com os disparos. O local onde a BM tentou abordar os criminosos fica a poucos metros da Praça Guia Lopes, a uma quadra da Avenida Teresópolis.
— Foi muito tiro. Muito tiro. Só abri o portão porque tinha uma mulher gritando — contou, ainda assustado, no início da manhã.
A jovem, de 22 anos, que estava com o trio de criminosos disse aos policiais que havia sido sequestrada pelo trio, que atirou contra a viatura da BM. Ela teria sido levada pelos três de casa, no bairro Santa Tereza, por volta das 2h.
Sentada na sala de espera da 6ª Delegacia de Homicídio e Proteção à Pessoa (6ª DHPP), na manhã desta quarta-feira, a mãe afirmava que a filha havia sido sequestrada e não tinha envolvimento com os criminosos. A jovem prestava depoimento no local no momento:
— Ela trabalha. Faz faculdade, não é criminosa — disse.
Depois de ser ouvida pelos agentes, a jovem foi liberada.