Moradores das imediações das duas ruas da zona sul de Porto Alegre onde ocorreram pelo menos cinco ataques com substância ácida entre as noites de quarta-feira (19) e a manhã de sexta-feira (21) mudaram os hábitos ao circularem na região.
Na Rua Santa Flora, no bairro Nonoai, onde a Polícia Civil tem conhecimento de três casos, o assunto não sai das rodas de conversa entre os vizinhos. Em um minimercado da região, clientes já chegam perguntando ao proprietário se mais algum vizinho foi atacado. O local fica próximo do trecho onde pelo menos duas mulheres foram agredidas.
No sábado pela manhã (22), a especialista em marketing Elizabeth Cabral, 66 anos, temia cruzar um trecho da via próximo à Rua Doutor Campos Velho para ir ao mercado.
— Fui alertada pela família e pelos vizinhos para tomar mais cuidado. Como eu já tenho mais idade, eu tenho medo de ter que correr. Então, vou ficar mais para o canto esquerdo da rua para que me proteja e não seja atacada pelo homem com o tal líquido — disse.
Elizabeth mora próximo da dona de casa Bruna Machado Maia, 27 anos, que pode ter sido a primeira de cinco vítimas da série de ataques ocorridos nos bairros Nonoai e Hípica. Por volta das 23h de quarta, ela retornava para casa pela Rua Santa Flora, quando viu o criminoso se aproximando de bicicleta.
Bruna chegou a pensar que se tratava de uma brincadeira ou que seria assaltada e tentou mudar de lado na via, mas o homem continuou seguindo os passos dela. A dona de casa foi atacada no trecho entre as ruas Monte Arres e João Maia.
— Ele estava parado na praça, mexendo na cintura e veio na minha direção. Eu vi a garrafa PET de 600 (ml). Quando ele se aproximou, ele falou "olha a água" e tocou uma água em mim. Dei dois passos, aquilo queimou e eu saí correndo. Não vi para onde ele foi — relatou.
A 12 quilômetros do bairro Nonoai, o medo também tomou conta dos moradores da Rua Francisca Prezi Bolognese, no bairro Hípica, onde outras duas pessoas foram atingidas. A office-girl Maria Helena Jacuniak, 61 anos, que mora na via tem evitado sair sozinha nas ruas do bairro desde que soube dos ataques.
— Já não caminho mais pela rua e estou andando mais distante do meio-fio da calçada e olhando para todos os lado, já que o homem teria atacado de carro e de bicicleta — comentou.
Próximo da casa de Maria Helena, o jovem Leonardo Fassina Clock, 17 anos, foi atingido pelo líquido ácido por volta das 6h30min de sexta-feira (21), quando ia em direção a uma parada de ônibus.
Ele viu um carro branco, semelhante a um HB20, arrancando e avançando vagarosamente em sua direção. Imaginando que seria assaltado, Leonardo seguiu caminhando.
— Quando o carro chegou perto de mim, parou do meu lado e atirou um líquido. Ouvi um barulho, um chiado, aí olhei para o meu casaco, e estava todo queimado —lembrou Leonardo.