Em dias de chuva, agentes da 2ª Delegacia de Polícia de Novo Hamburgo, no bairro Santo Afonso, no Vale do Sinos, precisam lidar com a água que escorre pelo forro. As paredes úmidas mudaram de cor com o tempo e exalam odor de mofo. Rachaduras dividem paredes das salas nas quais os policiais investigam crimes e atendem vítimas. A situação precária levou o sindicato que representa escrivães, investigadores e inspetores a pedir a interdição do prédio ao Ministério Público (MP). Um estudo da chefia da Polícia Civil apontou que a unidade é uma das delegacias do Estado em piores condições.
A fachada do imóvel de dois andares na Rua Montevidéu dá sinais de deterioração, com a pintura descascada, rachaduras e ferrugem. Mas não revela a parte interna do prédio, em situação bem mais crítica. Mobílias destruídas, fiação exposta, infiltrações, parquês soltos, cortinas improvisadas e paredes cobertas de limo e umidade são rotina para policiais e para quem precisa do serviço na delegacia.
Apesar de não estar atendendo em sistema de plantão para registro de ocorrências, a sede recebe vítimas de crimes para serem ouvidas ali, proprietários em busca da liberação de veículos envolvidos em acidentes, entre outras demandas. Na parte dos fundos do prédio, os policiais ocupam salas improvisadas, na que é considerada a "área em melhores condições". Mas ali também há rachaduras nas paredes.
— É o retrato do abandono da segurança pública. Estão todos expostos a doenças, como leptospirose. Além disso, as pessoas que chegam aqui também estão em risco. Que condições uma vítima têm de ser atendida aqui? E como um policial consegue trabalhar nessa situação? —questiona Isaac Ortiz, presidente da Ugeirm Sindicato, que representa a categoria.
No documento, que será encaminhado ao Ministério Público (MP) nesta semana, a entidade pede que sejam tomadas medidas imediatas para interdição do prédio. O material cita o risco de epidemia por doença infectocontagiosa, ausência de Plano de Prevenção e Proteção Contra Incêndio (PPCI), de alvará sanitário e de condições adequadas. Alerta ainda para a falta de saída de emergência e o risco que as rachaduras representam para a estrutura do prédio.
— É inaceitável manter policiais trabalhando nessa situação. Há perigo também para quem procura atendimento. Por isso, estamos buscando a interdição, até que se tenha solução definitiva — critica o vice-presidente da entidade, Fábio Castro.
O sindicato se reuniu com policiais na semana passada e ouviu as reivindicações. Depois, decidiu encaminhar o pedido de interdição ao MP. O documento também será remetido para os bombeiros, Defesa Civil e prefeitura de Novo Hamburgo.
— Não imaginei que era assim. A gente paga imposto, podia ter um lugar melhor. Mas ninguém quer que feche, claro. Tem de colocar num lugar melhor — defende um morador, de 28 anos, que esteve na delegacia pela primeira vez, em busca de um documento.
Mudança prevista, mas ainda sem data
Em fevereiro, mapeamento da Polícia Civil apontou a 2ª DP de Novo Hamburgo como uma das delegacias gaúchas em situação mais preocupante.
— É uma das mais complexas no Estado. Isso por conta das condições precárias em que se encontra. Lá a delegacia não pode permanecer. Precisa de bom atendimento para o cidadão e condições para os policiais — reconhece a chefe da Polícia Civil, Nadine Anflor.
Segundo a delegada, embora a constatação tenha sido feita em fevereiro, foi necessário tempo para localizar outro imóvel nas proximidades em condições de abrigar a delegacia e dentro do orçamento disponível. Nos últimos dias, foi feito acerto para que outro imóvel seja alugado.
— Não podemos tirar do bairro para não prejudicar o atendimento à população. É uma região complicada para identificar imóveis. Não há prédio próprio do Estado, que a gente possa reformar. Conseguimos identificar dois imóveis e estávamos em negociação. Mas agora está tudo certo. Vamos conseguir fazer essa mudança — garante.