Um crime silencioso, bem planejado e que traz dificuldades até para experientes policiais investigarem quebrou a manhã de atendimentos a empresários e pessoas de alto poder aquisitivo em uma agência do Banco do Brasil no bairro Moinhos de Vento, em Porto Alegre. O assalto foi cometido na esquina das ruas Padre Chagas e Hilario Ribeiro, em área nobre da Capital.
Quatro assaltantes entraram na agência por volta das 9h30min. Dois deles estavam com o uniforme de uma empresa de segurança — a mesma que presta serviços ao banco. Um outro criminoso vestia terno e o quarto usava roupas discretas.
Segundo o relato de investigadores na cena do crime, o vigilante do banco foi o primeiro a ser rendido. Armado com um revólver, o funcionário da agência sequer conseguiu esboçar reação quando os quatro criminosos apontaram pistolas para ele. O segurança entregou a sua arma e seguiu as orientações dos assaltantes — que colocaram luvas hospitalares e máscaras cirúrgicas que retiraram dos bolsos.
Em seguida, o alvo dos ladrões foi o gerente do banco. Com ele rendido, o trabalho da quadrilha foi apenas ordenar aos outros funcionários que subissem para o segundo andar da agência e exigir silêncio até que o assalto terminasse.
Antes de fugir, a quadrilha pegou os computadores que armazenavam as principais provas do crime: as imagens do circuito interno do banco. A câmera do condomínio ao lado não flagrou a ação. Não há testemunhas além dos funcionários.
—Nem percebi. Para nós, era uma manhã normal e só notamos algo errado quando apareceu a polícia e a imprensa — relatou a funcionária de um salão de beleza ao lado do banco, que preferiu não se identificar.
A Brigada Militar só foi avisada pouco depois das 10h e enviou policiais das rondas ostensiva em motocicletas (Rocam). Ao chegar no local, os PMs não tinham mais o que fazer a não ser ouvir as vítimas, colocar uma fita isolante de cor amarela e preta ao redor da agência e comunicar a fuga aos seus colegas via rádio. A informação é de que os ladrões tenham escapado em um Gol prata, sentido Zona Norte.
Um fato que chamou muito a atenção dos PMs foi o relato de que a quadrilha usou um controle remoto para abrir a porta do banco — sem quebrá-la com marretas ou tiros, como ocorre no Interior. O comandante do 9º Batalhão de Polícia Militar, Luciano Moritz Bueno, confirmou a informação.
— Um veículo estacionou em frente à agência, um Gol, de cor cinza. E desceu uma pessoa com roupa de vigilante e um controle, que abriu a porta. Logo em seguida, entraram os outros criminosos — relatou o oficial.
A curiosidade era tanta que pessoas que passavam pela rua paravam para perguntar a repórteres que estavam no local sobre o que havia ocorrido no banco. A maioria ficou surpresa, já que o clima costuma ser calmo no bairro e a presença de policiais militares é comum e perceptível. Outros bancários que chegavam para trabalhar aguardavam do lado de fora, aflitos sem saber se alguém havia ficado ferido — o que não ocorreu.
— Vi que um grupo de funcionários que já conheço parou aqui na frente do prédio e começou a mexer no celular. Ofereci ajuda e me contaram o que houve — detalhou um porteiro.
No momento do roubo, havia uma viatura da BM a 500 metros do banco. Logo em seguida, um helicóptero da Polícia Civil sobrevoou a área da agência.
A polícia confirmou que o grupo levou dinheiro, mas não informou a quantia. Até o momento, nenhum assaltante foi localizado nas buscas coordenadas pela BM.
O delegado João Paulo Abreu, da Delegacia de Roubos do Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic), diz que os policiais estão debruçados sobre o assunto desde que o roubo ocorreu para identificar os criminosos. Segundo ele, a forma de agir da quadrilha não surpreende, já que ataques semelhantes ocorreram "várias vezes" na Capital.
O policial pede que informações que possam auxiliar na investigação sejam repassadas pelo telefone 0800 510 2828. O sigilo é garantido pela polícia.
Outro assalto parecido
No dia 16 de abril, também às 9h30min, uma agência do Banco do Brasil foi assaltada de forma semelhante na Avenida A.J. Renner, no bairro Humaitá, na zona norte de Porto Alegre. Naquela oportunidade, o gerente também foi rendido quando chegava na agência e o crime foi silencioso.
Inspetores que deram início à investigação do roubo no Moinhos de Vento confirmaram que suspeitam de ligação entre os crimes. No entanto, dizem que é cedo para ter a confirmação de que é o mesmo bando.