O corpo da contadora Sandra Mara Lovis Trentin, 48 anos, deve ser sepultado neste fim de semana, mais de um ano e três meses depois de ele desaparecer em Palmeira das Missões, na Região Noroeste. A família pretende realizar o enterro na tarde de sábado (13) em Boa Vista das Missões, junto ao túmulo do pai dela. Os restos mortais, localizados no fim de janeiro, estavam no Instituto-Geral de Perícias (IGP) para análise. Dois são réus pela morte, entre eles o marido da vítima, o vereador Paulo Ivan Baptista Landfeldt.
Nesta semana, o Ministério Público (MP) teve acesso aos laudos realizados pela perícia. A primeira confirmação foi feita pela análise da arcada dentária. O exame apontou que os restos mortais são da contadora. Segundo o promotor Marcos Eduardo Rauber, a possibilidade de morte por disparo de arma de fogo não foi descartada pelos peritos. No entanto, na cova e nos restos mortais não foi encontrado nenhum projétil.
— O laudo aponta que na situação como o corpo foi encontrado — o local, a forma como estava posicionado — é possível se tratar de morte por terceiro, com uso de arma de fogo. O laudo não descartou que a morte possa ter sido causada por arma, mas também não afirmou que foi, até porque o corpo está esqueletizado— explica o promotor.
A causa da morte não pode ser apontada com precisão, em razão do tempo transcorrido entre o óbito e a localização da ossada. Ainda assim, para o MP, essas análises não contradizem o que aponta a denúncia. Sobre a falta do projétil, o promotor argumenta que existem diferentes possibilidades: uma delas que a bala tenha transfixado o corpo ou que a ossada tenha sido transferida de local nesse tempo.
— No nosso entendimento continua perfeitamente sustentável a acusação de que a morte se deu mediante disparo de arma de fogo (como relatado no primeiro depoimento de um dos réus). O corpo foi encontrado praticamente um ano após a morte. A perícia não tem como dizer a causa. As perícias vão ao encontro da acusação porque não apontam outra causa mortis.
Outro laudo, ao qual o promotor teve acesso nesta sexta-feira (12), indica que a morte de Sandra ocorreu há mais de seis meses, devido ao estado em que se encontrava o cadáver. Para Rauber, isso também é compatível com a versão de que a contadora foi morta pouco tempo depois de desaparecer. A perícia analisou ainda a blusa usada pela vítima. Na peça havia um orifício, que para a acusação seria compatível com disparo de arma de fogo.
— Essa resposta ainda não veio. O que veio é que quando foi usado luminol (para verificar presença de sangue) deu positivo. Mas, quando foi feito teste mais específico para identificar vestígios de sangue, foi negativo. Mas na nossa avaliação não quer dizer que não havia sangue. Esse corpo ficou exposto por muito tempo, em cova rasa, o que pode ter eliminado esses materiais orgânicos.
Do desaparecimento à descoberta de crime
Sandra residia em Boa Vista das Missões com o marido, Paulo Landfeldt, e três filhas. Ainda era mãe de um jovem, de um relacionamento anterior. Em 30 de janeiro do ano passado, seguiu até Palmeira das Missões para resolver questões de trabalho. Nunca mais retornou. A caminhonete foi encontrada no mesmo dia.
Ao longo das investigações, um suspeito foi preso e confessou ter matado Sandra com um tiro no peito, a mando do marido dela. Ismael Bonetto, 22 anos, mudou de versão uma semana depois. Ele alega que tentou extorquir o vereador e que não teve envolvimento na morte. Landfeldt, que chegou a ser preso, mas atualmente responde ao processo em liberdade, também nega que tenha mandado matar a esposa.
Os dois se tornaram réus por homicídio qualificado e ocultação de cadáver. O corpo foi encontrado em um matagal a cerca de 40 quilômetros de onde ela desapareceu. Cartões bancários em nome de Sandra também estavam no local.
A Promotoria aguarda os laudos restantes para decidir se fará um complemento à denúncia, que foi encaminhada à Justiça antes do corpo ser encontrado. Caso isso ocorra, a instrução do processo pode ser reaberta, inclusive com o depoimento de novas testemunhas.